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A falta que faz o ensino da ciência para crianças

Por Ana Lucia Moura, do site da Universidade de Brasília (Unb)

Pelo menos 86 bilhões de neurônios interligados formam o sistema nervoso humano. Mais de 85% dessas conexões neurais formam-se nos primeiros cinco anos de vida. Os neurocientistas sabem disso há mais de uma década. Entendem que as primeiras experiências determinam a capacidade de aprender ao longo da vida. Mas esse conhecimento não trouxe avanços práticos para a educação no Brasil.
 
É o que apontaram pesquisadores reunidos nesta semana em seminário sobre difusão científica como fonte para a educação. No encontro, organizado pelo Instituto de Estudos Avançados do campus da Universidade de São Paulo (USP) na cidade de São Carlos, eles afirmaram que a primeira infância ainda é ignorada no sistema educacional brasileiro.
 
O coordenador de comunicação institucional da UnB, professor Isaac Roitman, lembrou que a capacidade de absorver informações, se não estimulada nessa fase da vida, dificilmente é recuperada mais tarde. “Aqueles que recebem mais estímulos cognitivos na primeira infância chegam à escola em melhores condições de aprender”, explicou. E defendeu a educação científica já na primeira infância.

“A ciência é o melhor caminho para se entender o mundo. Ela desenvolve habilidades, define conceitos, estimula a criança a observar, questionar, investigar e entender de maneira lógica os seres vivos, o meio em que vivem e os eventos do dia a dia”, afirma. “Mostrar a ciência aos pequenos, que já são cientistas por natureza, é garantir o interesse pelas pesquisas no futuro”.
 
Roitman destacou que a educação científica tem recebido alguma atenção nos últimos dez anos e enumerou alguns projetos de ensino de ciências a alunos do ensino fundamental e médio. Um exemplo é o Mão na Massa, que acontece no próprio Centro de Difusão Científica e Cultural de São Carlos, onde ocorreu o encontro. “Mas para os pequenos não há nada. Imaginem quantos talentos não desperdiçamos só aí”, indagou o professor, que apresentou durante o encontro a revista Darcy, da UnB, como exemplo de projeto voltado para estudantes do ensino médio.
 
A professora Ivone Mascarenhas, da USP São Carlos, organizadora do seminário e coordenadora do projeto de divulgação científica Ciência na Web foi além. “Não negligenciamos a ciência somente na primeira infância, quando ela representa um potencial a ser explorado, mas também quando está pronta e acabada. Nossos melhores pesquisadores não ficam aqui. Não há nada para eles. A maioria está fora do Brasil”, afirmou.

A editora-executiva da revista Ciência Hoje, Alicia Ivanissevich, defendeu pesquisas, desenvolvimento e implementação de atividades paradidáticas para meninos e meninas de zero e cinco anos como jogos e brincadeiras que despertem a curiosidade da
criança para a ciência e a estimule a pensar criticamente. “Temos de investir na formação das crianças desde muito cedo. Os países que estão no topo do ranking dos melhores em educação constroem educação científica desde que a criança começa a se relacionar”, disse.
 
Ampliar o ensino infantil e incluir o despertar para a ciência não é o único caminho apontado pelos especialistas para difundir a ciência. Capacitar professores, valorizar a educação enquanto política pública, aproximar cientistas de jornalistas e investir em projetos de divulgação da ciência, principalmente pela internet, são outras ferramentas consideradas importantes. “Tratamos nossos alunos hoje como tratávamos há 50 anos”, criticou Isaac Roitman. “Precisamos de uma escola que seja atrativa, que possa atrair para a ciência e a arte”, defendeu a secretária de Educação do município de São Carlos, Lourdes Moraes.
 
A falta de atratividade das escolas foi, inclusive, apontada pela professora Lúcia Williams do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos e coordenadora do Laboratório de Análise e Prevenção da Violência, como uma das causas das agressões no ambiente escolar. “Há um problema grave de violência nas escolas e ela não ocorre só em consequência das relações estabelecidas entre pais e alunos e entre os próprios alunos, mas entre escola e alunos”, disse.
 
Lúcia detalhou, durante o encontro, o conceito de bullying, descreveu de que maneira ele ocorre e apresentou pesquisas desenvolvidas nas universidades brasileiras e no exterior sobre o tema. “Os dados mostram que o bullying acontece em todos os colégios, mas muitos deles fazem vista grossa, o que contribui ainda mais para essa prática”, comentou.

Ela criticou a maneira como os jornais tratam os fatos relacionados à violência nas escolas e defendeu uma abordagem científica em matérias também de educação. “A mídia nos ajuda, mas se torna um complicador quando trata a violência escolar de maneira sensacionalista, sem responsabilidade, espalhando medo”, afirmou. “É importante que o jornalista se preocupe sempre em falar com base em pesquisas, ver qual o referencial científico. No caso do bullying, é importante mostrar como acontece e os efeitos que o provoca e, fundamentalmente, insistir na prevenção”, argumentou.
 
O jornalista Denis Burgierman, que trabalhou por dez anos na revista Super Interessante e atualmente tem um projeto de divulgação científica pela internet, o Webcitizen, enfatizou que a ciência não é apenas um tema de cobertura jornalística. “A ciência é um método e está em todos os lugares, na economia, na política, na saúde, na educação. É possível divulgar ciência em qualquer área do jornalismo”, explicou. “A ciência está em tudo. Sem a ciência e a tecnologia não teríamos acesso a simples serviços”, completou Alicia Ivanissevich, da Ciência Hoje.
 
Ela destacou as dificuldades de se divulgar ciência no Brasil e defendeu a difusão do conhecimento. “No Brasil temos uma missão redobrada quando falamos em divulgação científica, porque não temos tradição de leitura, faltam professores capacitados, poucos cientistas valorizam a divulgação de seus trabalhos e a mídia não vê a ciência como um tema lucrativo”, explicou. “Se levarmos a ciência para as escolas de ensino infantil, criaríamos um pensamento crítico que dispensaria em série de esforços futuros que hoje estamos discutindo”, concluiu.

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Neusa
Neusa
13 anos atrás

Achei excelente a matéria e digo mais, quantas escolas particulares ou públicas de nível fundamental ou médio, possuem Laboratório ou Salas de Leitura conta-se nos dedos. Hoje se vê que as escolas privadas, que não possuem S. de Leituras pedem a leitura de livros bimestrais, para minimizar a situação. Nas públicas, temos mais salas de leituras, mais não a sistematização de leitura; de livros cientificos menos ainda. A frequencia dos alunos, dependerá exclusivamente do acervo e da capacidade de mobilização, dos professores em trazer estes alunos até sala de leitura Quanto aos laboratórios, conta-se nos dedos e todos nós professores sabemos o quanto o experimento, é importante, para aplicação da aprendizagem. É preciso trazer estes experimentos laboratoriais, técnicos e científicos para o dia a dia escolar, funcionando como instrumentos de aprendizagem e não apenas processos expositivos, (feiras de Ciências ou integradas) apenas uma vez ao ano. E posso afirmar, como educadora, temos muitos talentos entre nossos alunos, basta ver os que conseguem entrar nas escolas técnicas de alto nível. Enquanto nossos alunos representarem números tanto financeiros, e estatísticos, a qualidade na aprendizagem, estará comprometida.

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