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Sandra Werneck estreia novo filme sobre jovens

“Meu interesse é investigar como as pessoas vivem, sentem e agem. Tenho interesse por gente, pela sociedade. Acabo trabalhando com temas relacionados à adolescência porque quero construir um mundo melhor”,  Sandra Werneck

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Por Marcus Tavares

Sonhos roubados. Este é o nome do novo filme da cineasta Sandra Werneck. Inspirado no livro-reportagem As meninas da esquina – diário dos sonhos, dores e aventuras de seis adolescentes no Brasil, da jornalista Eliana Trindade, o longa narra a trajetória de três jovens que vivem na periferia carioca. As famílias desestruturadas, a gravidez precoce e a falta de dinheiro fazem parte da realidade das meninas, que acabam entrando no mundo da prostituição.

“Eu li no jornal uma matéria sobre o lançamento do livro na época em que estava lançado meu último filme sobre gravidez precoce, o Meninas. No mesmo dia, comprei e li o livro. Em seguida, liguei para a Eliane e pedi os direitos autorais. Naquele momento, decidi que era sobre aquela história que queria fazer o meu próximo filme”, destaca Sandra.

Saiba mais sobre o filme que estreia no dia 23 de abril.

Sonhos roubados tem o objetivo de alertar o país para os problemas que muitas adolescentes vivenciam nas grandes e pequenas cidades, mas também visa a revelar um universo de muita alegria, solidariedade e amizade. “A gente tem de falar um pouco do Brasil, às vezes. É o nosso país: o que está certo, o que está errado, o que é bom, o que é ruim”, ressalta.

Talvez pouca gente saiba, mas Sandra Werneck, ao longo de sua carreira, vem se dedicando a explorar temas relacionados à infância e à juventude. O resultado se traduz numa cinematografia valiosa, merecedora da atenção e reflexão tanto dos educadores quanto dos profissionais da indústria de mídia.

Na lista, obras premiadíssimas no Brasil e no exterior, como Damas da Noite (1987) que debate a prostituição infantil; Guerra dos Meninos (1991) que narra o dia-a-dia de crianças menores que vivem nas ruas das grandes cidades; e Profissão Criança, onde é abordada a questão do trabalho infantil.

Sempre à frente da produção e direção dos seus filmes, Sandra acredita que o cinema pode ser um instrumento para a construção de um futuro melhor para as crianças e adolescentes. “É pensando desta forma que trabalho. Meu interesse é investigar como as pessoas vivem, sentem e agem. Tenho interesse por gente, pela sociedade. Acabo trabalhando com temas relacionados à adolescência porque quero construir um mundo melhor”, resume.

Acompanhe as ideias da cineasta:

revistapontocom – Boa parte de sua cinematografia aborda questões ligadas à infância e à juventude do país, como o trabalho escravo, a prostituição infantil e o dia a dia das crianças que moram nas ruas. É uma linha de trabalho?
Sandra Werneck
– Sempre me interessei pela infância e pela adolescência. As crianças e os adolescentes são o futuro do país. Se não olharmos para os problemas que estas gerações vivem, qual será o futuro delas? Mesmo nos filmes que não trazem a criança ou adolescente como personagem/tema principal, procuro pensar de que forma a obra pode contribuir para a formação das crianças. Quando fiz Pena Prisão, que mostrava o cotidiano das detentas da Penitenciária Talavera Bruce, quis dizer o quanto é importante educar as crianças, alertá-las, caso contrário elas acabariam daquela forma: presas. 

revistapontocom – De que forma você classificaria seus filmes?
Sandra Werneck
– É um cinema que procura olhar o ser humano, um cinema investigativo. O meu roteiro, desde o primeiro curta que fiz, tem como foco os sentimentos das pessoas. Tenho interesse pelas diferenças, pelas angústias, pelos medos dos seres humanos. Ao mesmo tempo, procuro entender isso tudo por um viés psicanalítico. Acho que eu acabo trabalhando com temas relacionados à adolescência porque quero construir um mundo melhor para as crianças. 

revistapontocom – Você acha que seus filmes vêm contribuindo para este mundo melhor?
Sandra Werneck
– Acredito que o cinema possa ser usado com este objetivo. Ele é um instrumento e desta forma pode, sim, contribuir para um mundo melhor ao abordar temas polêmicos. O filme Guerra dos Meninos que fala sobre os jovens infratores, os adolescentes que moram nas ruas e os grupos de extermínio de crianças repercutiu bastante. Foi premiado em vários festivais no Brasil e no exterior. A polícia utilizou o filme para mostrar aos policiais como eles deveriam tratar as crianças infratoras. Já Profissão Criança trouxe para o debate a realidade do trabalho infantil, muitas vezes desconsiderada, deixada de lado pela sociedade. O menino que cortava cana, por exemplo, voltou para a escola. 

revistapontocom – É importante que as crianças e os adolescentes se vejam representados no cinema?
Sandra Werneck
– É fundamental. As crianças precisam se ver na tela do jeito que realmente elas são. Isto contribui para o seu crescimento, para sua formação e até mesmo para a solução de muitos problemas por que passam. Além disso, não há uma produção cinematográfica qualitativa dirigida às crianças. Há muitos filmes europeus, mas brasileiros são pouquíssimos. As crianças e os adolescentes precisam se nutrir deste mundo da fantasia também.

revistapontocom – Como é o bastidor da produção de um documentário cujos protagonistas são crianças e adolescentes?
Sandra Werneck
– Qualquer documentário exige muita atenção, determinação e paciência. Você não domina a realidade. Você tem que esperar que ela aconteça para poder registrar. Lógico que trabalhar com crianças e adolescentes, seja em um documentário ou em uma obra de ficção, requer cuidados redobrados e muito, muito carinho, principalmente quando nos deparamos com situações extremas: um menino de rua que está faminto, por exemplo. Temos que parar tudo, dar carinho e comida. 

revistapontocom – Deve ser muito difícil não se envolver com as histórias de crianças e jovens?
Sandra Werneck
– Com certeza. Cada filme é um parto, uma nova sensação, uma nova entrega. Todas as histórias mexem muito comigo. Vivencio cada momento, cada história. Mas todos estes filmes, sem exceção, me ensinaram muito, me ensinaram questões ligadas à ética, à justiça e à solidariedade.

Parte da entrevista foi concedida ao jornalista Marcus Tavares, então editor do site do Rio Mídia.
Sandra Werneck autorizou a republicação do conteúdo pela revistapontocom

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Elvira Nadai
Elvira Nadai
14 anos atrás

Olá a todos,

Achei ótima a reportagem e bato palmas para a Sandra Werneck, sua sensibilidade e competência postos a serviço das crianças e jovens deste país, tão deixadas de lado. Na filmografia listada, quero acrescentar o filme-documentário As Meninas, que mostra a vida de adolescentes do Morro do Macaco, em Vila Isabel, também vitimadas pela gravidez precoce. É um ótimo material, de primeira, para quem trabalha com adolescentes e jovens e que se defronta com esse “mistério” que é persistência dessa gravidez precoce após tantas campanhas, tantas informações na escola, tantos avanços na discussão. Como sempre, Sandra vai além e nos ajuda a refletir sobre esse problemão, cujo “buraco é muito mais embaixo.

Elvira Nadai

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