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Mudanças na Educação do Rio

Subsecretário de novas tecnologias educacionais, Rafael Parente, deixa cargo. Em entrevista, faz análise do governo.

Por Marcus Tavares

O ano começou com mudanças na Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. O subsecretário de novas tecnologias educacionais, Rafael Parente, deixou o cargo. Segundo ele, para se dedicar a projetos pessoais. Ao longo de cerca de cinco anos, sua equipe propôs e criou projetos integrando tecnologias, mídias e educação. Entre as propostas, destacam-se a Educopédia, plataforma online colaborativa de aulas digitais, onde alunos e professores podem acessar atividades autoexplicativas de forma lúdica e prática; e o Ginásio Experimental das Novas Tecnologias Educacionais (Gente), que consiste em conceber e desenvolver um novo modelo de escola que inova na arquitetura do prédio escolar, se apropria integralmente de novas tecnologias educacionais, promove inovação curricular, coloca o aluno no centro do processo de aprendizagem e tem ênfase na formação dos professores.

Em entrevista à revistapontocom, Parente fez um balanço de sua gestão. Ponderou sobre suas ações e projetos. Analisou os pontos positivos e negativos. “Muitas escolas (cerca de 40%) ainda não têm internet de qualidade”, destacou. Criticou a morosidade do serviço público: “as regras que regem a administração pública são ultrapassadas e alimentam a inércia, tornando as mudanças e a inovação coisas quase proibitivas”. E destacou que é “preciso intensificar o desenvolvimento profissional de professores e gestores para que eles possam estar mais preparados para mudarem os seus papéis nas escolas e na rede. É preciso abandonar velhos discursos e comportamentos, criticar a realidade com responsabilidade e assumir a postura de agentes de transformação. Isso eu digo em relação a todos da comunidade escolar, incluindo os parceiros, os voluntários, os estagiários e os alunos”.

Acompanhe a entrevista:

revistapontocom – Sua passagem pela Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro foi marcada, mais fortemente, pela criação do Educopédia e mais tarde pela implementação do Gente. Qual foi o significado destes projetos?
Rafael Parente – Acho que há algumas coisas relacionadas aos dois projetos que são mais importantes do que simples ações ou programas isolados.  Conseguimos incentivar a inovação, o pensamento, o planejamento e a realização colaborativa, com o empoderamento dos professores e dos alunos. Buscando, assim, repensar posturas, espaços e metodologias cristalizadas há séculos. A rede mostrou que está sedenta por inovações e por poder fazer melhor e diferente, desde que tenha vez, voz e o ambiente adequado.

revistapontocom – Você acredita que estes projetos são, hoje, projetos de Estado, no sentido de que terão continuidade administrativa, independente de eventuais trocas dos mandatários?
Rafael Parente – É difícil dizer. Acho que muitas escolas, professores, pais e alunos querem a continuidade dessas ações e sempre disse que essa continuidade, no Rio de Janeiro, vai depender muito deles, do quanto eles se organizarem e se articularem para que continuem. Como o que fizemos já mostrou resultados concretos e muito positivos, acredito que qualquer pessoa sensata vá decidir pela continuidade, com adaptações e melhorias que são normais em todos os casos. Não sou vaidoso quanto a isso, não tenho problemas com relação a créditos e autoria, mas torço muito para que continuem e consigam evoluir mais e mais.

revistapontocom – O que deu certo e o que não deu nestes projetos? O que ficou?
Rafael Parente – Muita coisa deu certo e muita coisa precisou ser melhorada. Falo abertamente que comecei o trabalho com metas ousadas demais, como ter internet suficiente (banda realmente larga) e estável funcionando em todas as escolas e salas de aulas até o final do meu primeiro ano como subsecretário. A realidade mostrou que tudo era muito mais difícil do que eu previa inicialmente e que tinha uma visão ingênua dos possíveis desafios que encontraria no meio do caminho. A Educopédia se estabeleceu como a principal plataforma de aprendizagem no país hoje. Ela tem reconhecimento nacional e internacional. É usada em várias cidades. Nossas pesquisas internas mostram que a maioria adota, usa e quer continuar usando. O Gente, ainda que muito novo, também já tem reconhecimento nacional e internacional. Faz parte de uma lista das 80 escolas mais inovadoras do mundo. E os comentários que recebemos dos visitantes (e dos professores e alunos da escola) são incríveis. Por outro lado, poderia fazer uma lista gigante de coisas que não deram certo. Não consegui resolver o problema de estrutura suficiente para a utilização da Educopédia em toda rede. Muitas escolas (cerca de 40%) ainda não têm internet de qualidade. É preciso intensificar o desenvolvimento profissional de professores e gestores para que eles possam estar mais preparados para mudarem os seus papéis nas escolas e na rede. É preciso abandonar velhos discursos e comportamentos, criticar a realidade com responsabilidade e assumir a postura de agentes de transformação. Isso eu digo em relação a todos da comunidade escolar, incluindo os parceiros, os voluntários, os estagiários e os alunos. Com relação ao Gente, vimos que um ano era muito pouco tempo para internalizar todas as mudanças que havíamos planejado. A personalização da aprendizagem, o desenvolvimento de educação interdimensional (todas as dimensões do humano) e a aprendizagem baseada em projetos transdisciplinares aconteceram somente pela metade.

revistapontocom – O que os professores aprenderam com estes projetos?
Rafael Parente – Muitos viram que, com as novas tecnologias, podem aumentar a motivação dos alunos (e sua própria motivação). Podem romper barreiras de tempo e espaço, melhorar relacionamentos e personalizar o processo de aprendizagem, colocando o aluno no centro. Mas acho que o mais importante foi que os professores aceitaram e realizaram tarefas com excelência, sendo protagonistas de grandes transformações que não perdem para nenhuma outra rede de educação no mundo.

revistapontocom – O que os gestores aprenderam? O que você aprendeu?
Rafael Parente – Acho que os gestores das escolas também passaram a acreditar que podem e devem querer ousar mais em seus planejamentos e suas estratégias. Eu aprendi um mundo de coisas. Costumo dizer que quando comparo a minha aprendizagem no programa de PhD (em educação internacional, da NYU, que conclui em 2012) e a aprendizagem enquanto subsecretário, esse período como subsecretário me valeu como mais dois ou três PhDs. Creio que as aprendizagens mais importantes tenham a ver com a natureza humana, que é necessário estabelecer vínculos fortes e confiança antes de propor mudanças radicais de postura e pensamento. Uma segunda grande aprendizagem está relacionada com a natureza da gestão pública: as regras que regem a administração pública são ultrapassadas e alimentam a inércia, tornando as mudanças e a inovação coisas quase proibitivas. Não conseguiríamos realizar nem um terço do que fizemos não fossem as parcerias com institutos e fundações. Leva-se uma eternidade para conseguir implementar, de fato, qualquer mudança séria no setor público. Isso não pode continuar assim. Precisamos de mais modernidade e agilidade e nossos legisladores e governantes precisam estar atentos a isso. Por fim, aprendi muito em relação a mim mesmo, enquanto pessoa e profissional. Amadureci um bocado e aprendi a ouvir mais quem está na ponta antes de qualquer planejamento ou interferência. Passei a buscar mais a humildade e a admirar a habilidade de ouvir os outros.

revistapontocom – Você acredita que a utilização das mídias nas escolas do município do Rio – seja como ferramenta e ou linguagem no processo de ensino e aprendizagem – já é uma realidade de muitas escolas, de muitos professores? O que realmente falta para se avançar neste sentido?
Rafael Parente – Acredito que sim e as pesquisas que realizamos (nossas ou em parcerias) apontam nessa direção. A maior reclamação de professores para a não utilização é a falta de infraestrutura completa. É preciso continuar investindo em infra e no desenvolvimento profissional.

revistapontocom – A rede está 100% conectada à internet, banda larga? Qual é o cenário?
Rafael Parente – Temos seis escolas onde nenhuma empresa consegue chegar com internet. Em cerca de 60% das escolas, a internet é de qualidade. E em cerca de 40% delas a internet precisa ser melhorada.

revistapontocom – Nos últimos meses, a Prefeitura enfrentou uma grande manifestação de professores que, depois de muitos anos, fizeram greve e foram para as ruas, exigindo mais autonomia, melhores salários e condições de trabalho. Inicia-se daqui a pouco um novo ano letivo. Como você avalia o ano de 2014 na educação do RIo?
Rafael Parente – 2013 foi um ano complexo e de muita aprendizagem. Acho que houve avanços, mas é preciso que os dois lados estejam sempre dispostos a refletir, dialogar e se colocar no lugar do outro. Creio no amadurecimento da relação e da negociação. Sou otimista em relação ao futuro, mas creio que 2014, por conta da Copa e das eleições para governadores, tem algum potencial para complicações.

revistapontocom – Você se desligou da secretaria por qual motivo?
Rafael Parente – Refleti um bocado durante o ano de 2013 e cheguei à conclusão que o processo natural na SME do Rio seria o amadurecimento do que já foi iniciado, nessa área de inovação. A nossa subsecretaria criou novas ferramentas, novos modelos, ampliou paradigmas e transformou a cultura. Senti que havia chegado a hora de me desligar e buscar que esse mesmo trabalho pudesse continuar, em escala e qualidade diferentes. Fiz todo o possível, dentro dos limites do cargo que tive, e acredito que possa ser mais útil fora do governo. Vou continuar acompanhando a rede, os projetos, vou continuar morando no Rio, batalhando pela melhoria da educação pública, pela valorização dos profissionais, pela inovação em espaços, ferramentas e rotinas de aprendizagem. E também continuarei buscando a modernização, inovação e a transparência na gestão pública.

revistapontocom – O vereador Cesar Maia afirmou que você teria sido exonerado por ter patenteado, em seu nome, projetos como Educopedia, Educomundo e Educoteca, que pertenciam  à administração municipal. É verdade? O que realmente aconteceu?
Rafael Parente – Acredito que o problema tenha sido de falta de pesquisa e do cuidado necessário por parte da equipe que assessora o vereador. O tempo todo tive muito cuidado para não usar dinheiro público em ações arriscadas e para proteger os interesses da SME e do município. Até o começo de 2012, o único registro relacionado à Educopédia era o domínio www.educopedia.com.br, em nome da IplanRio. Naquele ano, ao ser informado que havia um pedido de registro da marca Educopédia por um instituto privado, fui verificar como deveria agir para defender o projeto e a marca. Como havia pouco tempo para protestar (menos de 60 dias), decidi fazê-lo enquanto pessoa física. Se, ao invés disso, tivesse começado um processo pela SME, o tempo certamente teria excedido o limite. Decidi, então, pelo registro da marca Educopédia e marcas a ela associadas em meu nome e assinei um termo de cessão de titularidade das marcas que diz que cedo e transfiro, nos termos dos artigos 134 e 135 da Lei 9.279/1996, a titularidade sobre os pedidos de registro de números 904347540, 904347605 e 904347621 para o Município do Rio de Janeiro, através da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Esse documento, assinado por mim, enquanto cedente, e pela Secretária Claudia Costin, enquanto cessionária, se encontra em um dos processos da SME. Além disso, registros de marcas levam bastante tempo para serem deferidos. Ou seja, ao contrário do que foi publicado pela equipe do vereador César Maia:  1) Os registros das marcas ainda não foram deferidos; 2) Caso sejam, já serão de titularidade do Município do Rio de Janeiro; e 3) Nenhum projeto foi privatizado”.

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Angela Maria Ferreira Rego
Angela Maria Ferreira Rego
10 anos atrás

Olá Rafael Parente, parabéns pela excelente proposta de trabalho desenvolvida nesses anos em que esteve atuando. Esse é o caminho. Você foi brilhante. Mas, uma gestão não se faz sozinho, não é? Ainda carecemos demais de “comprometimento” que é peça fundamental nessa engrenagem. Um comprometimento que visa a realização plena do projeto atendendo a todas as necessidades que ele abarca, materiais e humanas. Pode ser complexo,sim. Mas, se não tivermos garantidas as ações que sustentarão o que foi proposto teremos deixado de “atender” plenamente aqueles que são o nosso foco principal: os alunos… E como eles se transformam diante das infinitas possibilidades apresentadas no Educopédia!!!… Bom para eles, bom para nós professores. PARABÉNS! SUCESSO!

Mariana
Mariana
10 anos atrás

O real motivo do afastamento desta criatura da SME foram os gastos desmedidos, sem respeitar as regras oficiais. Contratou a MsTech e dizem, é um dos donos da empresa, que foi contratada sem licitação. Essa empresa prestou um péssimo serviço a peso de ouro. Deixou de atuar devido à imposição do Ministério público. Atualmente a Rede vive um caos, pois os dados dos milhões de alunos estão com uma empresa privada e o sistema, Escola 3.0, perde dados, troca turmas e alunos e não tem nenhuma melhora. A matrícula digital está cheia de problemas também. Vivemos um caos. Ele, como bom publicitário, fez o nome dele. Criou logotipo, marca e um produto. Mas não é professor. Não sabe que na edução não existem “Neos” para salvarem o mundo. Não esperamos messias, mas pessoas éticas e comprometidas com a educação das gerações. Como bom marketeiro fez sua parte, deve ter aprendido com o pai político. E vai tarde… que o ostracismo seja o melhor que o futuro lhe reserve.

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