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Brasil e Cuba em co-produção inédita

“O Brasil se destaca por um minucioso estudo de composição: o movimento dos personagens e a sonorização. É perceptível a diferença.  Isso para mim é realizar, produzir, com inteligência”, Aramis Acosta Caulineau.

aramis 

Por Marcus Tavares

Aramís Acosta Caulineau é cubano. Trabalha há mais de 30 anos no Instituto de Artes e Indústria Cinematográficos de Cuba (ICAIC), reconhecido internacionalmente pela qualidade de sua produção audiovisual, principalmente, na área de animação. Há duas semanas, esteve pela primeira vez no Brasil, realizando um sonho antigo: participar de uma co-produção em animação.

Histórias do Coração é o nome do filme que será produzido e composto por curtas animados. O primeiro – O caminho das gaivotas – fica pronto no final deste ano.  A realização do filme é resultado da renovação do Acordo de Cooperação Cultural e Educacional Brasil-Cuba, realizada em setembro do ano passado pelo Ministério da Cultura dos respectivos países.
 
Na semana passada, a revistapontocom esteve com parte da equipe de animação, no Rio de Janeiro, e conversou com Aramis sobre sua profissão, as produções do ICAIC e a co-produção entre Brasil e Cuba.

Acompanhe:

revistapontocom – Quem é Aramis?
Aramis Acosta Caulineau –
Sou um cubano que durante 30 anos tem dedicado sua vida profissional às crianças, fazendo e produzindo filmes no ICAIC. Comecei a trabalhar como produtor em 1980. Foi de uma maneira casual. Estudei Ciências Econômicas, na Universidade de Havana. Na época, o ICAIC fez uma convocatória para a área de produção e solicitava, como requisito, o curso de Ciências Econômicas, por entender a importância e a ligação da animação com o comércio exterior.  Posteriormente, fiz o curso de produção de cinema, me especializando em animação. Em 2007, fiz doutorado, na Universidade Politécnica de Valência, na Espanha. Pesquisei a relação entre o audiovisual e as crianças. Quis estudar as influências psicológicas dos programas de TV e os filmes sobre as crianças.

revistapontocom – E qual foi a conclusão?
Aramis Acosta Caulineau
– De uma forma geral, a infância de hoje está sujeita a uma exposição constante de muitos elementos agressivos na comunicação audiovisual. A família fica tranquila colocando os filhos na frente da televisão. E acha que está tudo bem. Mas o que se observa é que a televisão prende a atenção das crianças por meio da violência. Além disso, as produções trazem, em certa medida, um desprezo pela raça e ou pela opção sexual. Há sempre uma ação e uma reação violenta. Uma agressão às pessoas e à família.

revistapontocom – Mas isso também acontece em Cuba?
Aramis Acosta Caulineau
– Isso acontece em qualquer lugar do mundo. Chegam-nos produtos russos, tchecos, franceses, italianos etc. Mas em primeiro lugar, norte-americanos. E, muitos em certa medida, com muita violência.

revistapontocom – No Brasil, as crianças assistem à TV cerca de quatro horas. E em Cuba?
Aramis Acosta Caulineau
– Nossa, é muito tempo no Brasil. Em Cuba não creio que seja tanto, já que a escola cubana é em horário integral. Mas, no horário da tarde, todas as tevês têm uma faixa de programação voltada para as crianças. Neste horário, são exibidos filmes, documentários, desenhos animados etc.

revistapontocom – Mas existe alguma preocupação da sociedade cubana em relação a essa programação violenta?
Aramis Acosta Caulineau
– Sim. O ICAIC vem realizado um trabalho neste sentido, produzindo um material menos violento, com mais humor.

revistapontocom – Você poderia citar um exemplo?
Aramis Acosta Caulineau
– Sou produtor de uma série de animação que se chama Puberdade. Ela fala do momento em que meninos e meninas estão deixando a infância e entrando na adolescência. Um tema bem delicado, pois muitas famílias não sabem enfrentar essa nova fase, marcada por mudanças físicas e psíquicas que acontecem com a criança. Para criar a série, reunimos um grupo de artistas, sociólogos, psicológicos e pesquisadores interessados no tema. A cada ano, produzimos oito capítulos de sete minutos [o projeto começou em 2008]. Abordamos temas diversos, como a primeira ejaculação, a primeira menstruação, os primeiros pelos. O interessante é que os adolescentes, um grupo de jovens com quem trocamos ideias, participa diretamente da concepção dos roteiros, da história. É um trabalho de intercâmbio, onde os jovens dão suas opiniões. A família cubana é uma das grandes consumidoras, bem como as escolas. É um projeto bem gratificante.

revistapontocom – Gratificante como essa co-produção entre Brasil e Cuba?
Aramis Acosta Caulineau
– Sempre tive o sonho de algum dia trabalhar com animadores brasileiros. Eles têm uma originalidade estética que me impressiona. O trabalho do Brasil, em animação, tem um marco, uma característica que o identifica. E não tem a ver com a música, com o samba, nem com as cores da bandeira. O Brasil se destaca por um minucioso estudo de composição: o movimento dos personagens e a sonorização. É perceptível a diferença. A animação não é européia, não é mexicana, é brasileira. Isso para mim é realizar, produzir, com inteligência. Outra questão que me chama muito atenção é a síntese da narração. Os animadores brasileiros sabem o que querem, que história querem contar. Um exemplo é a animação Vida Maria [de Márcio Ramos, 2006]. Se vocês ainda não viram, vejam e rápido. É uma jóia da cinematografia de animação do Brasil. Um roteiro belíssimo, uma comunicação com o público perfeita e uma realização impecável.

 

revistapontocom – Mas a animação cubana também tem um traço próprio, não?
Aramis Acosta Caulineau
– O cinema de animação cubano, até os anos 90, era bem original. O humor e o uso das cores sempre marcaram as produções cubanas em animação.  Mas nos últimos anos, vem perdendo essa característica. A tecnologia e a maneira de pensar dos realizadores mudaram o panorama. Sinto que a animação cubana se aproximou mais do estilo europeu.

revistapontocom – E em que consiste essa co-produção Brasil e Cuba?
Aramis Acosta Caulineau
– Por meio de um Protocolo de Colaboração Cinematográfica, assinado em dezembro do ano passado entre a Secretaria do Audiovisual (SAV), órgão vinculado ao Ministério da Cultura do Brasil, e o Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográficos (ICAIC), foi idealizada a co-produção de um filme de animação: Histórias do Coração. A iniciativa, na verdade, é fruto da renovação do Acordo de Cooperação Cultural e Educacional Brasil-Cuba,  celebrado em setembro do ano passado,  quando o ministro da cultura do Brasil, Juca Ferreira, visitou o ICAIC, com o então secretário da SAV, Silvio Da-Rin. A ideia não é só produzir o filme, mas de capacitar animadores brasileiros e cubanos por meio da troca de experiências entre as duas partes. Trata-se de um grande projeto do Ministério da Cultura (MinC) para o Núcleo de Animação do Centro Técnico do Audiovisual (CTAv). Quem está à frente do projeto do filme pelo lado do Brasil é o diretor do CTAv, Gustavo Dahl. Pelo lado de Cuba, a diretora dos estúdios de animação do ICAIC, Esther Hirzel Galarza. O filme é dirigido pelo diretor de animação brasileiro Sérgio Glenes.

revistapontocom – É a primeira vez que Brasil e Cuba se juntam em uma co-produção?
Aramis Acosta Caulineau
– Sim, na área de animação é a primeira vez.  E o interessante é que também é a primeira vez que Cuba participa de uma co-produção com outro olhar. Nós do ICAIC já produzimos muito com outros países. Mas as co-produções geralmente seguem um modelo industrial. Quase sempre a história nasce em um determinado país. Este, por questões de tempo e equipe, contrata profissionais de outros países para produzir, realizar a obra. Isso interessa a ambos, pois todos ganham com a distribuição e exibição do filme. Porém, a co-produção estabelecida agora entre o Brasil e Cuba é diferente. Não se trata de indústria. Mas de uma produção que envolve pesquisa, escuta, comprometimento e investimento na qualificação de profissionais na área de animação. E olha: não é só o Brasil que ganha. A nova geração de realizadores em Cuba está muito acostumada com a produção industrial e esquece, de certa forma, as minúcias, as sutilezas do projeto criativo. Este projeto pode ajudar a reveter este quadro.

revistapontocom – Histórias do Coração
Aramis Acosta Caulineau –
É uma oportunidade, portanto, interessantíssima. Estou bastante contente e confiante nos desdobramentos da co-produção. O primeiro curta que estamos produzindo – O Caminho das Gaivotas – fala sobre a solidão das crianças. Da falta de comunicação entre o mundo adulto e o infantil. E o problema da solidão das crianças não é um problema das crianças que não têm família. Não. É um problema que, em certa medida, permeia todas as famílias. A história tem, portanto, o objetivo de evidenciar isso para as crianças, que vivem assim, e para seus pais e responsáveis. Tudo de uma forma bem poética, sutil e com pitadas de humor, mostrando a necessidade do reencontro do mundo adulto com o da infância.

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13 anos atrás

Desde relógios das crianças muitas vezes são ostentados por crianças de idades muito jovem, pode ser difícil ensinar os diferentes elementos de um pedaço de tempo e como ler as mãos de relógios para crianças, para não mencionar a diferença entre AM e PM. Relógios digitais tornam mais fácil para as crianças a reconhecer e recitar o tempo, eo tempo digital pode ajudar a criar uma fundação para as verdadeiras lições sobre a forma de contar o tempo, como as crianças têm alguma base para o retirar. No lado oposto, muitos especialistas epais dizem que relógios digitais aleijar o processo de aprendizagem. Eles tornam mais difícil para a criança ir a rota mais difícil de aprender a dizer o tempo convencional, quando a lição da escola surge inevitável. No final, se a criança pode se beneficiar ou ser aleijado por relógios infantil digital é de até o pai.

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