Na era da informação, a escola dos sonhos de Frei Betto

“Na escola dos meus sonhos, conteúdos informáticos são recebidos e debatidos, informações questionadas, notícias analisadas pela ótica da elite e pela ótica do povão, despertando nos alunos discernimento crítico e consciência social e política”, Frei Betto.

frei-betto

Por Tiago Cabral Dardeau

O que são livros e brinquedos sem a curiosidade das crianças? Objetos silenciosos e adormecidos à espera de alguém que os desencante. Ao abrir sua caixa de letras, Maricota foi apresentada ao alfabeto e descobriu que, com apenas 26 letras, poderia ver realizado seu desejo de ler, escrever, de se comunicar com o mundo. Maricota e o mundo das letras é o título do novo livro do escritor Frei Betto. Frade dominicano, Frei Betto já acumula em sua bagagem 52 títulos e inúmeros artigos. Alguns sobre a questão educacional brasileira. O mais célebre “A escola dos meus sonhos” é citado por muitos professores.

Há duas semanas o professor Tiago Cabral Dardeau, coordenador do curso técnico Roteiro para Novas Mídias do NAVE – Núcleo Avançado em Educação, entrevistou, por e-mail, Frei Betto. Ele encaminhou o conteúdo para a revistapontocom com o objetivo de socializar as ideias do pensador.

Acompanhe:

revistapontocom – Vivemos a era da informação. Diversos dispositivos digitais têm contribuído para propagar toda e qualquer mensagem. Não somos mais meros receptores. Qualquer pessoa pode produzir e difundir a informação. De que maneira esse contexto pode contribuir para diminuir as desigualdades em nosso país?
Frei Betto –
Primeiro, seria preciso combater a desigualdade social para, em seguida, reduzir a desigualdade digital. Análise recente da Fundação Getúlio Vargas, divulgada em fevereiro último, revela que integram o segmento privilegiado, que possui renda mensal superior a R$ 4.807, apenas 10,42% da população, ou seja, 19,4 milhões de pessoas. Elas concentram em mãos 44% da renda nacional. Muita riqueza para pouca gente. A classe C, conhecida como média, possui renda mensal de R$ 1.115 a R$ 4.807. Tem crescido nos últimos anos, graças à política econômica do governo Lula. Em 2003 abrangia 37,56% da população, num total de 64,1 milhões de brasileiros. Hoje, inclui 91 milhões – quase metade da população do país (49,22%) – que detêm 46% da renda nacional. Na classe D – os pobres – estão 43 milhões de pessoas, com renda mensal de R$ 768 a R$ 1.115, obrigadas a dividir apenas 8% da riqueza nacional. E na classe E – os miseráveis, com renda até R$ 768 por mês – se encontram 29,9 milhões de brasileiros (16,02% da população), condenados a repartir entre si apenas 2% da renda nacional. Assim, vemos a internet dominada por uma minoria que produz informação e reflexão, pois a maioria não tem acesso e os que têm são meros receptores, sem interagirem com os emissores. De qualquer modo, o espaço cibernético é relativamente democrático, permite que muitos professem suas ideias e propostas. O advérbio ‘relativamente’ se deve ao fato de a internet ser movida à publicidade, ou seja, não há almoço de graça. O que significa que as grandes empresas utilizam notícias e textos, imagens e sites de relacionamento para veicular seus produtos, e não para formar cidadania e fortalecer a democracia.

revistapontocom – No campo da Educação, percebemos a necessidade de rever paradigmas que orientam o trabalho nas escolas há séculos. A criança e o jovem, nativos digitais, precisam de novas experiências que deem conta desse contexto contemporâneo. No texto “A escola dos meus sonhos” você já faz uma crítica ao modelo atual. Com as possibilidades de hoje, o que muda naquele sonho?
Frei Betto
– Quantas escolas dispõem de computadores para acesso dos alunos? E ainda que alunos tenham acesso à internet, muitas vezes falta a eles condições de construir suas sínteses cognitivas, ou seja, navegam sem rumo, sem clareza, sem parâmetros que os permita articular o fluxo de informações recebidas. Na escola dos meus sonhos, conteúdos informáticos são recebidos e debatidos, informações questionadas, notícias analisadas pela ótica da elite e pela ótica do povão, despertando nos alunos discernimento crítico e consciência social e política.

revistapontocom – Que recado você deixa para os professores brasileiros?
Frei Betto
– Organizem-se, mobilizem-se, lutem por seus direitos, por condições dignas de trabalho, por salários melhores, por um futuro breve em que os pais não apenas desejem que seus filhos tenham bons professores, mas queiram também que seus filhos sejam ótimos professores.

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Phillip
Phillip
14 anos atrás

Obrigado por sua observação Julia, já foi corrigido. Equipe planetapontocom.

Julia
14 anos atrás

Acho que no final da entrevista, quando é dito para os professores lutarem por salários “menores” o editor deve ter pretendido digitar “melhores”, certo? rs

Julia
14 anos atrás

Acho que no final da entrevista, onde diz para os professores lutarem por salários “menores” o editor quis dizer “melhores”, certo? rs

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