Por Marcus Tavares
Em abril deste ano, a revistapontocom foi até ao CIEP Presidente Agostinho Neto, localizado no Humaitá, Zona Sul do Rio, para conhecer de perto as estratégias que a direção e coordenação pedagógica estavam traçando para envolver toda a comunidade escolar – da Educação Infantil ao Ensino Fundamental (anos iniciais) – na implementação e desenvolvimento do projeto Esse Rio é Meu. (clique aqui e leia a reportagem de abril) Passados oito meses, a escola abriu suas portas no último dia 22 de novembro para mostrar o quanto o investimento e dedicação deram resultados.
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Resultados que, de acordo com a diretora Isabela Mendes, não se medem apenas nas atividades desenvolvidas – e com sucesso – ao longo do ano letivo por um time de professores e agentes educadores comprometidos, mas no processo de reflexão e de protagonismo das próprias crianças.
“Começamos no início do ano planejando e abrindo espaço na agenda da escola para que todos pudessem estar e participar de encontros e reuniões sobre o projeto, o que exigiu muito esforço e diálogo. O Dia Mundial da Água, em 22 de março, foi um dia emblemático que marcou o início de nossas atividades com os estudantes. Data que contou com a presença dos secretários municipais de Educação e do Meio Ambiente da Prefeitura do Rio e da jornalista Miriam Leitão. De lá para cá, produzimos muitas coisas. E o que fica também, além do protagonismo das crianças, é a integração de todas as disciplinas. Conseguimos envolver todos os professores, os regentes, os profissionais de Arte, de Música, de Língua Inglesa e de Educação Física, de forma transversal. Conseguimos mesmo. Arrisco dizer que começamos timidamente, mas as atividades foram ganhando uma proporção muito, muito grande e conquistando a comunidade”, avalia Isabela.
clique aqui e leia a reportagem do Dia Mundial da Água
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O projeto Esse Rio é Meu é desenvolvido em conjunto pela Secretaria Municipal de Educação e pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio, em parceria com a oscip planetapontocom e a concessionária Águas do Rio – patrocinadora do programa. O objetivo do programa é engajar escolas na recuperação e preservação dos rios. Cada grupo de escolas da rede pública de ensino do Rio ficou responsável por desenvolver ações em torno de um dos rios da cidade. O CIEP Agostinho Neto se debruçou sobre o Rio Banana Podre, cuja nascente está localizada no Morro Dona Marta e desemboca na enseada de Botafogo.
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Timidez nos bastidores, talvez. Para quem conferiu as apresentações das turmas no dia 22 de novembro a palavra não fez parte do glossário do evento. “Estudantes e professores da escola pública têm enorme potencial. Isso não surpreende. Mas o que chamou a atenção foi que em pouco tempo houve, de fato, um envolvimento profundo e interdisciplinar da escola, conjugado com um pensar que foi além das preocupações com a preservação e recuperação do Rio Banana Pobre. Um pensar sobre a vida, sobre o próprio ser humano”, destaca Silvana Gontijo, presidente do planetapontocom, idealizadora do programa Esse Rio é Meu.
No evento, as turmas de Educação Infantil mostraram um trabalho sobre a importância da limpeza dos rios, o cuidado com a separação e o descarte do lixo, trazendo um olhar crítico sobre o meio ambiente e a responsabilidade que todos os seres humanos devem ter com o mundo em que vivem. Apresentaram uma dança, mostrando que o peixinho fica feliz morando num rio limpo. Outra turma também se envolveu com uma atividade de pesquisa comparando os dados sobre a qualidade da água da nascente do rio e da água que chega à Praia de Botafogo. Cartazes foram produzidos para destacar e reiterar a necessidade de recuperar e preservar o Rio Banana Podre.
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As turmas de 1º ano apresentaram histórias sobre a importância do cuidado que foram exploradas ao longo do ano, por meio de um trabalho desenvolvido nas aulas de Língua Inglesa. A linguagem audiovisual foi bastante explorada para documentar o processo e o resultado foi registrado num vídeo produzido com a participação das crianças.
No 2º ano, a pesquisa também foi um ponto chave. Os estudantes tiveram a oportunidade de visitar, in loco, a nascente do Rio. Levantaram a história do Rio Banana Podre e fizeram diferentes conexões disciplinares sobre o tema. Em contato com docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), uma das professoras conseguiu viabilizar, via o Laboratório de Engenharia do Meio Ambiente (Lema), a análise da água em três pontos da nascente até a Praia de Botafogo. Puderam, de uma forma bem prática e em tempo real, comparar a qualidade da água e perceber o quanto o esgoto contamina e prejudica o rio. Um vídeo também foi produzido contando o processo.
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E não ficou por aí. Conhecendo o processo de criação e tramitação de projetos de lei, via a coordenação da Secretaria de Obras da Prefeitura do Rio, os estudantes propuseram um projeto de lei que institui na cidade uma grande campanha de conscientização de limpeza dos rios e de fiscalização, bem como uma identificação, por meio de placas, dos diferentes rios da cidade, que, canalizados por baixo do asfalto, não são percebidos pela população.
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Outra turma resolveu ainda escrever uma carta aberta para o prefeito da cidade, Eduardo Paes. “Por favor, ajude a gente a cuidar desse rio: deixando o rio em algumas partes a céu aberto para entrar luz do sol e poder acontecer a fotossíntese, tendo alimento para as plantas, animais e produzir oxigênio; desviando o esgoto e limpar o rio; colocando plantas nas margens do rio; fazendo uma campanha para que as pessoas ajudem, não jogando lixo ou líquidos sujos no rio e nas ruas; e tendo guardas municipais para observar e ajudar as pessoas a cuidarem do Rio Banana Podre. A gente está muito feliz por ter aprendido bastante e está todo mundo ansioso por sua reposta positiva para que o nosso rio fique limpo e melhore o nosso meio ambiente”, diz trecho da carta.
Já os estudantes do 3º, 4º e 5º ano utilizaram a linguagem musical para mandar o seu recado. Por meio de paródias musicais e do samba, expuseram suas reflexões, sentimentos e desejos por um mundo melhor. Os do 6º ano, além de confeccionarem maquetes, retratando o entorno do Rio Banana Podre, participaram de diversas ações de conscientização. As meninas, inclusive, se envolveram com um projeto, vinculado à Faperj, chamado “A química ambiental através de jovens cientistas’, na qual as estudantes visitaram a nascente do rio e desenvolveram atividades de análise da qualidade da água e ações proativas de intervenção.
Nas ações apresentadas pelas diferentes turmas havia uma costura conceitual que perpassava cada atividade: o cuidado com o outro, com o humano. Para além da recuperação e preservação do Rio Banana Podre, a comunidade deixava claro que é preciso, antes de mais nada, que o ser humano tenha como premissa o cuidado consigo e com o próximo. “Cuidando das pessoas, estamos cuidando do contexto em que vivemos, o que impacta diretamente o nosso meio ambiente”, finaliza Isabela.