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Como tudo começou (volume 1) da coleção Turma do Planeta. Resenha do prof. Antônio Sérgio Bueno

Coleção acaba de ser lançada pela Editora Autêntica.

Como Tudo Começou
Volume 1 – Coleção Turma do Planeta.

Resenha crítica de Antônio Sérgio Bueno
Prof. de Literatura Brasileira na Faculdade de Letras da UFMG, autor dos livros Vísceras da Memória, Affonso Ávila e O Modernismo em Belo Horizonte: década de 20. Todos publicados pela Editora UFMG.

O nome do espaço já o define como lugar de encantamento – “Floresta do Beija-Flor azul”. E que sigla acolhedora esta da Escola Municipal Planeta de A a Z: EM PAZ. Paz e Alegria é justamente o que senti ao ler seu livro.                             

Percebo imediatamente a amplitude que orientou a criação dos personagens. As expressões “enigmas ligados à Música” e “enigmas” são um anagrama perfeito de “imagens” e IMAGEM, ao pé da letra, é dar a ver. Os personagens não só dão a ver quanto dão a ouvir pelo ouvido interno da imaginação. Os leitores talvez nem percebam o quanto estão aprendendo enquanto se divertem com a narrativa.                    

Vejo que é contemplado o espectro étnico do Brasil: algumas crianças (ou adolescentes) são brancas, Petica (angolana) e Zeca são pretos e Tinu é neta de indígenas. A inclusão não foi esquecida: Gui tem Síndrome de Down e é a alegria em pessoa. Está no grupo com a mesma naturalidade que os outros meninos. Outra coisa linda nos personagens: a perfeita adequação entre sua natureza e suas ações. Assim, nada mais natural que Petica, de Angola, cuja música é tão percussiva, seja a percussionista; que Tinu, a “filha do vento”, goste de  instrumentos de sopro; que o Jabuti Pedro, pela sua experiência e lentidão, seja um filósofo; que o Jequitibá, uma árvore de quase 600 anos, produza música através da “passagem do vento”; que o vagalume seja o iluminador das apresentações.                         

O nome da revista do grupo é um achado: GARRAS. Estou gostando tanto que já posso afirmar que os livros não se destinam apenas às crianças, mas podem ser lidos com entusiasmo por pessoas de qualquer idade. Como, aliás, acontece com todas as boas obras chamadas de infantis. Ensinar divertindo é a estratégia ideal para um livro que tem crianças como público-alvo.  

Outra característica é que ele não permite acomodação, puxa o leitor para cima e para diante no conhecimento de bens culturais. É fascinante perceber quantas áreas o livro abrange: Música, História, Geografia, Antropologia, fauna, flora (Biologia), Filologia etc. Destaco a valorização da Internet, com a qual crianças e jovens têm a maior intimidade. 

Outra virtude é o inteligente uso do humor, como se vê nesta fala do pai de Paulão: “…isso não é instrumento musical coisíssima nenhuma, está mais para instrumento de tortura.”  Aplaudo a preocupação em ampliar o repertório linguístico dos leitores, através de palavras não presentes na fala cotidiana dos jovens.

A autora sabe driblar os “sentidos coagulados” dos clichês. As frases têm um andamento rítmico gostoso de acompanhar e são de uma clareza cristalina, às vezes até com fragmentos de versos embutidos.

Esqueci de falar de um valor inestimável que perpassa todo o livro: o exercício da amizade, esse tipo mais vasto, leve e livre de amor.

Encantei-me  com a expressividade das ilustrações que expressam o fascínio pela aventura e a alegria contagiante dos personagens .

Foi elaborada uma grande Alegoria, um simbolismo que abrange o conjunto de toda narrativa. Nada melhor do que uma orquestra ou um conjunto musical para figurar esta alegoria.

A Floresta do Beija-Flor Azul é muito mais que um cenário, é um espaço vivo que pode ser visto como o grande protagonista desta história. Cada elemento da natureza dá sua contribuição de som e silêncio para que a magia se manifeste para o leitor.

A abertura das cortinas pode ser percebida nesta fala de Petica: “- Não creio no que estou a ver.”  Notável é o cuidado na  construção lusitana da frase, mostrando  a preocupação da autora com a verossimilhança, já que Petica é angolana e Angola foi colônia portuguesa. 

Voltando à introdução: nota-se que o grupo que acaba de chegar fica deslumbrado com a flora da Mata Atlântica (paus-brasil, perobas-do-campo, jacarandás e tantas outras árvores), com o “murmúrio de um curso d’água”, as “pedras roliças” e resolve tocar para retribuir toda aquela beleza que a Floresta lhes oferece.

narrador fala do silêncio da Floresta para ouvir a música daquele grupo recém-chegado como “uma coisa extraordinária”, e realmente o é. Mas para o leitor que já participa deste pacto narrativo, aquela mobilização dos elementos da natureza passa a ser natural, embora não deixe de se encantar com o fato de até a cachoeira se imobilizar (sua forma de se mobilizar) para ouvir a música. A partir daí, começam a surgir as vozes da natureza: o som diferente do jequitibá; a pop-star da Floresta, a capivara Hebe; a cascata; o vaga-lume Gasper, que cuida da iluminação; o vento brincando; até os raios e trovões.

Há inúmeros  exemplos de uma pedagogia de valores e comportamentos que o  livro traz, sem o menor ranço de moralismo: não se deve rir num concerto musical e o Jequitibá, que mal continha o riso, foi admoestado por Binga (com a “asa em riste”); respeitar o mutismo de Leopoldo, o tamanduá-bandeira (“que não tem aparelho fonador”), valorizar a força coletiva da integração dos sons da banda aos dos elementos naturais, enriquecendo a orquestração original de Paulão, num final apoteótico característico de grandes concertos musicais.

Muito oportuna a imagem da abertura do “Portal do Tempo” para mostrar a visita do grupo aos “aborígenes australianos”, em que se contemplam vários traços culturais daquele povo, em tempos anteriores à colonização inglesa (antes de 1700).

Estamos diante de um livro que pode se desdobrar em muitas aulas de várias disciplinas, que serão recebidas pelos alunos com o mesmo encanto que todos nós, leitores de todas as idades, sentimos ao percorrer as mágicas páginas desta narrativa.    

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