Por Marcus Tavares
Junte três das principais emissoras de TV dos EUA. Imagine que cada uma delas tenha produzido uma programação ininterrupta, 24 horas por dia, nos últimos 60 anos. A conta dá aproximadamente cerca de 1,5 milhão de horas. Agora contabilize o número de vídeos/horas postados no You Tube. O professor Michael Wesch, da Universidade de Kansas (EUA), fez os cálculos. Segundo ele, em apenas seis meses, o You Tube ultrapassa a produção de 60 anos das emissoras de TV americanas. Foi desta forma que o professor iniciou sua palestra na Biblioteca do Congresso Americano dos EUA, no ano passado.
De acordo com Michael, por dia, o You Tube recebe 9.232 horas de produção de vídeo. E o mais interessante: 88% são de conteúdo original. A faixa etária que mais posta é a que está entre 18 e 34 anos (50%). A outra metade é dividida igualmente entre jovens de 12 a 17 anos (25%) e adultos com mais de 35 anos (25%).
Para o professor, coordenador dos estudos do grupo Digital Etnography, que vem pesquisando a utilização e o impacto do You Tube no dia a dia das pessoas, a ferramenta vem imprimindo uma nova forma de autoconhecimento das relações humanas. Na opinião de Michael, mídia não é conteúdo, muito menos ferramenta de comunicação. Segundo ele, a mídia deve ser vista como uma mediação das relações humanas. “Daí o fato de que quando a mídia muda, as relações humanas também mudam”, explica.
Citando os estudos de Barry Wellman, professor de sociologia da Universidade de Toronto e coordenador do Netlab, que pesquisa as redes sociais virtuais, Mike afirma que vivemos, hoje, a cultura da inversão. Uma cultura que se expressa no individualismo, na independência e na comercialização, mas que tem como valores, respectivamente, as comunidades, as relações e a autenticidade.
Em sua apresentação, Michael também cita outros estudiosos para defender a hipótese que o You Tube possibilita que os indivíduos tenham, cada vez mais, o que ele chama de hyper-self-awareness, ou seja, uma hiper consciência de si mesmo. Mike afirma que as pessoas que fazem uso da ferramenta e que postam vídeos, delas próprias, têm a chance de serem vistas e mais do que isso: de se verem.
Esta possibilidade abre um campo de estudo inexplorável até então. De acordo com o professor, neste sentido, a mídia está proporcionando uma conexão entre as pessoas sem coação, sem restrição, sem constrangimento. “As pessoas se sentem relaxadas e têm a liberdade de usufruir a experiência humana sem medo ou ansiedade”, conta.
Para Michael, o You Tube está criando uma nova forma de o ser humano se entender. Em sua apresentação ele destaca que a partir do momento em que o internauta faz uma filmagem de si próprio e posta no You Tube é possível concluir duas coisas: o You Tube é um dos espaços mais privado e particular que existe no mundo. A pessoa pode filmar a sua intimidade mais profunda. E ao mesmo tempo, o You Tube é um dos espaços mais público que existe neste mesmo mundo. Afinal, tudo está ao alcance de um clique.