Afinal, o que é interatividade?

Por Aline Weber
Pedagoga, psicopedagoga e especialista em midiaeducação pela PUC-Rio

A ideia de interatividade está presente em quase tudo que nos cerca hoje. A TV é interativa, o brinquedo é interativo, o rádio é interativo, o aparelho eletrônico é interativo, como se o que não fosse interativo carecesse de um valor agregado. É um slogan, que funciona tanto na indústria quanto na academia. (PRIMO, 2000).  A interatividade está na moda, pois muitos são os seus usos.

Sem a pretensão de buscar uma definição para o conceito de interatividade, o presente artigo pretende dialogar com as concepções de interatividade de Alex Primo e Marco Silva, apontando os fundamentos da teoria da interatividade e sua transposição para a docência online, abordando as diferenças entre interação e interatividade, relacionando-os ao conceito de interação mútua e interação reativa.

Segundo Silva (1998), o conceito de interatividade é recente, posterior ao conceito de interação, que vem da física, tendo sido incorporado por outros campos do saber e, no campo da informática, designa-se por interatividade. A ideia de interatividade vem de encontro a uma nova dimensão conversacional da informática, traduzida por uma bidirecionalidade.

O Conceito de interatividade, Segundo Silva (1998), vem da pop art, caracterizada pela fusão sujeito-objeto, como por exemplo os parangolés de Hélio Oiticica, onde o espectador interfere, modifica e co-cria a obra com o artista.

Nesse sentido, o conceito de interatividade vai para além do conceito de interação, onde existe uma separação entre quem emite e quem recebe a mensagem. O conceito de interatividade transcende o conceito de interação, pois não há uma separação em pólo emissor e pólo receptor, já que a mensagem numa dimensão interativa não está restrita à emissão.

Os fundamentos da interatividade são representados pela participação, a partir da qual é possível transformar um determinado conteúdo; pela bidirecionalidade, que permite a co-criação, não havendo distinção entre pólo emissor e receptor e potencialidade-permutabilidade, pois a comunicação permite a articulação de diversas redes, diversas conexões, permitindo uma navegação livre, autônoma, sem direção pré-definida.

Esses seriam os fundamentos da teoria da interatividade que, transpostos para a docência online poderiam se traduzir pela construção de uma obra coletiva, não mais centrada na figura do professor/emissor, mas também centrada no aluno/receptor. A partir dessa perspectiva, a interatividade na docência online, representa a possibilidade de rompimento com uma concepção linear de aprendizagem, colocando-a diante de uma aprendizagem colaborativa, atualizada numa prática de construção de um percurso hipertextual.

A proposta de estudo de Primo (2000) para o conceito de interatividade está baseada na diferenciação que estabelece entre o que é interativo e o que é reativo. Um sistema interativo trabalha com a autonomia, enquanto um sistema reativo trabalha com um grupo de possibilidades de escolhas. No caso de um sistema interativo, pode-se dizer que existe um diálogo, a comunicação está fundada na troca. Assim, uma relação reativa não pode ser entendida como interativa.

Partindo dos conceitos que estabelece de interativo e reativo, Primo apresenta dois tipos de interação: mútua e reativa. Uma interação mútua caracteriza-se pela interconexão dos sistemas envolvidos, possibilitando às relações aí construídas uma transformação permanente, não sendo portanto a soma de várias ações individuais. Na interação mútua, o foco está no relacionamento estabelecido e não em algum participante específico.

A interação reativa caracteriza-se por ser um sistema fechado, com relações lineares e unilaterais que resumem-se à relação estímulo-resposta. A interação ocorre a partir de uma troca ou intercâmbio, onde há uma delimitação clara das figuras do emissor e do receptor, havendo pouca ou nenhuma liberdade para uma co-criação, ou seja, há uma limitação no processo interativo.

Após um breve olhar sobre os estudos de Primo e Silva acerca dos conceitos de interatividade, interação mútua e interação reativa, podemos perceber uma aproximação entre o que é interatividade para Silva e o que é interação mútua para Primo, ficando a interação reativa como um processo no qual não existe, como nos demais, a possibilidade de co-criação.

Referências
– PRIMO, Alex. Interação mútua e reativa: uma proposta de estudo. Revista Farmecos. Jan. 2000, n.12, p. 81-92.
– SILVA, Marco. Que é interatividade. Boletim técnico do Senac, Rio de Janeiro, v. 24, n. 2, maio/ago. 1998. p. 27-35.

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gonsalo
gonsalo
13 anos atrás

Fica mais uma pergunta, a palavra interatividade, pode ser usadada como nome complementar, ou slogam, para um comercio com vendas de componentes celulares e acessórios.agradeço a atençao.

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