Por Marcus Tavares
A conta não fecha já há alguns anos. Num país que reúne 5.565 municípios, dados da Agência Nacional de Cinema (Ancine) revelam que há apenas 2.517 salas de cinema. São 77 mil pessoas por sala. Longe dos grandes centros urbanos, os municípios do interior são os que, certamente, mais sofrem com a falta de políticas públicas na área do audiovisual. “É triste”, resume Renata Gonçalves de Souza, responsável pelo departamento de cultura do município de Camboriú, de Santa Catarina.
Renata e outros 49 gestores públicos de municípios de Santa Catarina participaram, na manhã do dia 29 de junho, do 9º Encontro do Cinema Nacional, que integra a programação da 12ª edição da Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis. Na ocasião, eles receberam, gratuitamente, kits da mostra, com 18 curtas-metragens infantis para serem exibidos em suas localidades.
A parceria, chamada de Circuito Estadual de Cinema Infantil, acaba de completar três anos. A coordenação da mostra estabelece um contrato com as prefeituras locais: cede os DVDs e em contrapartida as regiões se comprometem a realizar encontros para a exibição dos filmes.
“Num município que não tem cinema e que o consumo de audiovisual de crianças se resume ao que a TV aberta exibe, os filmes da mostra são um tesouro”, explica Adriana de Souza, diretora de Cultura, da Secretaria de Turismo e Cultura do município de Piçarras. Ao lado da secretária da pasta, Susan Correa, Adriana informou que cerca de 70% dos estudantes da região nunca estiveram numa sala de cinema. Os filmes cedidos serão exibidos em setembro. Serão 20 sessões, durante cinco dias. “Agora é lei. A prefeitura determinou que a exibição dos filmes da mostra deve fazer parte do calendário oficial da cidade. Foi uma vitória”, comemora Susan.
A 250 km de Florianópolis, o município de São Bento do Sul ainda não aprovou nenhuma lei nesta direção, mas encontrou uma forma de promover a mostra. As sessões acontecem nos bairros mais afastados do centro. Os cidadãos de São Bento do Sul, que viram os três cinemas da cidade virarem shoppings, são convocados nas ruas por meio de carros de som. “É um grande corpo a corpo. Também usamos as escolas para convidar a população. Acho que o povo, que paga seus impostos, não tem que sair de sua casa, de seu bairro, para ter acesso à cultura. A cultura tem que ir/estar nos bairros. É isso que estamos tentando fazer, com todas as dificuldades que enfrentamos”, avisa Robson Rodrigues, diretor de cultura da prefeitura.
Mariana Coelho, que coordena a programação adulta da Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, explica que, no ano passado, dos 293 municípios de Santa Catarina, 140 participaram do projeto e exibiram os filmes. Os gestores assinam um acordo e têm de produzir um relatório de como foi produzida a mostra em suas localidades.