“Para viabilizar mais animações no Brasil é fundamental que os canais de TV passem conteúdo brasileiro. Ficar passando conteúdo estrangeiro é próprio de países periféricos”, destaca Tiago Mello.
Por Marcus Tavares
Mais uma co-produção em animação brasileira está em desenvolvimento. Desta vez, trata-se de Vivi Viravento, personagem criada pelo diretor Alê Abreu, o mesmo idealizador do longa Garoto Cósmico e do curta Espantalho. Série de 52 episódios voltada para o público infantil, Vivi Viravento será produzida por animadores brasileiros e canadenses. A expectativa é que a série chegue à TV em 2012.
Segundo Alê, Vivi é a neta da mundialmente famosa Rosa Rara de Viravento e acompanha a avó nas viagens que ela faz. Numa dessas viagens, a avó conta um segredo sobre o lugar onde ela vai buscar as ideias para suas histórias fantásticas, um lugar chamado Viravento. “É daí que vem o nome delas! Vivi reconstrói em seu diário os lugares que visita, seguindo as pistas deixadas pela avó e criando novas paisagens em busca de Viravento”.
Em entrevista à revistapontocom Alê Abreu e Tiago Mello, diretor executivo da produtora Mixer, contaram um pouco sobre os bastidores e do que representa a co-produção para o país. Vivi Viravento foi um 17 projetos selecionados pelo Anima TV, programa de fomento à produção e teledifusão de séries de animação brasileiras do Ministério da Cultura (MinC).
Acompanhe a entrevista:
revistapontocom – No que consiste a série Vivi Viravento?
Alê Abreu – Vivi Viravento é sobre uma menina que acompanha a sua avó, Rosa Rara de Viravento, uma renomada escritora, nas viagens que ela faz pelo mundo. O seriado conta as aventuras e descobertas da Vivi a partir das anotações que ela faz em seu diário de viagens. É como se estivéssemos dentro do diário da Vivi.
revistapontocom – É um projeto antigo? Ele foi inspirado em quê?
Alê Abreu – Vivi Viravento nasceu no AnimaTV, um edital criado pela ABCA com apoio das TVs Cultura e Brasil. Eu já vinha trabalhando em um projeto de longa utilizando a linguagem de um diário. Ao mesmo tempo tinha anotações sobre um menino viajante. Queria um seriado que pudesse viajar pelas culturas do mundo, com um pé no documentário, como aqueles programas de mochilão.
revistapontocom – Uma produção animada para a infância exige algum cuidado maior? De que tipo?
Alê Abreu – Certamente. No caso de Vivi Viravento, tivemos uma pedagoga envolvida desde o início do projeto.O mais importante é que a idéia central da série, assim como as histórias, sejam bem compreendidos. A Mixer, produtora do seriado, tem uma atenção bastante grande neste sentido. Como criador, prefiro me guiar pela intuição. Não raramente trabalho imaginando que estou desenhando e contando histórias para meus sobrinhos.
revistapontocom – É uma coprodução com o Canadá. O que isto significa? Quem faz o quê?
Alê Abreu – Significa que o Brasil se uniu ao Canadá para realizar e levar Vivi Viravento pelo mundo. A ideia é que a produção seja dividida entre os dois países mas ainda não sabemos como será esta divisão.
revistapontocom – Embora exista a co-produção, a série não tem previsão de estreia no Brasil. Por que nossas animações não são produzidas para o mercado interno?
Tiago Mello – Para viabilizar mais animações no Brasil é fundamental que os canais de TV passem conteúdo brasileiro. Ficar passando conteúdo estrangeiro é próprio de países periféricos. Todo país importante do ponto de vista cultural tem que ter também as suas animações. O Brasil tem tudo para participar de maneira consistente no mercado internacional, mas para isso os canais de TV realmente precisam abraçar a produção local. Todos têm a ganhar: o canal aumenta a sua audiência e participa dos resultados, o país recebe royalties e geramos muito empregos. Acabamos inclusive estimulando outros setores econômicos como a indústria de brinquedos.
revistapontocom – Mas o fato é que as crianças brasileiras ainda crescem assistindo a enlatados. Este quadro pode mudar algum dia?
Tiago Mello – Peixonauta, Princesas do Mar, Escola Pra Cachorro, Amigãozão, Turma da Mônica e agora Vivi Viravento estão aí para mudar este quadro.
revistapontocom – Temos um dos mais importantes Festivais de Animação do hemisfério sul, o Anima Mundi, e pouca animação genuinamente brasileira para criança. Não é um contrasenso?
Tiago Mello – Ainda existe uma falta de foco no conteúdo para crianças. O animador brasileiro produziu muito para adultos, mas a demanda de conteúdo maior é para as crianças. Isso não acontece só na animação, mas também no live action (produção com atores). Até hoje poucas séries e filmes foram produzidos para as crianças ou adolescentes. Mas isso começa a mudar. Filmes infanto-juvenis começaram recentemente a ser produzidos em maior quantidade. Este ano a Mixer, por exemplo, está produzindo duas séries live action para este público e já estamos com três séries de animação também em diversos estágios: o Escola Pra Cachorro indo para a segunda temporada, uma produção com a Globo e o Vivi em desenvolvimento, com previsão de produção já para o ano que vem.
Fiquei feliz com a notícia e estou na torcida pelo sucesso do projeto!