Ana Lucia Barros, coordenadora do programa na Secretaria Municipal de Educação (SME-RJ), fala sobre resultados e próximos desafios
Flavia Perez.
Com atividades que incluem aproximar os estudantes da importância ecológica e estratégica dos rios dentro do contexto socioambiental da cidade, o projeto Esse Rio é Meu concluiu, neste ano, sua fase inicial de implantação na rede municipal de ensino do Rio de Janeiro. A primeira, das quatro etapas envolvidas, traz como desafio o diagnóstico dos rios mais próximos das escolas. O ciclo de formação dos docentes teve como ponto de partida um encontro realizado na sede da Prefeitura do Rio, em dezembro do ano passado, que oficializou o lançamento do projeto.
Após a suspensão das aulas presenciais em escolas públicas e privadas de todo o Brasil, devido à pandemia da Covid-19, a equipe gestora do projeto precisou adaptar seus materiais para o ambiente digital. Na sequência, foram promovidos encontros on-line com mais de 200 professores, alunos e gestores das 23 escolas participantes dessa primeira etapa.
Durante a formação, os docentes receberam informações acerca do conceito e da estrutura metodológica do programa, preparando-os para aplicá-lo com os alunos. Na prática, a iniciativa integra educação ambiental e midiática ao currículo e à BNCC (Base Nacional Comum Curricular), a partir de sua metodologia interdisciplinar.
As ações conduzidas pelo projeto estão apoiadas na Lei nº 6.535 (instituída em 22/04/2019), que regulamentou a criação do Esse Rio é Meu no âmbito das escolas da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro. A lei prevê que a Secretaria Municipal de Educação (SME-RJ) realize parcerias com outros órgãos da administração pública municipal, estadual e federal e instituições da sociedade civil para o cumprimento das diretrizes contidas no projeto.
Para entender mais sobre a implementação do projeto, entrevistamos a professora Ana Lucia Barros, coordenadora do Esse Rio é Meu, em parceria com a MultiRio (Empresa Municipal de Multimeios) e a SME-RJ.
Revistapontocom – Como está sendo implantar o projeto Esse Rio é Meu em meio à pandemia?
Ana Lucia Barros – as medidas de isolamento causadas pela pandemia do novo coronavírus chegaram ao país no período previsto para o início da formação com os professores nas escolas municipais do Rio. Com a interrupção das aulas presenciais, foi preciso então adaptar os conteúdos para o ambiente digital e agendar as formações em formato de webinar, iniciadas em junho.
O ciclo de encontros on-line, realizados mensalmente, alcançaram mais de 200 professores, alunos e gestores das 23 escolas participantes dessa primeira etapa. Paralelamente, a equipe gestora do projeto manteve reuniões periódicas para coordenar as ações conduzidas remotamente, bem como para mensurar e analisar avanços e resultados.
Revistapontocom – Quais as ações já realizadas?
Ana Lucia Barros – o projeto envolve quatro etapas: diagnóstico, planejamento, ações e mensuração de resultados. Além das reuniões com professores e gestores das escolas, foram promovidos encontros com alunos do ensino fundamental I e II que já estão participando do projeto nesse período de implementação.
O objetivo do diagnóstico envolve mapear a história e a situação do rio mais próximo à escola, conduzindo professores, gestores e alunos a se apropriarem do projeto e dos territórios do entorno para que, assim, possam se sentir culturalmente integrados aos patrimônios hídricos da cidade, gerando mudança e aprendizagem.
Outra ação realizada foi a aproximação dos professores da E. M. Ceará e do Ciep Operário Vicente Mariano, escolas envolvidas nessa primeira etapa do projeto, com representantes do Comitê de Bacias da Baía de Guanabara. Em conjunto, foi possível alinhar propostas de parceria e apoio técnico para medidas que serão implantadas a partir do próximo ano, na segunda etapa, que envolve o planejamento das ações de recuperação dos rios estudados no diagnóstico.
Revistapontocom – De que forma o projeto se integra ao currículo e à comunidade escolar?
Ana Lucia Barros – as ações do Esse Rio é Meu se integram ao currículo uma vez que os conteúdos do projeto se relacionam com as bases das disciplinas, conectando os componentes curriculares em todas as áreas do conhecimento a serem ensinadas nas escolas.
Além disso, o programa extrapola a escola e o território no qual está inserida, chamando a atenção da sociedade para a solução de um problema comum a todos. Ao envolver professores, gestores escolares, alunos, pais, familiares e moradores do entorno em torno da causa da recuperação dos rios, a escola proporciona um aprendizado prático de exercício da cidadania, gerando senso de pertencimento entre os integrantes da comunidade escolar.
Revistapontocom – Quais as bases metodológicas e como o projeto contempla diretrizes da BNCC?
Ana Lucia Barros – uma das bases do projeto é a interdisciplinaridade, que promove uma mudança metodológica na forma de ensinar e aprender.
Neste cenário, ao motivar professores, gestores e alunos a desenvolverem as atividades propostas de forma integrada, o projeto ultrapassa o conceito de educação ambiental e engloba, ainda, a midiaeducação, que consiste no estudo e no uso da mídia, outra base metodológica do projeto que também está presente nas diretrizes da Base Nacional Comum Curricular.
Isso porque, ao solicitar que o estudante apresente suas pesquisas e descobertas em diferentes mídias, o professor estabelece outro tipo de interação com o estudante, estimulando-o a usar ferramentas digitais e a refletir sobre os possibilidades dos meios de comunicação, o que por si só já transforma a dinâmica do processo de ensino e aprendizagem.
Revistapontocom – Quais os próximos passos?
Ana Lucia Barros – entre as próximas ações, estão programadas a divulgação do diagnóstico no território, atividade que envolve criação de conteúdo e uso de recursos e plataformas de mídia, e em seguida o início do planejamento, segunda etapa do projeto, com as escolas participantes da fase de implantação.
Paralelamente, serão conduzidas as ações iniciais de diagnóstico com as novas escolas da rede municipal do Rio de Janeiro a serem integradas ao projeto. O projeto Esse Rio é Meu é a versão carioca do programa Cidades, Salvem seus Rios, sistematizado a partir da experiência da organização social Planetapontocom com o Carioca, o rio do Rio. O movimento possibilitou a restauração da parte visível do Rio Carioca e, como consequência, o seu tombamento pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), em 2019, sendo o primeiro curso d’água urbano tombado no Brasil. Conheça mais sobre o projeto carioca acessando a plataforma Esse Rio É Meu no portal da MultiRio.