Em uma sala de aula, algumas dezenas de alunos se debruçam sobre as carteiras. Em cima da mesa, apoiada entre os cotovelos, está a prova. E com uma caneta, que percorre ansiosamente os espaços em branco entre as palavras, estudantes tentam provar seu valor. Mostrar quanto de conhecimento adquiriram nas aulas que assistiram ali mesmo, naquele espaço. Só que o modelo tradicional de avaliação pode ser uma armadilha. Como medir em algumas questões o complexo processo de aprendizado de um estudante?
Quem faz a pergunta é a professora Benigna Maria Freitas Villas Boas. Doutora em educação, ela fala a outros tantos professores que chegaram recentemente à Universidade de Brasília para ensinar o que aprenderam. E avaliar, principalmente pelas provas, o quanto conseguiram ensinar. A necessidade de ampliação do atual modelo de avaliação das instituições de ensino foi o enfoque principal do curso de formação dos novos docentes da Universidade de Brasilia (UnB), realizado na última quinta-feira.
Benigna questiona o uso de provas como único método de avaliação e defende que outras ferramentas, como relatórios e entrevistas, sejam usadas nas salas de aula. Segundo ela, as provas deixam marcas que acompanham o estudante por toda vida acadêmica e profissional. “É muito importante nos questionarmos sobre que marcas queremos que permaneçam em nossos alunos”, provocou.
Ela acredita que a lógica das provas é excludente. Todos são analisados ao mesmo tempo e do mesmo jeito por meio de comparações.
“Professores lotam os anfiteatros com a aplicação de provas. Como saber se aquele horário, aquele momento ou aquele dia é ideal para que cada um mostre o que sabe?”, indaga. A maior valorização dos resultados em detrimento do processo de aprendizagem reduz os espaços de solidariedade e estimula a competição. “O grande negócio é passar de ano. Não é aprender”, sentencia.
A professora mostrou aos docentes depoimentos colhidos de seus alunos sobre a relação deles com as notas e a escola. “Nunca acho que me saí bem em uma avaliação. Percebo isso pelo medo que sinto em fazer um trabalho ou prova. Sempre fico contando os pontos para ver se consegui a média. Acho que isso não é bom”, revela um dos depoimentos. “A escola gostava daqueles que eram estudiosos e pouco questionadores”, conta outra. “Tenho alunos que até hoje têm dor de barriga na véspera de uma prova. Como isso pode ser bom?”, questionou Benigna.
Uma reinvenção do atual modelo é a proposta da professora. A avaliação formativa analisa o que o estudante aprendeu e o que não foi assimilado, mas não interrompe o processo de aprendizagem. “Devem ser proporcionados meios para que o aluno aprenda”. Além da prova, outros procedimentos como relatórios, portfólios, entrevistas e auto-avaliações devem ser adotados. O feedback dos professores também é importante nesse processo. “Se não houver retorno das atividades, o momento de aprender passa”, afirma.
A professora explica que os alunos precisam ser preparados para atuarem de acordo com esse novo modelo. “Toda formação deles foi baseada em notas”, diz. De acordo com ela, a aplicação desse processo de avaliação precisa ser feito em parceira com alunos e professores. “Os docentes não conseguem fazer isso sozinhos. Eles podem elaborar esses critérios com os alunos”.
Fonte – UnB