12ª edição do International Uranium Film Festival abre espaço para produções femininas

De 18 a 28 de maio, no Museu de Arte Moderna.

Por Marcus Tavares

Vem aí mais uma edição do International Uranium Film Festival. Trata-se da 12ª versão que vai exibir filmes de 15 países. Entre documentários e ficções, muitos filmes estreiam pela primeira vez no país.  É o maior festival de cinema no mundo dedicado a exibir filmes que abordam questões relativas à Era Atômica/Nuclear, como energia nuclear, mineração de urânio, armas nucleares e os riscos da radioatividade. Além da exibição de “filmes atômicos” de várias partes do mundo, o Uranium Film Festival também é um grande encontro de cineastas, artistas, cinéfilos, pesquisadores, jornalistas, professores, estudantes universitários, secundaristas e sociedade em geral, provenientes do Brasil e do exterior. É um espaço aberto de debates e trocas de ideias, acolhendo a todos. Independentemente de ser a favor ou contra ao uso da energia nuclear, todos precisam ser informados sobre os seus riscos. O evento vai acontecer de 18 a 28 de maio, no Museu de Arte Moderna. A entrada é gratuita.

Um forte candidato ao prêmio do festival 2023 é o bem-humorado documentário de longa-metragem, “Missão Buker Intercontinental” (Inter-Continental Bunker Mission I.C.B.M.), do jovem cineasta sueco-coreano Julian Vogel que virá ao Rio apresentar seu longa pessoalmente. Julian quer abrir os olhos dos mais jovens, público pós-Guerra Fria, para a ameaça implacável que a energia e armas nucleares representam para a nossa sobrevivência como espécie, desde a sua criação, há 78 anos.

Em entrevista à revistapontocom, a fundadora e diretora do Uranium Film Festival, Márcia Gomes de Oliveira, avisa que “os riscos da radioatividade continuam os mesmos, talvez sejam maiores do que nunca com a ameaça de uma guerra atômica explodir devido a invasão russa na Ucrânia. Observe que cem mil anos é o tempo para o lixo atômico deixar de ser radioativo, esse é o tempo que o Uranium Film Festival precisa continuar existindo!”.

Márcia e o cineasta Lech Majewski no Uranium Film Festival Rio 2022. Foto de Ana Clara Vaz

Professora da Escola Técnica Estadual Adolpho Bloch, da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), vinculada à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação do Rio de Janeiro, Márcia diz que o evento já é um marco no calendário dos festivais do gênero, mas reitera que sofre com a falta de patrocínio.

O festival oferece gratuitamente, em parceria com a Unifaetec, certificado de horas complementares em atividade cultural. A programação completa pode ser vista aqui: https://uraniumfilmfestival.org/pt-br/programacao-mam-rio-2023

Acompanhe a entrevista:

revistapontocom – Como surgiu a ideia do festival?
Márcia Gomes de Oliveira
– Em 2006, eu e Norbert Suchanek tivemos a ideia de criar um festival sobre a temática que, de fato, se concretizou, em 2010, com a criação do International Uranium Film Festival. Naquela época, o acidente nuclear de Chernobyl (1986) e o acidente radiológico de Goiânia (1987) estavam praticamente esquecidos. E o Governo brasileiro começava a construir a terceira usina nuclear e um submarino nuclear, ambos no Estado do Rio de Janeiro. Além disso, o governo planejava aumentar a mineração de urânio. Mas poucas pessoas no Brasil sabiam que o urânio é o combustível radioativo das usinas nucleares e das bombas atômicas. Queríamos fazer algo a respeito dessa desinformação. A população brasileira de um modo geral ignora os riscos da radioatividade que podem estar presentes no seu cotidiano, correndo o risco de repetir o que aconteceu em Goiânia há décadas, por exemplo. Era necessário popularizar a temática nuclear e nada melhor do que o cinema para fazer isso. Então, fundamos o International Uranium Film Festival, o primeiro festival de cinema do mundo sobre toda a cadeia de combustível nuclear e riscos radioativos.

revistapontocom – Da primeira à 12 ª edição, o objetivo continua o mesmo?
Márcia Gomes de Oliveira
– Sim. Os riscos da radioatividade continuam os mesmos, talvez sejam maiores do que nunca com a ameaça de uma guerra atômica explodir devido a invasão russa na Ucrânia. Observe que cem mil anos é o tempo para o lixo atômico deixar de ser radioativo, esse é o tempo que o Uranium Film Festival precisa continuar existindo!

revistapontocom – É possível medir o impacto do festival sobre o público?
Márcia Gomes de Oliveira –
Nossa experiência de levar o festival para vários países nos mostra um grande impacto sobre o público aqui no Rio e no exterior. Quem vai ao festival nasce de novo, pois descobre o mundo invisível da Era Atômica.

revistapontocom – Mas ainda faltam espaço e interesse sobre o tema?
Márcia Gomes de Oliveira –
Não, só falta patrocínio. Sem patrocínio, não há a divulgação necessária.

revistapontocom – Quais são as novidades deste ano?
Márcia Gomes de Oliveira –
A grande novidade este ano é o olhar feminino sobre as consequências do uso da energia nuclear ao redor do mundo. Dos 16 filmes selecionados, sete são dirigidos ou produzidos por mulheres. Dois destes filmes tratam dos movimentos de mulheres e seu ativismo. O filme “Costurar para Dizer” (Sew to Say, 2022, 69 min), da espanhola Rakel Aguirre, mostra a história pouco conhecida do acampamento de paz na Inglaterra, ocupado somente por mulheres durante 19 anos em protesto contra as armas nucleares. Outro destaque é o filme “Radioativo: As mulheres de Three Mile Island” (“Radioactive: The Women of Three Mile Island, EUA, 2022, 77 min) de Heidi Hutner, sobre o pior acidente nuclear da história dos Estados Unidos, com o derretimento parcial do reator da usina nuclear. Outro destaque é o filme de abertura, no dia 18 de maio, “Na rota do vento” (Downwind, EUA, 2023), novo documentário dos cineastas Mark Shapiro e Douglas Miller, sobre o efeito das 928 bombas atômicas detonadas em Nevada, nos Estados Unidos, entre 1951 e 1992. Na década de 1950, vários sucessos de bilheteria de Hollywood foram filmados na rota do vento destes testes atômicos, incluindo filme com o famoso John Wayne. O festival também terá uma sessão que trata do debate atual do uso da energia nuclear como uma alternativa à mudança climática, apresentando o ponto de vista pró-nuclear.

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