O acesso a computadores está cada vez mais democratizado e facilitado pelo crédito financeiro. Muitas famílias vêm investindo na compra com o objetivo de entreter e auxiliar seus filhos nos estudos. Dados da empresa IT Data, de fevereiro deste ano, revelam que, pela primeira vez, o número de notebooks vendidos no mercado nacional ultrapassou o de desktops. São mais e mais crianças e adolescentes informatizados e conectados. Realidade que faz parte do cotidiano de alunos do Colégio Estadual José Leite Lopes, Nave, na Tijuca, Rio de Janeiro. Mas com uma grande diferença: os computadores não foram comprados pelas famílias, mas, ganhos pelos próprios alunos.
Desde 2008, os estudantes da Educação Básica do Governo do Estado do Rio de Janeiro são submetidos ao Sistema de Avaliação da Educação Básica da Rede Pública Estadual do Rio (Saerj). Os alunos que alcançam os níveis ‘adequado’ e ‘avançado’ no resultado da prova são premiados com computadores portáteis. A proposta – batizada com o nome Geração Futuro – tem o intuito de fazer com que os jovens se dediquem mais aos estudos. Será?
A equipe da revistapontocom foi até a escola conversar com os alunos que já ganharam os notebooks. E se surpreendeu. Tem estudante que neste ano ganhará o seu terceiro computador. Afinal, o que se faz com três computadores em casa?
O estudante Luis Felipe Martins, de 18 anos, não titubeia. Ele diz que ficaria com um e venderia ou daria para algum amigo os outros. Seu colega, Jean Menezes, de 17 anos, usa um discurso parecido: “Ou usaria um e vendia os outros ou então venderia os três e compraria um aparelho melhor”, afirma. Ideia diferente tem Jean Braga, de 18 anos: “Com três notebooks, montaria uma lan house”.
Embora não tenham destacado a questão do uso do computador auxiliando o estudo, quando perguntados se o notebook é um prêmio que, na verdade, serve para incentivar os alunos a estudar, a resposta foi unânime: “claro que sim”!
Maria Cristina Martins, professora de Física, do Nave, reconhece que o prêmio é, de fato, um incentivo a mais para o aluno estudar. “O aluno precisa dessa motivação. Quando você passa um trabalho, a primeira coisa que lhe perguntam é se vale ponto. Ele sente essa necessidade de ser recompensado pelo seu esforço, então o prêmio é, sim, um grande motivador dos estudos, mas acho que quando o aluno já recebeu o computador, ele deveria ganhar outro equipamento”.
Sua colega de profissão, a professora de Biologia, Daniela Bahia, concorda. Segundo ela, em vez de novos notebooks, os já premiados poderiam ganhar impressoras, câmeras, gravadores, tudo que pode auxiliar nos estudos.
Segundo a diretora adjunta do colégio, Maria Luisa Albuquerque, há alguns alunos que, realmente, têm a necessidade de ter mais um de notebook para eventuais trabalhos que for realizar. Caso não precise, ela acha que os estudantes acabam doando para algum familiar ou amigo.
Foi o que fez Lucas Amorin, de 17 anos: “Um deles, o primeiro, eu dei para meus irmãos gêmeos usarem nos estudos. Eu também o uso para minhas coisas pessoais. Sempre trago, o segundo aparelho, para o colégio, para fazer meus trabalhos. Uso ele apenas para os projetos da escola. Sobre o terceiro, que ainda vou ganhar neste ano, ainda não sei qual destino será dado. Não sei se vou dar para a minha mãe ou para minha namorada. Mas se o terceiro for mais moderno e tiver mais recursos, eu darei o segundo e ficarei com o terceiro para mim. Não penso em vender não.”
Na opinião de Lucas, o equipamento incentiva os alunos nos estudos. “O cara que sabe que pode ganhar um notebook fazendo a prova vai se dedicar com atenção máxima. Já teve casos de amigos que não sabiam do prêmio e fizeram a prova de qualquer jeito. Quando eles descobriram que poderiam ganhar um notebook, estudaram mais e fizeram com bastante atenção”, explica.
Pelas contas, Lucas ainda poderá ganhar o seu 4° notebook. E se depender dele essa conquista já está certa: “Vou fazer a prova com atenção redobrada e levar mais esse para casa”, afirma. Alguém duvida?