O jornal na sala de aula

“Crianças e jovens não precisam de uma formação para usar quaisquer dispositivos de comunicação, isto acontece de maneira empírica. Eles têm o manuseio dos multimeios bastante naturalizado. O que precisam é de uma orientação para a desnaturalização do processo comunicacional”, destaca Wendel Freire.

   

Por Marcus Tavares

O jornal carioca O Dia promove no dia 16 de setembro o Encontro Nacional Mídia e Formação do Leitor. O evento faz parte do projeto O Dia na Sala de Aula, que existe há 14 anos. Voltado para as escolas públicas do município do Rio, o programa visa à constituição de um leitor crítico e antenado com as mudanças do mundo de hoje.

“Cada escola costuma enviar um ou dois educadores aos nossos encontros. Em seguida, visitamos as escolas e fazemos oficinas de midiaeducação, gêneros textuais, hemeroteca, entre outros temas, com o corpo docente inteiro”, explica Wendel Freire, coordenador do projeto.

Em entrevista à revistapontocom, Wendel conta mais detalhes e antecipa que as inscrições do programa para o próximo ano estarão abertas a partir de outubro.

Acompanhe:

revistapontocom – No que consiste o projeto O Dia na sala de aula? Quais são os objetivos? Existe há quanto tempo? Que tipo de trabalho é realizado?
Wendel Freire –
O Dia na Sala de Aula é um Programa de Jornal e Educação que, há 14 anos, trabalha colaborativamente com escolas públicas do Município do Rio de Janeiro. Além de levar a mídia impressa às salas de aula, com o trabalho focado na formação de um leitor múltiplo, o programa oferece oficinas de capacitação para educadores e eventos educacionais em torno de temas relevantes para a prática pedagógica. Entre mesas, oficinas e palestras, o diálogo entre Educação e Comunicação acontece tendo sempre em vista a construção de um espaço escolar não só repleto de leitores, ouvintes e espectadores críticos, mas também de produtivos emissores de textos diversos. Para tanto, trabalhamos na perspectiva da midiaeducação com o incentivo ao uso da mídia na dinamização de conteúdos curriculares, mas, também, à problematização da produção midiática e à produção de mídias escolares – sejam jornal mimeografado, jornal-mural, blog, rádio com microfone e caixa de som ou podcasting.

revistapontocom – De que forma as escolas participam?
Wendel Freire –
Cada escola costuma enviar um ou dois educadores aos nossos encontros, que acontecem, geralmente, no auditório do jornal O Dia. Visitamos as escolas e fazemos oficinas (midiaeducação, gêneros textuais, hemeroteca, entre outros temas) com o corpo docente inteiro. Quanto aos resultados, podemos citar o aumento do repertório temático e linguístico, do poder de síntese e de argumentação dos estudantes de classes que desenvolvem projetos com mídia. Eleva-se, igualmente, o protagonismo dos alunos que passam a produzir textos não para a gaveta do professor, mas para comunicação com outras turmas e até outras escolas. Há comunidades escolares que procuram dar vida ao seu cotidiano desenvolvendo projetos próprios – algo perfeitamente legítimo e possível – e outras que buscam unir a energia alheia às suas. O que não podemos é deixar o cotidiano escolar entregue a esmo.

revistapontocom – Qual é o papel do jornal na constituição de conhecimentos e valores de crianças e jovens?
Wendel Freire
– Crianças e jovens não precisam de uma formação para usar quaisquer dispositivos de comunicação, isto acontece de maneira empírica. Eles têm o manuseio dos multimeios bastante naturalizado. O que precisam é de uma orientação para a desnaturalização do processo comunicacional, afinal tal processo não se dá como fruta no pé. O jornalismo, e a sociedade como um todo, só tem a ganhar com o fomento ao acesso informativo, com a formação de leitores críticos, em plenas condições de exercer sua cidadania. A despeito da novidade que há no poder de emissão, possível com a mídia pós-massiva, pensar as transformações informacionais e comunicacionais que se desenrolam com a cultura digital é papel, também, do jornal impresso. O movimento de influências se dá tanto do meio digital (nova mídia) para o meio analógico (mídia tradicional) quanto o contrário.

revistapontocom – O projeto mantém então um diálogo direto com a redação do jornal O Dia? Existe um canal de comunicação?
Wendel Freire –
Abrimos negociações importantes. Já tivemos participações de jornalistas em nossos encontros e, certamente, iremos perpetuar este encontro. O que ainda não temos, mas estamos buscando, seja impresso, seja online, é um espaço para falar de bem-sucedidas experiências midiaeducativas em ambientes escolares e dar voz a crianças e jovens da classe popular.

revistapontocom – O projeto realizará o Encontro Nacional Mídia e Formação do Leitor. É o primeiro encontro neste sentido? Qual é a intenção?
Wendel Freire
– Ao longo de sua existência, o projeto realizou 14 edições da Jornada de Educação, um formato que atravessava diversos temas abordados em palestras, oficinas e exposições. Há quatro anos, passamos a promover um espaço para a discussão de cada tema, sem abandonar a complexidade, sem compartimentar saberes, mas dando um tempo maior para as discussões. A Jornada de Educação Inclusiva, por exemplo, abriu um espaço significativo para a reflexão sobre uma rede complexa de questões e se mostrou uma oportunidade preciosa de capacitação dos educadores para a prática includente. No mesmo período, passamos a convidar autores, educadores e pesquisadores para outros momentos, outros encontros, onde são abordados Alfabetização, Avaliação, Gestão Democrática e outros pontos fundamentais do âmbito pedagógico, eleitos em comum acordo entre o nós e os professores. O Encontro Nacional Mídia e Formação do Leitor [inscrições pelo e-mail [email protected]] é o primeiro de uma série (confira a programação). Minha expectativa é que os educadores reunidos nesse evento tragam contribuições para o universo escolar em questões como: Quanto e quando “interatividade”, “dialogicidade” e “hipertextualidade” ultrapassam a mera pronúncia dos termos, tornando-se realidade, através de práticas, como interpretação e avaliação crítica de textos e sua produção? Espero que, futuramente, o Encontro se realize em uma franca parceria entre O Dia na Sala de Aula e outros tantos projetos com preocupações semelhantes às nossas. Trabalharei para isso.

revistapontocom –  As escolas que tiverem interesse de participar do projeto O Dia na Sala de Aula …
Wendel Freire
– Àquelas unidades escolares que desejarem participar do programa, em 2011, deixo nosso contato [telefones (21) 2222.8197 (21) 0800.218.218]. Abriremos as inscrições no mês de outubro. Lembro que o Programa atende somente a escolas da rede pública.

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Mª da Penha
Mª da Penha
14 anos atrás

Achei bastante interessante este projeto, pois o jornal é de fácil acesso, mais barato e prático. Trabalho em escola pública e posso sentir a necessidade de nossos alunos em se manterem informados. Através do jornal escrito temos um leque infinito de opções de trabalho e informações ao alcance das mãos. Este tarabalho deve ser mais divulgado, pois acredito que nem todos os professores de âmbito público, tem conhecimento deste projeto.

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