Esse Rio é Meu: programa alcança 100% da rede de escolas da Prefeitura do Rio, renova contrato com concessionária Águas do Rio e investe no empreendedorismo

Leia a entrevista com a presidente do planetapontocom, Silvana Gontijo.

Por Marcus Tavares

Mudanças são necessárias e, mais importante, são possíveis. Quando foi idealizado há três anos e colocado em prática, o programa Esse Rio é Meu, fruto de uma parceria entre a Prefeitura do Rio e a concessionária Águas do Rio, nascia com uma proposta, para muitos, ousada: recuperar os rios da cidade por meio das ações das escolas. Considerando que a rede de escolas do Rio é uma das maiores da América Latina, envolvendo mais de 40 mil professores e 600 mil estudantes, a proposta parecia mesmo desafiadora.

E assim foi desde a articulação política entre os parceiros, costurada pela Oscip planetapontocom, quem criou o programa, a capacitação dos professores na metodologia implementada, no convencimento da importância da causa e na conscientização de todos.

Em entrevista à revistapontocom, a presidente do planetapontocom, Silvana Gontijo, faz um balanço dos últimos três anos e adianta quais são as perspectivas e ações para os próximos anos.

revistapontocom – Em 2024, o programa Esse Rio é Meu chegou ao terceiro ano de ação alcançando toda a rede das escolas da Prefeitura do Rio de Janeiro. Qual é o balanço que o planetapontocom faz destes três anos de projeto?
Silvana Gontijo –
É uma grata surpresa. Nunca pensamos em atingir 100% da rede. A nossa meta era atingir 60%. Esse resultado é surpreendente e muito bem-vindo. É sinal de que a nossa metodologia está atraindo estudantes, professores, gestores escolares e a comunidade como um todo. Temos acertado na comunicação também, valorizando quem está na ponta, trabalhando e colocando em prática o programa. Acho que a maior importância do Esse Rio é Meu é inspirar e fazer com que as pessoas se conscientizem de que é, primeiro, possível reverter um quadro de degradação como o qual a gente vive. E, em segundo lugar, que é importante contagiar diferentes municípios e gestões públicas para a causa, mostrando resultados que inspiram cada vez mais.

revistapontocom – Como foi a participação das unidades escolares em 2024?
Silvana Gontijo –
Foram implementados muitos projetos interdisciplinares em várias escolas e segmentos, da Educação Infantil ao primeiro e segundo segmentos do Ensino Fundamental, passando pela Educação de Jovens e Adultos e pelo Ensino Especial. Isso é muito rico, o que levou, inclusive, a criarmos uma premiação das melhores práticas. Vamos premiar duas escolas de cada Coordenadoria Regional de Educação (CRE) e seus professores. Podemos observar, na prática, uma verdadeira mudança de cultura no território, uma metodologia inovadora sendo implementada nas escolas e, segundo o próprio secretário municipal de educação do Rio de Janeiro, Renan Ferreirinha, o fato de o programa ter contribuído inclusive para o IDEB das escolas do município, afinal trata-se de um projeto que estimula muito a leitura e a escrita dos estudantes. Há uma série de narrativas produzida por crianças e professores em diferentes linguagens e tecnologias. Do ponto de vista do território em torno da escola, estamos falando de uma mudança de cultura daquela comunidade. Em vez de ver o rio como um espaço onde se joga o lixo, a população passa a entender exatamente o contrário, que o rio pode voltar a ser limpo e o primeiro passo é não jogar mais lixo.

revistapontocom – Mas um programa como esse deve enfrentar muitos desafios, certo?
Silvana Gontijo –
Muitos desafios. Começando pelo que sempre acontece quando se propõe uma ação inovadora nas estruturas da educação pública: resistência. Estamos falando de uma mudança de paradigma, de uma educação tradicional para uma educação interdisciplinar voltada para e a partir de uma causa, uma causa de transformação de um território. De um modo geral, quem trabalha com inovação, e o planetapontocom tem como missão desenvolver soluções inovadoras para a educação pública brasileira, via de regra, se encontra do lado de quem lida com a resistência. Mas, ao longo dos anos, fomos aprendendo a mostrar o que se ganha com essa proposta de mudança. Hoje, sabemos trabalhar bem melhor e com muito mais eficácia e eficiência com essas questões. Os resultados mostram o quanto avançamos. Foi muito desafiador também articular um termo de cooperação com a Prefeitura do Rio a partir do trabalho conjunto de duas secretarias, a da Educação e do Meio Ambiente e Clima. Isso não é uma coisa usual. Exigiu uma articulação política, uma sensibilização das duas áreas. A implementação do programa nos territórios da cidade por meio das Coordenadorias Regionais de Educação e de suas unidades também foi desafiadora. Os rios não são de um território único. Então trabalhamos na compreensão de que estamos diante de um sistema vivo, a cidade é um sistema vivo. E quanto melhor a gente se comunica, quanto mais articulamos forças, mais exitosa é a ação e mais benéfica é para aquele território. Em meio a toda essa caminhada temos a questão da emergência climática que se definiu e se explicitou nesse último ano. Isso exigiu e exige um esforço muito mais efetivo e intenso com relação ao meio ambiente. Precisamos trazer para dentro do programa mais experiências de prevenção de desastre e outros pontos que foram debatidos no encontro do G20, na Conferência do Clima e que serão objetos de discussão também na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas deste ano, em Belém, no Brasil. São questões do presente, não mais do futuro. Temos que adequar os nossos conteúdos para isso, para essa nova realidade.

revistapontocom – O que esperar do programa Esse Rio é Meu em 2025?
Silvana Gontijo –
A perspectiva do programa no Rio de Janeiro para 2025, 26 e 27 é de continuação e ampliação. Temos um novo contrato já firmado com a concessionária Águas do Rio e um termo de cooperação mais específico com a Prefeitura do Rio. Queremos aprofundar o debate em torno da vocação dos territórios nos quais os rios estão localizados. A partir do momento em que o rio é recuperado ele se torna um espaço de convivência, de turismo ecológico, assume portanto outras funções. Na prática, deixa de ser um espaço negligenciado para ser um espaço utilizável. Precisamos então pensar em novas formas de uso deste território. Qual é a vocação de um rio, localizado num território específico, num determinado contexto? Por isso, vamos desenvolver ações, de forma piloto, de capacitação em empreendedorismo. Começaremos com um grupo de mães e jovens estudantes. Serão capacitados, monitorados e avaliados. Haverá um trabalho de mentoria para implementar seus projetos de empreendedorismo ligados ao rio. Ao mesmo tempo, ao longo de 2025, vamos criar condições para que, em 2026, possamos implementar o Esse Rio é Meu no Ensino Médio. Estamos falando das escolas do Estado do Rio. É outra articulação, perspectiva completamente diferente. Quando se pensa em interdisciplinaridade no Ensino Médio, o desafio é muito grande. A cada ano letivo, temos aproximadamente 22 componentes curriculares. Não é trivial.

revistapontocom – E o que dizer da tríade setor público, privado e sociedade civil organizada? Vem dando certo?
Silvana Gontijo –
Acredito realmente nas parcerias. Acredito no mundo que a gente vive, mesmo com a complexidade dos problemas. Não se pode acreditar que as transformações que a nossa sobrevivência exige possam depender exclusivamente do setor público. Sabemos que nós, como indivíduos, temos um papel decisivo, tanto exigindo a implementação exitosa das políticas públicas quanto propondo novas políticas. Neste sentido, precisamos também exercer a nossa cidadania de articular ações individuais e coletivas em nosso território. Por outro lado, as empresas, o setor privado, não dão conta sozinhas. Então, estamos falando de uma união de forças com um objetivo comum. É do interesse da concessionária Águas do Rio, que nos patrocina no Rio de Janeiro, que uma ação de educação e de meio ambiente aconteça sob seu patrocínio. É do interesse dela também que essa parceria se dê, principalmente, no seu campo de atuação: fornecimento e saneamento. Os orçamentos das esferas públicas, por exemplo na área da Educação, estão quase que completamente comprometidos com folha de pagamento, implementação de novas escolas e ampliação do horário integral. Enfim, são muitas questões que os orçamentos públicos têm que dar conta. Portanto, essa união de forças é muito importante. O planetapontocom tem uma história de implementação de programas inovadores, bem-sucedidos e que se transformam em políticas públicas. A ideia é essa: uma instituição como a nossa trabalhando com a prefeitura e em conjunto com o seu próprio patrocinador. Acho que isso é uma das razões do êxito do Esse Rio é Meu. Estamos juntos trabalhando com um objetivo em comum: a recuperação dos rios de toda a cidade.

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