A internet já é muito mais do que uma rede de computadores

Por Carlos Castilho
Jornalista

Ela se torna cada dia mais a plataforma para uma nova estrutura social baseada em redes de pessoas interconectadas. Esta mudança está acontecendo debaixo dos nossos olhos e a maioria de nós ainda não se deu conta.
 
Dito assim pode parecer algo insignificante ou até um certo exagero, explicável na boca de um nerd ou tecnófilo. Mas quando a gente para para pensar os dados começam a se somar e percebemos que estamos diante daquilo que o físico norte-americano Thomas Khun classificou de quebra de um paradigma mundial.
 
Quase todos os dados sobre crescimento da internet, da Web e das redes sociais são tão vertiginosos que chegam a assustar. Basta saber que a Web chegou ao seu primeiro milhão de usuários num tempo 200% menor do que o gasto pela televisão e quase duas mil vezes mais rápido do que o jornal impresso.
 
Por isto é que temos que começar a ver a rede não mais como um conjunto de computadores mas como a base de uma nova organização da sociedade. A economia mundial já não consegue mais viver sem a internet, as relações humanas estão cada vez mais condicionadas pela tecnologia digital, que está se espalhando dos países ricos para os pobres, das metrópoles para o interior.
 
Quase todos os países do mundo estão acelerando os planos para aposentar toda a estrutura baseada nos fios de telefone para substituí-la pelo sistema wireless e no cabeamento com fibras óticas para permitir a banda larga.
 
Não é só a troca de uma tecnologia por outra. É todo um sistema de comunicação que está mudando e com ele hábitos, rotinas e valores. São empresas outrora sólidas que resistem à mudança e estão sendo atropeladas por outras menores, movidas a alta tecnologia.
 
A estrutura social baseada na hierarquia e na verticalidade está perdendo espaço para a nova sociedade da era da informação que não obedece a fronteiras geográficas, é descentralizada e está gerando uma estrutura baseada em redes sociais. Estas redes estão criando um sistema de informação e comunicação completamente novo onde valores como privacidade, autoria e credibilidade já não seguem os parâmetros tradicionais.
 
Estamos numa fase socialmente híbrida e líquida, segundo a denominação do sociólogo polonês Zygmunt Bauman. Nossa relação com a realidade está ficando defasada porque ela muda muito mais rápido do que os nossos valores e rotinas. Esta transição nos deixa inseguros porque nossos parâmetros estão mudando e nós fomos educados para conviver só com o que é seguro e sólido.
 
Quem trabalha com informação está ainda mais sujeito às conseqüências do surgimento da nova estrutura social baseada em redes virtuais integradas por pessoas que não moram nos mesmos lugares, não compartilham da mesma cultura, tem historias totalmente diferentes e que se unem apenas por interesses comuns.
 
Todo mundo fala de crise na comunicação, mas ela atinge com mais intensidade a indústria dos jornais. O jornalismo está mais vivo do que nunca e com possibilidades inéditas na sua história. Jornal e jornalismo são duas atividades coisas diferentes que os interesses corporativos tentaram unir. É possível um jornalismo sem jornais, mas não existem (ou não deveriam existir) jornais sem jornalistas.
 
A crise dos jornais é só uma das várias crises de modelos corporativos provocadas pelo surgimento de novas rotinas informativas na sociedade em redes. O crescimento desta forma de organização social traz consigo uma mudança de hábitos que já começa a impactar a sociedade, como é o caso da tendência em direção ao compartilhamento de dados, informações e conhecimentos.
 
É uma mudança e tanto que vai aos poucos se desenhando e que vai nos levar a desenvolver um novo tipo de cidadania, parte analógica e parte digital, onde rotinas e valores já existentes passam a conviver com novas atitudes impulsionadas pela nova estrutura social baseada em redes.

Fonte – Observatório da Imprensa

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