No Dia Mundial da Água, estudantes do Rio assumem protagonismo ambiental

Evento aconteceu no Ciep Pres. Agostinho Neto, Humaitá, Rio de Janeiro.

Por Marcus Tavares

A receita é simples: um ensina para o outro e, ao final, todos aprendem a cuidar da água. Quem garante é Clara Silva, de 7 anos, estudante da turma 1202, do CIEP Presidente Agostinho Neto, localizado no Humaitá, Zona Sul do Rio. Ao lado de seus colegas do 2º ano do Ensino Fundamental, ela participou, na manhã de hoje, de um dia cheio de atividades para celebrar o Dia Mundial da Água. “É assim: a minha avó ensinou para minha mãe. E a minha mãe e a minha professora me ensinam a cuidar da água. No final, todo mundo aprende. E água fica feliz”, explicou Clara que, com a ajuda de suas amigas, fez um desenho que sensibilizou toda a escola: uma médica ao lado de um planeta cheio de machucados. “A médica está aí para salvar o planeta”, resumiu.

Menina Clara Silva e seu desenho (foto: André Luiz Mello)

Se depender da comunidade escolar, a médica, criada por Clara, contará com a ajuda dos professores, estudantes e seus responsáveis. Segundo a diretora do CIEP, Isabela Praseres Mendes, a escola está, desde o final do ano passado, participando do projeto Esse Rio é Meu, que vem sendo desenvolvido em conjunto pela Secretaria Municipal de Educação e de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio, em parceria com a oscip planetapontocom, com o objetivo de engajar escolas na recuperação e preservação dos rios. “Assim que o projeto foi lançado nossa escola passou a fazer parte. De lá para cá, todas as turmas, especialmente as do 2º ano, estão envolvidas nessa discussão de preservação e recuperação dos rios. O que tem muito a ver com a nossa rotina de ser uma escola que se preocupa com o meio ambiente, com a sustentabilidade e com o nosso trabalho de envolver funcionários, professores, estudantes e suas famílias”.

Professora de Clara, Melissa Quintanilha é uma das docentes da linha de frente do programa. “Esse projeto veio a acrescentar mais discussão e reflexão ao nosso planejamento. Sempre trabalhamos a questão da água, mas agora estamos tendo a chance de nos aprofundar mais e trazer a realidade dos rios para o contexto da sala de aula, o que é muito bom e interessante”.

Professora Melissa ao lado da estudante Clara. (foto: André Luiz Mello)

Um dos rios que estão sendo pesquisados e estudados pela turma da professora Melissa é o Rio Banana Podre, cuja nascente está localizada no Morro Dona Marta e desemboca na enseada de Botafogo, descendo paralelamente à Rua São Clemente. “E a nossa próxima atividade é levar as crianças para ver de perto onde o rio nasce. Já entramos em contato com a Associação de Moradores do Morro Dona Marta e conseguimos, inclusive, o transporte”, comemora Melissa.

Surpreso? Quem ficou mesmo foi a jornalista Miriam Leitão. Ela esteve presente ao evento apresentando o seu livro As Aventuras do Tempo. “É sempre muito desafiador falar para as crianças. Contei uma parte da história do livro que escrevi que se passa no Rio Doce, quando a minha avó era pequena. Uma história antiga, mas verdadeira, de como os índios Krenak lutaram para manter a área verde que até hoje existe, o Parque Estadual do Rio Doce e depois a reserva deles. O que achei impressionante foi a participação das crianças. Elas fizeram muitas perguntas. Isso mostra que elas estão sendo incentivadas a falar, a participar”.

Miriam Leitão apresentando o seu livro. (foto: André Luiz Mello)

Em entrevista à revistapontocom, Miriam afirmou que a proteção das águas passa pela proteção e recuperação dos rios. “E recuperar os rios é construir uma relação entre ele e o indivíduo. Realmente um rio que não é visto, não é amado. Construir essa relação é parte fundamental de proteger as águas do Brasil. Acho que nenhuma saída virá imediatamente, mas é preciso trabalhar. Na área ambiental, você tem 500 anos de erro. Estamos precisando acertar. A ideia de uma luta perdida não combina com a minha vida e personalidade. Caso contrário, tinha desistido na primeira luta que travei aos 19 anos pela democracia. Temos que lutar todas as lutas, sabendo que é possível desfazer o malfeito, refazer o que foi destruído”, destacou.

E na avaliação de Lucas Padilha, chefe de gabinete da secretaria municipal de meio ambiente da Prefeitura do Rio, o projeto Esse Rio é Meu possibilita integrar duas pastas essenciais na formulação de políticas públicas. “O projeto reúne o que existe de melhor das duas secretarias, educação e meio ambiente. As crianças podem ser protagonistas, sim, da recuperação dos rios. Seja na sala de aula, como parte integrante do currículo, seja in loco no rio, por meio de ações comunitárias e engajamento da comunidade, o projeto Esse Rio é Meu é uma inovação”.

Ciep Pres. Agostinho Neto reúne cerca de 450 estudantes, da Educação Infantil ao 6º ano do Ensino Fundamental. (foto: André Luiz Mello)

Na avaliação de Silvana Gontijo, presidente do planetapontocom, o evento em comemoração ao Dia Mundial da Água evidenciou que as crianças não só estão envolvidas com o projeto de recuperação dos rios, como também cheias de questionamentos e curiosidades para avançar. “Ao trabalhar com crianças precisamos fazer isso mesmo: inspirar e despertar a curiosidade. Pelo visto, a percepção de que estamos plantando uma semente já começa a frutificar”.

Silvana Gontijo, presidente do planetapontocom e idealizadora do programa Cidades, Salvem Seus Rios!, que originou o projeto Esse Rio é Meu. (foto: André Luiz Mello)

Além da contação de história, comanda por Miriam Leitão, as crianças assistiram a um teatro de fantoche, da pasta do meio ambiente da Prefeitura do Rio, e idealizaram um mural temático sobre o Dia Mundial da Água, aquele em que a Clara, com ajuda das suas amigas Ester, Celina e Maria Luiza, desenharam o mundo e a médica.

Diretora do CIEP, Isabela Mendes, e a jornalista Miriam Leitão

Renan Ferreirinha, secretário municipal de Educação, e Eduardo Cavaliere, secretário municipal de meio ambiente, estiveram presentes ao longo de todo o evento. Para Ferreirinha, reforçar a identidade dos alunos com os rios de todas as regiões da cidade contribui para uma educação cidadã e fortalece o compromisso dos alunos com o bem comum. “Cuidar das nossas águas também é assunto de escola!”, finalizou.

Eduardo Cavaliere, Miriam Leitão, Renan Ferreirinha, Silvana Gontijo (vestido florido). (foto divulgação Prefeitura do Rio)

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