Esse Rio é Meu: GET Cândido Campos faz uso da iniciação científica para instigar e envolver estudantes na revitalização do Rio Valqueire

GET fica localizado no bairro de Vila Valqueire, Zona Oeste do Rio.


Relato de experiência
Professora Kátia Cristina Gil Antunes Alcântara
Ginásio Educacional Tecnológico Cândido Campos

(edição Marcus Tavares)

Em 2023, iniciamos o Programa Esse Rio é Meu, com as turmas do 8º e 9º anos, nas aulas de Geografia, durante a semana do Dia Mundial da Água, promovendo atividades com o objetivo de despertar a curiosidade dos alunos e colocar em discussão assuntos relacionados à importância de cuidar dos recursos hídricos, essenciais para a nossa sobrevivência.

Na sequência, visitamos o Rio Valqueire in loco e instigamos os estudantes a iniciarem uma pesquisa bibliográfica sobre o córrego, levantando diferentes questões para um primeiro diagnóstico do rio: localização, características históricas e físicas. Após o estudo, discutimos sobre os problemas encontrados. Foi interessante pois, por meio das pesquisas, os alunos construíram mapas mentais, desenhos, maquetes e outros recursos didáticos que demonstrassem os principais problemas encontrados: assoreamento, poluição e enchentes.

O programa Esse Rio é Meu é desenvolvido em conjunto pela Secretaria Municipal de Educação e pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio, em parceria com a oscip planetapontocom e a concessionária Águas do Rio – patrocinadora do programa. O objetivo do programa é engajar escolas na recuperação e preservação dos rios. Cada grupo de escolas da rede pública de ensino do Rio ficou responsável por desenvolver ações em torno de um dos corpos hídricos da cidade. O GET Cândido Campos vem trabalhando com o Rio Valqueire.

Resolvemos então construir um mural informativo dessa etapa para divulgar nossos achados para toda a comunidade escolar. Além do mural, criamos um Padlet nas aulas de Geografia, ministradas pela Prof.ª Kátia Gil, no colaboratório do GET, que nos permitiu registrar, guardar e partilhar o trabalho que vinha sendo desenvolvido.

Ao final da primeira etapa, os alunos concluíram que o Rio Valqueire tinha sido transformado em um grande “valão”, estando seu leito canalizado, assoreado, o que compromete o escoamento natural, causando frequentes enchentes na estação chuvosa, acarretando danos à população. Os estudantes perceberam a grande quantidade de detritos sólidos no curso do rio, como sacolas plásticas, copos plásticos, garrafas, caixas de papelão e papéis diversos. Por se tratar de um rio canalizado, tal poluição compromete o escoamento natural, e, portanto, suscetível ao transbordamento em períodos de chuvas intensas, causando alagamentos e enchentes em seu entorno.

O que fazer então?

Algumas medidas foram propostas e avançaram na escola. Os estudantes constataram que o descarte de óleo de cozinha, por exemplo, é um problema ambiental que precisava ser abordado. Criamos um ecoponto na escola para descarte correto do óleo. Os alunos produziram cartazes informativos para divulgação na escola e foram em todas as turmas para explicar os impactos do descarte irregular do óleo, como deve ser descartado de forma correta e o que pode ser feito com ele.

Ao mesmo tempo, os estudantes também se debruçaram na produção de folders e panfletos, materiais informativos, contendo dicas de ações para aumentar a consciência ambiental que é a base para um futuro sustentável. Criaram panfletos e folders com orientações de condutas adequadas para diminuir os impactos negativos sobre os recursos hídricos. Realizamos uma panfletagem na Avenida Jambeiro e nas ruas próximas da escola.

O programa Esse Rio é Meu possibilitou uma conscientização entre os estudantes bem fundamentada. O conceito de Pegada Ecológica foi amplamente discutido entre os estudantes. Concluíram que a sociedade precisa reduzir a pegada ecológica e adotar hábitos mais conscientes e responsáveis. Foi a inspiração para a confecção de um mural com exemplos de pequenas ações diárias que podem fazer uma grande diferença nas “pegadas” que deixamos no planeta.

Ficou claro também para os jovens que os “valões de esgoto”, espalhados pela cidade, na verdade são rios que durante o processo de urbanização foram canalizados, escondidos no subsolo, sob a influência de modelos que pouco levaram  em conta os fluxos e processos naturais. Iniciativas que transformaram os rios urbanos em canais artificializados, de cor e cheiro desagradável, sem vida animal ou vegetal.

Ao final das ações a pergunta que os estudantes se faziam era: É possível recuperar os rios?  É possível, ao menos, buscar formas de ressignificar a relação dos habitantes com esses corpos d’água que, embora degradados e escondidos, continuam existindo no território?

Fomos em busca de respostas e, através de muita pesquisa nas aulas de Geografia e História, observamos que as mudanças de atitudes perante às questões ambientais aos poucos vêm construindo uma nova cultura de valorização dos rios urbanos. Encontramos exemplos internacionais e nacionais que podem servir de inspiração para o desenvolvimento de ações em nossos rios, lembrando que é preciso considerar as particularidades da nossa realidade urbana, que pode se tornar ainda mais complexa quando se considera a vulnerabilidade social e ambiental, caracterizada pela ocupação irregular das áreas periféricas da cidade e uma vasta degradação ambiental sem a devida fiscalização.

Não basta apenas pensar em soluções inovadoras e criativas de infraestrutura dos nossos recursos hídricos. É necessário enxergar o problema a partir de um olhar multisetorial e reconhecer que existem variadas causas, cujas respostas exigem planejamento e vontade política para se pensar em soluções que não apenas desacelerem a degradação dos recursos hídricos, mas gerem mudanças sociais.

A que conclusão chegamos? Cabe aos pesquisadores, ao poder público (como representante legal da população) e a cada cidadão (como parte de sua cidade) assumir um papel decisivo para a construção da cidade sustentável que se deseja.

A ciência está em constante evolução e, por isso, é importante que os alunos sejam incentivados a entenderem a importância do conhecimento científico e como ele pode ser aplicado no seu dia a dia. Com o desenvolvimento do programa Esse Rio é Meu ficou claro que a iniciação científica é fundamental para a formação dos alunos e pode ser inserida desde cedo no ambiente escolar.

Como culminância, preparamos uma exposição com uma amostra de todas as etapas desenvolvidas e com a apresentação oral dos alunos sobre as maquetes criadas para explicar os assuntos estudados. O projeto contribuiu para que os alunos explorassem o conhecimento e compreendessem que a iniciação científica pode ser divertida e relevante para o futuro.

É importante que os professores estejam sempre buscando formas de tornar a ciência mais atraente e relevante para os alunos, despertando neles o gosto pela investigação e pela descoberta. Projetos de iniciação científica bem estruturados e divertidos podem ser a chave para formar jovens cientistas e incentivar o desenvolvimento de habilidades importantes para o futuro dos alunos.

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