Esse Rio é Meu: arte, leitura e escrita resgatam a importância do Rio Timbó na Escola Municipal Nereu Sampaio

Entrevista com Aline Heim, coordenadora pedagógica.

Por Marcus Tavares

Localizada em Inhaúma, Zona Norte do Rio, a Escola Municipal Nereu Sampaio encerrou as atividades do ano letivo com a certeza de que a arte – um direito de todos os cidadãos – é capaz de ser um instrumento de reflexão e mudança, principalmente junto às crianças. Para celebrar as ações de 2022, a escola abriu as portas para mostrar alguns trabalhos desenvolvidos por conta do projeto Esse Rio é Meu, que buscou o engajamento de toda a comunidade escolar na recuperação e preservação do Rio Timbó, que fica próximo ao colégio.

O projeto Esse Rio é Meu é desenvolvido em conjunto pela Secretaria Municipal de Educação e pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio, em parceria com a oscip planetapontocom e a concessionária Águas do Rio – patrocinadora do programa. O objetivo do programa é engajar escolas na recuperação e preservação dos rios. Cada grupo de escolas da rede pública de ensino do Rio ficou responsável por desenvolver ações em torno de um dos rios da cidade.

“O projeto foi apresentado aos professores no início do ano letivo. Na ocasião, não sabíamos como iríamos desenvolvê-lo, pois tínhamos muitas demandas e estávamos diante de um ano bem desafiador pós-pandemia”, explica a coordenadora pedagógica Aline dos Santos Heim.

Como fazer então? Segundo Aline, que assumia pela primeira vez a coordenação pedagógica da escola, não houve segredo, mas, sim, um trabalho de convencimento junto aos professores que viam o projeto como uma sobrecarga maior no dia a dia da escola.

“Aos poucos, fomos conversando e desfazendo essa ideia inicial. Acredito que o projeto ganhou maior adesão de alguns profissionais exatamente por eles terem enxergado de que não era mais um trabalho. Era um projeto que podia e devia ser desenvolvido de uma forma interdisciplinar e diretamente ligado às habilidades e competências das disciplinas, com foco especial, no nosso caso, em Artes e na Língua Portuguesa. Isso seguramente foi uma virada de chave que oportunizou diferentes iniciativas”, conta.

As professoras de artes, Adriana Mesquita Gomes e Maria da Glória Lima Matos de Farias, foram as primeiras a trabalharem com o projeto. A Adriana desenvolveu atividades com as turmas de 8° e 9° anos. Ela fez a releitura do quadro “O Grito”, de Edvard Munch, criando o tema “a mão que destrói e a mão que constrói”. Já a Glória, com as turmas do 6° e 7° anos, trabalhou com a temática “o que eu vejo e o que eu gostaria de ver”.

A professora da Sala de Leitura, Mônica de Almeida Mota, viu no projeto a oportunidade de aprofundar o gênero carta. Com os alunos do 6° ano, propôs que os estudantes escrevessem cartas para o Rio Timbó, trabalhando as habilidades e competências da leitura e escrita a partir das fotos que os alunos do 7º e 8º anos haviam tirado do rio. O engajamento foi tão grande que a série de cartas se transformou num livro.

Os estudantes do 8º ano também foram instigados a recuperar a história da comunidade local, entrevistando seus familiares e antigos moradores. A proposta, que deverá ser continuada em 2023, foi desenvolvida nas aulas de história do professor Fabio Sampaio Fonte, que também incentivou a pesquisa sobre o passado e o presente do rio.

Discussão que foi aprofundada nas aulas de Geografia, no 9º ano. O professor Plínio Almeida Trezzi levou para a sala o documentário É Rio ou Valão?, uma produção da FioCruz, que debate em que condições as populações servidas pelas sub-bacias da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, e outras igualmente degradadas, encontram a água para uso. O vídeo provocou diferentes reflexões e o sentimento de pertencimento.

Pertencimento que pode ser visto, mais uma vez, por meio da arte, nos cartazes produzidos pelo 8º ano. A produção tinha o objetivo de chamar a atenção de todos sobre o estado precário de preservação do Rio Timbó.

“O sentimento no final do ano é que o projeto rendeu mais do que nos esperávamos. E talvez isso se explique pelo fato de que o Esse Rio é Meu fala sobre o rio que faz parte do cotidiano dos estudantes. É algo próximo da realidade deles. Gera pertencimento. E isso faz diferença. Acreditamos também que a resistência inicial dos professores foi vencida, já que perceberam que o projeto pode e deve ser trabalhado de forma conjunta com seus planejamentos, o que encoraja, certamente, outros profissionais a darem continuidade em 2023”, finaliza Aline.

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