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A casa de Anne Frank

Por Ana Miranda
Romancista e atriz
Artigo originalmente publicado no jornal O POVO

Aqui perto fica a casa de Anne Frank. Alegre, travessa, a menina sonhava ser escritora. Nos dois anos em que esteve escondida ali com a família para escapar aos nazistas que ocupavam a Holanda, escreveu o diário que se tornou um dos livros mais lidos na história mundial e Anne, um símbolo para a humanidade. Todos os dias há uma longa fila à porta da casa transformada em museu. Pessoas de todo o mundo ali vão como turistas, muitas vezes distraídas, mas saem com uma luz na mente.

É doloroso percorrer os aposentos escuros, com passagem secreta, e imaginar a menina inocente vivendo uma não existência, em contato com o mundo apenas por notícias no rádio, alarmes, sons de bombardeios alemães, combates aéreos… Vêm à nossa lembrança as imagens terríveis dos campos de concentração, dos montes de sapatos, dos ossos… da maldade humana num de seus momentos mais trágicos.

A Holanda celebra intensamente, todos os anos, o dia da libertação, 5 de maio de 1945. Fui assistir a uma cerimônia numa praça onde estavam o rei, a princesa, artistas, sacerdotes de variadas religiões, militares, gente de muitas etnias, países e uma multidão convocada a fazer três minutos de silêncio, momento que criou uma mutualidade alusiva e comovente. Homenagearam as vítimas das guerras com discursos fortes e nítidos contra o nazismo, o racismo, a xenofobia, o belicismo, a banalização do mal. Aprenderam a farejar o nazismo de longe e o controlam com severidade.

O nazismo não foi apenas um momento histórico de horror, mas um sentimento que desliza nos subterrâneos da humanidade e vez ou outra retorna à superfície. Tem a ver, talvez, com os instintos primitivos dos animais predadores que saem a caçar à noite e foi, desde os mais antigos manuscritos, representado por imagens demoníacas. A civilização é o poder de controlar os ímpetos maus e pacificar a humanidade. Nazistas baseiam-se na crença da própria superioridade e se dizem paradigma das virtudes, que são enviados divinos com uma missão, vão levar uma nação ao poder e à glória. Para isso, cultivam a brutalidade, a violência, o ódio e a morte. Desprezam a inteligência, o pensamento, a arte. Veem questões complexas de modo simplista, usam linguagem apaixonada para despertar instintos cruéis, misturam emoção, religião e política, penetram a mente das pessoas com falsidades, usam o terror e o medo.

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