Em defesa do midiaeducador

“Não se trata de um técnico da área, um especialista, mas de uma pessoa que conhece os meandros das duas áreas  e que sabe dialogar com todos os profissionais envolvidos em um processo de produção de mídia – agindo como um coordenador”, Pier Cesare Rivoltella.

rivoltella 

Por Marcus Tavares

Professor da Universidade Católica de Milão e vice-presidente da Associazione Italiana per l’educazione ai media e alla comunicazione (MED), Pier Cesare Rivoltella, esteve esta semana no Rio de Janeiro, participando de uma palestra no Departamento de Educação da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio). Estudioso da relação entre mídia e educação, Rivoltella defende a formação de um novo profissional: o midiaeducador, que, além de atuar como educador para e com os meios, poderia atuar junto a empresas de produção e exibição em favor da qualidade das produções de mídia dirigidas para crianças e adolescentes.

É curioso como o debate da mídia nas escolas avança, mas de forma lenta em todo o mundo. Em 2007, conversei com o professor sobre a importância do novo profissional. Relendo a entrevista hoje, considero o tema ainda mais pertinente. Os desafios são os mesmos, assim como as resistências.

Confira:

Como o senhor definiria midiaeducação?
Pier Cesare Rivoltella
– É um campo de pesquisa e intervenção relativamente novo e bastante abrangente. Tem o objetivo de promover uma educação com a mídia, por meio dela e sobre ela, levando em conta as implicações deste processo no dia a dia da sociedade e como esta própria sociedade interpreta esta influência. Antigamente, o binômio mídia educação era entendido apenas como um movimento que incentivava o uso dos aparatos tecnológicos (da mídia) no cotidiano escolar. Hoje, o conceito é outro, evoluiu. Midiaeducação é muito mais do que isso: é um campo de pesquisa e de ação que ultrapassa os muros da escola e que, portanto, merece estudo e atenção. Na Itália, estas duas áreas (comunicação e educação), infelizmente, não dialogam entre si. Os educadores não estabelecem nenhuma ligação com a mídia. Já os comunicadores acreditam que as questões educacionais não lhes dizem respeito – são problemas dos educadores. É muito difícil convencer os educadores de que a mídia é parte do processo de suas ações. Eles entendem a mídia apenas como ferramentas opcionais do seu trabalho diário na escola.

Qual seria a formação deste novo profissional?
Pier Cesare Rivoltella
– O midiaeducador deve saber trabalhar com a comunicação e deve ter também conhecimentos da área educacional. Não se trata de um técnico da área, um especialista, mas de uma pessoa que conhece os meandros das duas áreas (comunicação e educação) e que sabe dialogar com todos os profissionais envolvidos em um processo de produção de mídia – agindo como um coordenador. Além das escolas, o mercado de trabalho carece deste profissional, seja nas empresas de comunicação, nas produtoras, nas agências de publicidade ou nos sets de filmagens. Atualmente, as empresas de mídia têm apenas uma visão mercadológica e comercial de seus produtos. Não apresentam nenhuma preocupação com as implicações e influências que seus produtos possam causar na sociedade, em especial nas crianças e adolescentes. Estamos pressionando as instituições italianas a aceitarem este novo profissional em seus quadros. O trabalho é lento, mas necessário.

Mas, na prática, qual a importância deste profissional para a sociedade?
Pier Cesare Rivoltella
– O midiaeducador surge como uma resposta da própria sociedade ao mundo globalizado, comercial e midiático em que vivemos. É uma resposta de todos nós à Sociedade de Consumo do mundo ocidental. Este profissional representa a figura de um interlocutor entre a sociedade e as empresas de comunicação, entre a sociedade e o poderio da mídia. Portanto, é este profissional que garantirá, por exemplo, a qualidade da programação e o exercício dos direitos das crianças e dos adolescentes, bem como a formação de uma audiência crítica e reflexiva. Na Itália, vivemos uma situação peculiar. Nosso primeiro ministro exerce controle sobre as três redes de TV nacional e também é sócio do maior grupo editorial e televisivo italiano.

A Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo defende a formação do educomunicador, profissional ligado às áreas da comunicação e da educação que tem o objetivo de trabalhar estas questões dentro da escola. Midiaeducador e educomunicador seriam a mesma pessoa?
Pier Cesare Rivoltella
– O chamado Educomunicador, difundido aqui no Brasil pela Universidade de São Paulo, por meio do professor Ismar de Oliveira, é o resultado do desenvolvimento do educador. É a nova fronteira do professor. Educomunicador é aquele que trabalha com a mídia na educação, na escola. Hoje, todos os educadores precisam ser educomunicadores, afinal é praticamente impossível trabalhar na escola sem articulá-la com a mídia. O midiaeducador é mais amplo. Ele não é um profissional que trabalha, prioritariamente, na escola. Ele é um profissional que está apto a trabalhar nas empresas de comunicação, gerenciando e supervisionando as produções de acordo com os interesses da sociedade e os direitos das crianças e dos adolescentes. São duas figuras muito importantes que se complementam, mas diferentes. Neste campo, podemos ainda identificar um terceiro profissional: o chamado educador de multimeios, que tem o objetivo apenas de alfabetizar a criança ou o adolescente no mundo eletrônico.

Neste sentido, como se dá a articulação entre a mídia e a educação nas escolas italianas? Os professores estão avançados neste processo, reconhecem a importância desta interface?
Pier Cesare Rivoltella –
Os professores não estão preparados. Os cursos de formação não abrem espaço para esta discussão e consequentemente não preparam os profissionais para esta realidade. Muitos professores ainda acreditam que midiaeducação se resume apenas na utilização dos aparelhos na sala de aula. É difícil convencê-los de que a mídia deve ser parte do processo, deve estar articulada com o cotidiano dos alunos e que deve ser, inclusive, objeto de estudo. Para mudar este cenário, as universidades vêm desenvolvendo projetos e oferecendo cursos de atualização para os professores. Criamos também na Itália a Associazione Italiana per l’educazione ai media e alla comunicazione (MED), que tem o objetivo de intercambiar experiências entre os professores e divulgar projetos bem sucedidos para a sociedade. Avançamos, mas é preciso muito mais. É necessário que haja um comprometimento político para que efetivamente este campo de trabalho tenha êxito. Nos anos 90, não tínhamos praticamente nenhum curso sobre mídia e educação nas universidades. Hoje, 15 anos depois, pelo menos, 12 instituições já oferecem algum módulo nesta área.

E como as empresas de comunicação veem a importância deste novo profissional?
Pier Cesare Rivoltella
– Com certa resistência. O midiaeducador está muito pouco presente. Os obstáculos ainda são muitos. A Itália carece, por exemplo, de uma regulamentação mais enérgica sobre a programação televisiva. A lei estabelece uma faixa horária especial reservada para o público infantil, que vai das 10 às 20 horas. No entanto, devido ao ritmo de vida cada vez mais acelerado, as crianças assistem, em sua grande maioria, à TV após as 20 horas. Em uma recente pesquisa, a MED entrevistou crianças e adultos sobre a qualidade da programação da TV. As crianças se mostraram mais críticas do que os adultos. Elas reivindicaram um conteúdo mais educativo e uma linguagem mais próxima de sua realidade. O fato é que o espaço para a TV Educativa na Itália é muito pequeno. Por outro lado, as TVs comerciais também não estão interessadas em investir recursos em novos formatos. Grande parte da programação televisiva italiana é importada.

Texto publicado inicialmente no site do Rio Midia

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Children's Watches
14 anos atrás

Desde relógios das crianças muitas vezes são ostentados por crianças de idades muito jovem, pode ser difícil ensinar os diferentes elementos de um pedaço de tempo e como ler as mãos de relógios para crianças, para não mencionar a diferença entre AM e PM. Relógios digitais tornam mais fácil para as crianças a reconhecer e recitar o tempo, eo tempo digital pode ajudar a criar uma fundação para as verdadeiras lições sobre a forma de contar o tempo, como as crianças têm alguma base para o retirar. No lado oposto, muitos especialistas epais dizem que relógios digitais aleijar o processo de aprendizagem. Eles tornam mais difícil para a criança ir a rota mais difícil de aprender a dizer o tempo convencional, quando a lição da escola surge inevitável. No final, se a criança pode se beneficiar ou ser aleijado por relógios infantil digital é de até o pai.

aylê-salassié f. quintao
aylê-salassié f. quintao
14 anos atrás

Caro professor Rivotella e caro Marcus Tadeu,
Acho que ambos esta equivocados: um , porque achou ruim republicar a sua entrevista; o outro porque está fazendo quase uma auto-comisseração. O primeiro mostra que, como teórico multieducaçao precisa se aproximar mais da realidade da mídia, que tem situaçoes que só a cotidianidade nos ensina; o segundo, fez o que tinha de fazer mesmo, já que nao havia como cobri a fala do professor. Eu diria: parem com isso! Os dois estão na mesma trilha, e uma trilha altamente saudável. O que vão pensar as pessoas que nao transitam nessa área? Pois, professor , pergunto se o sr. for ficar mais tempo no Brasil estaria disposto e vir conversar conosco, professores e estudantes dos cursos de Comunicaçao e de Educaçao da Universidade Católica de Brasìlia?
Parabéns pela conduçao da temática. Nós também estamos pensando nisso por aqui.
Abraços para ambos.
Aylê-Salassié

Pier Cesare Rivoltella
14 anos atrás

Muito estranho que esta entrevista (que por quanto lembro foi dada por mim em 2007 na MUltirio) esteja saindo agora. Muitas das coisas que naquela entrevista eu estava colocando, hoje não são mais atuais: por exemplo a possibilidade – pelos menos na Europa – de um profissional especifico como eu pensava que fosse o mídia-educador. Eu acho que ao colocar a entrevista na web sería mais correto indicar a data na qual ela foi dada.

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