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Esse Rio é Meu: autonomia na formação docente

Por Marcus Tavares


Mônica Waldhelm é aquela professora que tem experiência de sala de aula: da educação infantil à pós-graduação stricto sensu. Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutora em Educação pela PUC-Rio, Mônica é professora titular de Biologia do CEFET/RJ aposentada. Consultora pedagógica e autora de livros didáticos de ciências naturais , projeto de vida e diversas publicações para formação docente, ela integra a equipe do projeto Esse Rio é Meu!, ligado ao programa Cidades, salvem seus rios!, idealizado e promovido pelo planetapontocom em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio de Janeiro.

clique aqui e saiba mais sobre o projeto

Convidada para supervisionar os conteúdos pedagógicos que serão criados e disponibilizados aos professores que participam do projeto, Mônica conversou com a revistapontocom sobre o programa. Para ela, trata-se de uma valiosa oportunidade de os docentes desenvolverem um trabalho, de fato, interdisciplinar, no qual conteúdos curriculares estabelecidos pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) poderão ser desenvolvidos de forma contextualizada e o que é melhor: por meio e através de uma causa.

“Uma causa em torno do rio mais próximo da escola. Uma boa causa que vai acabar reunindo pessoas, grupos, parceiros e o próprio poder público, quem sabe, na melhoria deste rio e, consequentemente, na vida da comunidade. Todos em torno da defesa do rio, da vida. Um projeto que parte de um diagnóstico, gera mobilização e uma intervenção”, explica.

Mônica também integra a equipe que vai promover encontros de formação com os professores da rede municipal. Na pauta: conceitos como interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e contextualização.

A seguir, acompanhe trechos da conversa:


Projeto de investigação/mobilização
O projeto tem uma perspectiva de conhecer, recuperar e preservar o rio mais próximo da escola, do estudante e do professor, porém pensando nesse rio histórico, cultural. Nessa relação do rio com o seu entorno. E é por isso que esse projeto envolve a mobilização não só da escola, mas de todo um conjunto de parceiros. Trata-se de um trabalho intersetorial. Eu digo que é importante e necessário, como primeiro passo, fazer uma cartografia social em torno desse rio para que a comunidade escolar perceba que potenciais parceiros podem ser mobilizados para o trabalho em conjunto. Nesta perspectiva, o projeto acaba, portanto, tendo a possibilidade de envolver diferentes áreas, como a cultura, o meio ambiente, o esporte, as artes, a história e, inclusive, o poder público.

É um projeto de educação, de mobilização em torno de uma causa, que parte de uma problematização e que tem como um dos objetivos intervir positivamente no entorno. É lógico que, dependendo do contexto de cada escola, haverá uma certa limitação nesta, digamos, intervenção. Por isso que é importante traçar uma meta viável, realista. Sempre há algum tipo de intervenção que pode ser feita. Por exemplo, uma denúncia, uma mobilização em torno do rio, uma conscientização da comunidade, uma campanha a favor da coleta seletiva de lixo. Todo esse trabalho parte de um diagnóstico da realidade, de uma visita da escola ao rio in loco. É nesta etapa que vamos iniciar uma investigação a respeito do rio. O rio está na superfície? Está canalizado? Qual é a situação do rio? Apresenta algum tipo de problema? Está limpo? Falta, na verdade, um envolvimento maior da comunidade? Em algumas regiões, diferentes escolas vão trabalhar com o mesmo rio, afinal, muitas vezes, o rio passa por diversos bairros e tem trechos que se apresentam de forma desigual.

Identificar uma causa, reconhecer que ela é importante e mobilizar o território são as principais ações deste projeto. Em outras palavras: conhecer, preservar e recuperar o rio mais próximo.  Quando você vê o rio do ponto de vista histórico, cultural, ambiental, por exemplo, você realmente dilui as fronteiras do conhecimento. A quem pertence o rio? Pertence à história, à geografia, à biologia? Não. A vida não é assim. Compartimentalizada, fragmentada, disciplinar. Portanto, o projeto também não deve ser. Trata-se de uma proposta a partir de uma causa transdisciplinar – viabilizada de forma interdisciplinar na escola, que advém de uma problematização. É essa problematização em torno do rio que vai, na prática, convocar os campos de conhecimento para investigação, mobilização e intervenção. Sem uma problematização não há uma investigação interdisciplinar.

O que é de fato interdisciplinar
Projeto interdisciplinar é muito diferente do projeto que às vezes encontramos na escola. Quem nunca vivenciou propostas como o ‘Projeto Água’, muito comum nas escolas? O professor de matemática é chamado para fazer cálculos que envolvem a caixa d’água da escola. O de história, para conhecer o passado do rio. O de geografia, para estudar o meio ambiente. O de ciências, para discutir as doenças provocadas pela água contaminada dos rios. O de artes, para trabalhar técnicas para representar o rio. E o de língua portuguesa e o de música, para trabalhar com a letra do Planeta Água do Guilherme Arantes, entende? E, ao final, do projeto se faz uma feira para chamar as famílias. Um trabalho como esse pode envolver professores e estudantes e, inclusive, motivar as escolas. Mas, na prática, isso não se trata de um projeto, muito menos de um projeto interdisciplinar. Por quê? Porque você continua tendo ‘gavetas’. O rio da matemática não conversa com o rio da história e por aí vai. Com essa ‘fragmentação’ fica muito difícil costurar as áreas do conhecimento. Como fazer então? Partir de um diagnóstico que leva a uma problematização é um dos caminhos. Um dos caminhos que propomos. A visita da escola ao rio pode trazer, por exemplo, indícios de que vem ocorrendo um assoreamento do rio. Por quê? Pode ser por uma questão de despejo irregular de lixo, de ocupação desorganizada. E, portanto, a partir daí, um trabalho investigativo efetivamente o interdisciplinar pode ser desenvolvido. Dependendo então do problema, uma ou outra área de conhecimento será demandada. Às vezes, um componente curricular vai entrar de forma mais enfática. E em outras vezes de forma periférica. Mas aí temos um trabalho interdisciplinar.

Autonomia e responsabilidade do professor
Minha maior preocupação neste projeto é trabalhar com os professores, com a formação deles. Mas de forma alguma temos a pretensão de apresentar uma prescrição, uma receita de bolo de como fazer. Não se trata de uma proposta que vem pronta e o professor deve seguir tais e tais passos, deve fazer isso ou aquilo. Não. Vamos trabalhar na formação dos professores, na apresentação e compreensão dos conceitos, como a interdisciplinaridade e a contextualização. E, então, caberá aos docentes vivenciar na prática o projeto com seus estudantes, aproximando e adequando suas problematizações, inclusive, aos componentes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Portanto, o projeto não deve ser um retrabalho, mas uma oportunidade de desenvolver conteúdos curriculares de forma interdisciplinar e atendendo às normativas da BNCC.

Creio que o maior cuidado que, nós professores, temos que ter é não desenvolver um currículo pobre para a escola pública. Precisamos e devemos oferecer um currículo enriquecido e que amplie o repertório do estudante. Isso inclusive tem a ver com o conceito de contextualização que será trabalhado com os professores. Não é porque o rio está ligado a um entorno específico que o docente deve se ater a uma contextualização limitada. A contextualização pode ser feita sob um contexto próximo ou não, envolvendo o passado ou o presente ou até mesmo a projeção do futuro. Posso correlacionar um rio aqui do bairro da cidade do Rio de Janeiro com um rio da China. Ou seja: a contextualização pode e deve ser feita com o objetivo de ampliar os conhecimentos e o repertório do estudante, o que vai enriquecer o aprendizado. Contudo, as intervenções resultantes do projeto devem ter impacto no local, relacionadas ao rio próximo à escola.

Comunicação e divulgação científica
Todo esse trabalho carrega ainda o viés da comunicação, afinal isso está no DNA do planetapontocom. Portanto, também vamos trabalhar isso com as escolas. As linguagens de mídia são importantes na produção e divulgação do conhecimento. E espera-se, portanto, estar integradas às etapas do projeto. Vamos promover encontros em que os docentes possam vivenciar e experimentar linguagens de comunicação para promover um maior aproveitamento do projeto e dos seus resultados, como criação de cartilhas, vídeos e/ou campanhas publicitárias. No contexto dos dias atuais em que a importância e o valor da ciência são questionados, esse projeto ganha ainda mais relevância ao valorizar a investigação e o conhecimento científico. Uma ciência que não é neutra, imutável, mas pode e deve ser utilizada para promover a saúde e bem-estar ambiental, coletivo e individual, pautando-se em princípios de sustentabilidade, empatia e respeito à diversidade em suas múltiplas formas.

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