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Educação midiática transforma estudantes em protagonistas de suas realidades

Alunos recebem aulas de educação para os meios e refletem a pandemia em canais criados e administrados por eles nas redes sociais

Flavia Perez.

A definição do conceito de midiaeducação vem sendo construída ao longo dos últimos anos por educadores, comunicadores e pesquisadores. Nas escolas brasileiras, a educação para os meios é aplicada atualmente tanto como uma disciplina extracurricular ou eletiva, quanto na concepção metodológica de educação inovadora, que transforma o estudo compartimentado nas matérias do currículo escolar em conhecimento trans e interdisciplinar. Mas por que educar com e sobre os meios?

Construída desde os anos 1970 em diversos países, a proposta de educação midiática consiste em um trabalho educativo sobre os meios, com os meios e pelos meios, no qual são estudados e analisados conteúdos presentes nos diferentes meios de comunicação e suas linguagens. A definição abre espaço para um entendimento de que o ser humano é em si, meio e mensagem e, portanto, suas habilidades para comunicar — a oralidade, a comunicação não verbal, a escrita e leitura e as expressões artísticas — são objeto de atenção fundamental, em midiaeducação.

No contexto da pandemia de Covid-19, mesmo com as aulas presenciais interrompidas, estudantes de escolas do Rio e de São Paulo refletem sobre o momento atual em canais criados por eles nas redes sociais, enquanto aprendem e vivenciam na prática a produção de conteúdos de mídia.    

Em São Paulo, na Escola Nossa Senhora das Graças (Gracinha), alunos do ensino médio participam de forma remota e opcional das atividades de educação midiática usando ferramentas de videoconferência. Um dos resultados foi a criação do perfil “Diário de Quarentena” (@diario.dequarentena) na rede social Instagram.

https://www.instagram.com/p/CBEV_FZBC5H/?igshid=12crdhsbdnn1q
Estudantes de ensino médio criam perfil @diario.dequarentena na rede social Instagram para refletir a pandemia

No perfil, vinte estudantes publicam imagens embasadas na teoria de ‘gestalt’, campo de conhecimento relacionado à educação, design, entre outras áreas. Com a possibilidade de experimentar a produção de conteúdo na prática, os estudantes entendem melhor o funcionamento da mídia e se transformam em protagonistas de suas realidades.

Já na Escola Lourenço Castanho, também na capital paulista, a educação para os meios envolve todos as etapas educacionais, da educação infantil ao ensino médio, abrangendo desde a formação de professores ao trabalho realizado junto aos estudantes e com os pais. Mesmo durante o período de isolamento social, os conteúdos continuam sendo trabalhados por meio do ensino remoto, sendo facultativa a participação.

Atualmente, existe na BNCC uma oportunidade de educação sobre a mídia no Ensino Fundamental II, que contempla o campo do jornalismo midiático. Segundo o jornalista e escritor Alexandre Le Voci Sayad, que tem uma trajetória de 20 anos de estudos e vivências práticas com a educação para os meios e coordena projetos de midiaeducação nessas duas escolas, a educação midiática vem ganhando relevância no debate público devido ao avanço das tecnologias digitais e por questões conjunturais, como a Covid-19.

“Há duas décadas começamos a realizar esses experimentos, desenhando o avanço da educação para os meios que podemos perceber hoje no ambiente escolar. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) trouxe oportunidades para a educação midiática, fator que vem contribuindo para empoderar educadores e gestores escolares a aplicá-la. Mesmo assim, o desafio de colocar o tema como um conjunto de habilidades imprescindíveis às crianças e jovens de hoje continua vivo, apesar de diferentes circunstâncias, entre elas as fake news, que apontam a necessidade de educar para os meios”, explica Sayad.  

Projetos que ajudam os estudantes a entender o funcionamento da mídia, motivando-os a produzir conteúdo, começam a surgir também na rede pública de ensino. Na Escola Municipal Finlândia, no Rio de Janeiro, o ensino de educação midiática começou a ser introduzido depois que o grupo de teatro da escola foi selecionado para participar do maior Festival de Teatro Estudantil do país em Minas Gerais.

Para dar visibilidade a esse e a outros projetos, o professor de Ciências Edson Dionísio decidiu criar as redes sociais da escola. Contudo, ao perceber a participação ativa dos alunos, Edson viu a oportunidade de envolvê-los na produção de conteúdo e deu a eles autonomia para administrar as mídias sociais. Assim nasceu o Time F, com perfis no Facebook e no YouTube.

Estudantes da Escola Municipal Finlândia com o professor de Ciências Edson Dionísio, em dezembro de 2019

Mesmo durante a pandemia, com atividades realizadas remotamente e em caráter facultativo, os estudantes criaram um conteúdo audiovisual para divulgar a ferramenta de videoconferência usada pela Secretaria Municipal de Educação para realização das aulas remotas. O vídeo, que tinha como objetivo facilitar o uso da plataforma, obteve alcance expressivo entre os seguidores do perfil da escola.

Outra ação relevante foi o lançamento da série “Fato ou Boato”, apresentada por uma aluna do 9º ano que integra o projeto. Nela, os estudantes buscam desmistificar notícias e mitos que, embora equivocados, são muito difundidos. Ao todo, foram produzidos 28 vídeos, que tinham como objetivo estimular os alunos a pesquisar e checar informações antes de passar uma notícia adiante.

“Quando o trabalho de um aluno é divulgado pela escola em suas redes sociais, o conteúdo ganha a visibilidade do grupo, o que gera um impacto muito positivo no processo de aprendizagem e na maneira como o aluno começa a pensar as atividades, além de inspirar a aplicação por outras escolas”, detalha o professor Edson.

Ainda que muitos estudantes estejam conseguindo ter acesso à educação durante a pandemia, 258 milhões de crianças e jovens foram excluídas da educação, uma vez que a pandemia da Covid-19 ampliou ainda mais o impacto das desigualdades sociais. Os dados constam no Relatório de Monitoramento Global da Educação de 2020, lançado em junho pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). De acordo com o documento, 9 em cada 10 estudantes estão fora da escola por causa da pandemia de Covid-19.

No Brasil, as aulas presenciais foram suspensas em todo o país. O ensino remoto emergencial implantado por algumas escolas não alcança todas as crianças e jovens brasileiros da mesma maneira, devido a limitações tecnológicas e de acesso. Dados do relatório da Unesco apontam que menos de 10% dos países têm leis que ajudam a garantir a inclusão plena na educação.

Bibliografia:

  • Idade Mídia (Ed. Aleph) – Alexandre Le Voci Sayad;
  • Por Dentro dos Meios (Ed. Planetapontocom) – Silvana Gontijo, Mariana Pinho, Eduardo Monteiro e Marinete D`Angelo;
  • Crianças, Mídias e Diálogos (Ed. Rovelle) – Guaracira Gouvea;
  • Ensinar e Aprender no Século 21 (Editora Senac) – Marcia Stein;
  • Televisão, Publicidade e Infância (Ed. Annablume) – Inês Vitorino;
  • Praticante Pensante de Cotidianos (Ed. Autêntica) – Nilda Alves;
  • O Jornal na Sala de Aula (Ed. Contexto) – Maria Alice Faria;
  • Liga, Roda, Clica. Estudos em Mídia, Cultura e Infância (Ed. Papírus) – Monica Fantin;
  • A Televisão pelo Olhar das Crianças – Rosália Duarte (Ed. Cortez);
  • Protagonismo Juvenil – Antônio Carlos Gomes da Costa (Ed. FTD).

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