Leitura e escrita

Por Marcus Tavares

Na semana passada, o MEC divulgou os resultados do Enem de 2014 por escola. A notícia não foi boa. Cerca de 50% das instituições — públicas e particulares, vejam só — não conseguiram alcançar a média de 500 pontos (numa escala que vai até mil) na nota da Redação. A situação é delicada, já que os números mostram uma progressão. Nos dois últimos anos, a taxa estava em torno dos 35%.

Como explicar os resultados? Fácil culpar os professores que não exercitam a leitura e a escrita em sala e pouco ou nada planejam estrategicamente para aproximar crianças e jovens dos livros e da escrita. Da mesma forma, fácil também é jogar a conta nos estudantes: uma geração que não é interessada, pouco ou nada lê e não consegue escrever de forma coerente e contundente.

Tais argumentos não são falsos nem verdadeiros. A matemática das notas baixas na Redação é mais complexa do que encontrar culpados e extrapola a atuação professor-aluno. Pelo Brasil, há centenas de boas práticas, professores comprometidos e estudantes engajados.

Mas da mesma forma também faltam incentivos. Em alguns casos, da própria escola como instituição e dos pais e ou responsáveis que acreditam que só basta matricular os filhos e cobrar nota. Não é assim.

Sabe-se que a performance da leitura e da escrita de crianças e jovens depende, prioritariamente, de professores qualificados que tenham conhecimento do assunto e saibam encantar. No entanto, a leitura e a escrita se desenvolvem de forma mais contundente à medida que os estudantes são incentivados e instigados pela família. Não podem ser vistas ou entendidas como algo obrigatório e circunscrito apenas à sala de aula.

Soma-se a isso a necessidade de crianças e jovens terem acesso à cultura e à informação de forma ampla, diversa e contínua, o que não necessariamente está ligado a um maior ou menor poder aquisitivo, mas que passa por ele: o chamado capital cultural é importante e essencial para que os estudantes possam também ampliar suas reflexões, parâmetros e conhecimentos, contribuindo para a constituição de um repertório maior de imagens, pensamentos, falas e textos. Será que nossas crianças e jovens têm este acesso?

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