Por Marcus Tavares
Talvez, você já tenha visto ou escutado a música na ponta da língua dos seus alunos. Gaiola das cabeçudas é o nome do clipe musical criado pelos comediantes Marcelo Adnet e Rafael Queiroga, apresentadores do programa 15 minutos da MTV. O batidão, inspirado em letras de outros funks de sucesso, tem o objetivo de ser erudito e conteudista. Em quatro minutos, o clipe cita 40 intelectuais, entre escritores, músicos, escultores, cientistas, filósofos, pintores e dramaturgos. Postado no You Tube, o vídeo já foi acessado cerca de 430 mil vezes.
Em entrevista ao caderno Ilustrada da Folha de S. Paulo, Marcelo Adnet disse que a letra pode “servir de resposta a quem reclama da falta de conteúdo do funk”. Foi exatamente por isso que o comediante compôs a música. Há cerca de quatro meses, os apresentadores leram no ar um e-mail de um telespectador que perguntava porque as letras de funk precisavam ser grosseiras.
Recentemente, a revista Megazine, do Jornal O GLOBO, publicou uma matéria com o seguinte título: Professores aprovam ‘Gaiola das Cabeçudas’ na sala de aula para despertar interesse dos alunos. A matéria entrevista os professores de filosofia Max Ribeiro, do Ponto de Ensino, e Rafael Pacheco, do Centro de Educação e Cultura. O interessante é ler os comentários dos internautas. Estes se dividem quanto a utilidade do funk na sala de aula.
Eis um exemplo:
Apesar de partir de uma ideia bem criativa, o vídeo do Adnet é incrivelmente sem graça. Ele já fez coisas muito mais interessantes. Além disso, não entendi esse apoio dos professores que a reportagem menciona, a música não tem conteúdo educativo nenhum. Ela não diz nada, no máximo menciona um nome (por exemplo Lutero), mas não dá conteúdo nenhum (“é protestante”.. e daí, o q ele fez? pq foi importante? nada) Pode servir pra quebrar o gelo antes de uma aula de verdade, mas por si só não tem valor. (Érico)
Para aqueles que não entenderam o que está acontecendo, vou dar uma pista!Tudo esta mudando e os que não aceitarem ficarão de fora da nova estrada. Podemos não gostar, mas essa é a nova realidade!Daqui a 30 anos a maioria de nós não estará mas vivo, e se não adaptarmos da melhor forma possível o que consideramos ser qualidade ou conteúdo para as gerações futuras, eles ficarão no meio do mar aberto, sem vento.Parem de reclamar e criem novas possibilidades de levar educação a todos!! (Washington Rosa)
Perguntado pela Folha de S. Paulo quantos daqueles intelectuais citados na música ele tinha lido, Marcelo Adnet respondeu: “Pouquíssimos. Falar é fácil, ler é mais difícil”
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A revistapontocom pergunta: e você leitor, o que acha? Deixe aqui o seu comentário.
Os nomes que são simplesmente mencionados podem se tornar alvo de curiosidade, dependendo de quem está mencionando. Por exemplo, uma pessoa anônima se torna alvo de curiosidade ao ser mencionada por programas de celebridades. Outro exemplo: A galera da minha idade (não revelo nem sob a execução de funk nos meus ouvidos) conhece Camões porque ele foi cantado pela Legião. Outro exemplo: a molecada está pouco se lixando pra Lutero, Tarsila, Aleijadinho, Marx, se quem fala sobre eles é aquela criatura enfadonha que lhes torra a paciência e despreza as coisas que eles gostam. E segue sua nau.
Não vamos subestimar a proposta. Talvez a intenção do vídeo tenha sido polemizar e cutucar contrapondo a cultura do funk com o ensino formal. Os jovens estão aí, vivenciando o apelo sexual ao mesmo tempo que são exigidos em uma educação formal que não veem sentido, muito tradicional, que na maioria das vezes se limita em transmitir conhecimentos como verdadeiras imposições absolutas sem maiores contextualizações.
Nomes soltos sem contextos e ainda com apelos sexuais(gestos, partes do corpo, gestos implícitos, etc…) quem acredita que isto pode ser utilizado em sala-de-aula? Cada dia tenho mais medo da geração de pensadores e cidadãos que teremos no futuro!!!
SEM COMENTÁRIOS ponto final.
Acontece que só falar nomes de grandes figuras que contribuiram para a história, artes, filosofia e outras áreas da educação não possibilitam aos educandos um estudo e uma compreensão real de quem foram e o que essas pessoas fizeram. Pode-se utilizar funk nas escolas de uma maneira mais criativa (levando em consideração a idade do aluno) e isso não é uma “nova possibilidade de levar educação a todos” há outras formas de fazer isso!
Eu acho incrível que algumas pessoas, apesar de terem conhecimento das mudanças pelas quais o mundo está passando, ainda não conseguiram superar a visão estereotipada e preconceituosa diante de certos assuntos. Eu não gosto de funk, mas não adianta simplesmente “desligar qualquer som de funk na minha casa”, porque meu filho vai ter acesso em outro lugar (seja na escola, cantada por outro colega, seja na lan house, entre outros vários locais). O funk é um som originalmente criado como forma de resistência e criação de identidade de uma parcela marginalizada da população, que nunca teve acesso a outras formas de manifestações artísticas. As letras toscas e vulgares existem, mas este vídeo mostra que a música é uma forma de expressão, que pode ser moldada de acordo com a consciência de quem faz. Eu prefiro mostrar o funk em minha casa (de forma dosada), onde posso contornar as letras idiotas e sem sentido, para que meu filho adquira o senso crítico necessário para combater a “visão estereotipada” a que me referi no início do comentário. Educação não é simplesmente tirar da alguém o que achamos inútil, e sim trabalhar de forma crítica com o que perpassa seu universo. É nisso que acredito.
Gostei de ver a grande descoberta do Washington Rosa: tudo está mudando…Imagine, niguém sabia disso.
E eu que pensei que o mundo fosse católico para sempre. Palavras sem sentido não dizem nada. Foi feita um pesquisa nos Estados Unidos entre alunos do ensino médio e a maioria disse que Beethoven era um cachorro e várias coisas fantásticas que nem vale a pena dizer. Vou parar de reclamar e desligar qualquer som de funk na minha casa. Ok Washington? Podem ganhar o dinheiro que quizerem. Viva o capitalismo selvagem.
Apoio a Sandra.
Ok, é criativo, engraçado – Ponto. Mas trabalhar com este vídeo numa turma de Ensino Fundamental e Médio em que os meios de comunicação produzem textos erotizados, acho complicado. A letra poderia ser mais criativa podando um pouco mais a cacofonia, porque certamente ao invés de fazer o sujeito pensar, vai fazer o sujeito escrachar ainda mais.