O professor surge como um profissional que, embora tenha conquistado seu espaço, ainda enfrenta condições precárias de trabalho, expressas em sua jornada, em seu salário, no tipo de apoio para a aquisição de equipamentos e, sobretudo, para o desenvolvimento profissional. Essas características impactam a incorporação das tecnologias ao processo de ensino/aprendizagem. A formação inicial dos docentes aparece como um tema relevante, uma vez que esses professores, estando em exercício há mais de quinze anos, entraram no magistério em época anterior à difusão das TIC na sociedade e, certamente, não tiveram, em seus cursos superiores, a oportunidade de serem formados no uso das tecnologias para a prática docente. Além disso, as condições de trabalho impedem que professores se atualizem ou se especializem. Dessa perspectiva, não se pode esperar que o professor, sozinho, promova possíveis mudanças no paradigma da educação, incluindo a escola na cultura digital.
O texto acima é uma das conclusões da TIC Educação 2010 – Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nas escolas brasileiras, promovida pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil. O levantamento foi realizado entre os meses de agosto e novembro de 2010, envolvendo alunos, professores, coordenadores pedagógicos e diretores de escolas públicas do Brasil, estaduais ou municipais, de áreas metropolitanas, que ofereciam o Ensino Fundamental e Médio. Foi feita uma amostra de 500 escolas, a partir dos dados do Censo Escolar de 2007.
Ao todo, foram realizadas 7.453 entrevistas, sendo 1.541 com professores, 4.987 com alunos, 497 com diretores e 428 com coordenadores pedagógicos.
Leia, aqui, a pesquisa na íntegra
Com o objetivo de socializar as informações, a revistapontocom fez um resumo, abaixo, dos principais resultados da pesquisa.
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Infraestrutura tecnológica
Disponibilidade de equipamentos nas escolas
. Televisão – 99%
. Impressora – 99%
. Videocassete / DVD – 96%
. Rádio – 83%
. Retroprojetor – 83%
. Telefone fixo – 81%
. Mimeografo – 81%
. Câmera digital – 78%
. Datashow – 75%
. CD player- 69%
. Antena parabólica – 54%
. Filmadora – 42%
. Telefone celular – 8%
Cada estabelecimento de ensino público conta, em média, com 23 computadores; no Nordeste, a média cai para 19; já o Sul apresenta um número superior à média brasileira, 27 computadores por escola. A quantidade de equipamentos é mais confortável nas escolas que oferecem o Ensino Médio, onde há, em média, 27 computadores. Escolas que oferecem somente o Ensino Fundamental I dispõem, em média, de 20 computadores, e as que oferecem o Ensino Fundamental II, 23.
Números de computadores nas escolas
. Até 5 – 9%
. De 6 a 15 – 21%
. De 16 a 20 – 20%
. De 21 a 30 – 29%
. De 31 a 40 – 13%
. 41 ou mais – 8%
Um aspecto importante a ressaltar é que há significativa diferença entre o número de computadores que a escola possui e o número dos que estão efetivamente instalados, em uso. A média de 23 computadores por escola reduz-se a apenas 18 em funcionamento, uma perda de cerca de 22% dos equipamentos. Nesse caso, a disparidade regional aumenta: enquanto há, em média, 24 computadores em funcionamento nas escolas situadas na região Sul e 19 no Sudeste, no Nordeste apenas 13 dos computadores estão ligados, uma perda significativa de 32%.
Uma possível explicação para essa perda funcional tem a ver com manutenção. A maior parte dos estabelecimentos escolares (68%) conta com prestadores de serviço fornecidos pela Secretaria da Educação, para a manutenção dos computadores. Em 24% das escolas, o serviço de manutenção cabe a prestadores de serviço terceirizados, e 5% dos colégios não têm responsável por manter as máquinas funcionando.
Conteúdos presentes no website da escola
. Galeria de fotos – 54%
. A proposta pedagógica da escola – 52%
. Localização – 48%
. Calendário dos eventos – 44%
. Espaço para contato com a escola – 43%
. Sugestões de atividades e exercícios – 34%
. O conteúdo das matérias por período letivo – 28%
. Orientações diversas para pais ou alunos – 20%
. Agendamento de reuniões de pais – 17%
. Consulta a notas dos alunos – 14%
. Exercícios para serem feitos on-line – 13%
. Alimentação/cardápio oferecido pela escola – 11%
. Outros – 3%
. Nenhum site em construção – 28%
Pouco mais de um terço das escolas públicas (36%) tem sua própria página na Internet. Mais uma vez, a região Sul está à frente, com pouco mais da metade (52%) das escolas com site próprio. Considerando a dependência administrativa, a maioria das escolas municipais (68%) não possui página. Outros recursos foram investigados: 74% das escolas têm e-mail institucional, e quase um quarto das escolas (24%) já conta com a produção de um website pelos alunos.
O conteúdo dos websites escolares é composto, principalmente, por uma galeria de fotos, a proposta pedagógica da escola, dados de localização,calendário dos eventos e espaço para contato com a escola. Os websites das escolas apresentam uma lacuna no que se refere a atendimento e comunicação com o aluno, o que demonstra que essas páginas carecem de interação. A banda larga é a forma de conexão da grande maioria das escolas públicas brasileiras, presente em 87% das escolas que possuem conexão. O acesso discado responde por apenas 5%, e o acesso móvel, 4%.
Mobilidade
O principal local de instalação dos computadores é a sala do coordenador pedagógico ou do diretor. Isso pode indicar ainda um predomínio de uso mais voltado para a gestão escolar do que para a prática pedagógica (que significaria um aproveitamento maior em atividades com os alunos). O laboratório de informática é o segundo local mais citado para a instalação de computadores na escola. Quanto ao acesso ao computador nesse espaço, podem utilizar o laboratório: os alunos em 93% das escolas, os professores em 88%, os funcionários em 54%, o coordenador pedagógico em 45% e a comunidade em apenas 25%. A sala de aula praticamente inexiste como local de instalação de computadores (4%).
O acesso à internet dá-se principalmente a partir dos laboratórios de informática (86% das escolas), mas gestores, coordenadores e professores também têm acesso a partir da sala do coordenador/diretor (85%), sala dos professores ou de reunião (81%), biblioteca ou sala de estudos para alunos (76%). O acesso nas salas de aula não chega a 1% das escolas.
O perfil do professor, aprendizado e habilidades tecnológicas
Perfil dos professores, por sexo
. 77% – mulheres
. 23% – homens
Perfil dos professores, por faixa etária
. 16% dos professores têm até 30 anos de idade
. 55% têm entre 31 e 45 anos de idade
. 29% têm mais de 46 anos de idade
Perfil dos professores, por grau de formação
. Ensino Médio – magistério – 3%
. Ensino Médio – Outros – 1%
. Ensino Superior – pedagogia – 21%
. Ensino Superior – licenciatura em matemática – 24%
. Ensino Superior – licenciatura em letras – 25%
. Magistério Superior – 3%
. Ensino Superior – Outros – 22%
Proporção de professores que realizaram pós-graduação ou especialização
. Não fez ou ainda não completou nenhum curso de pós-graduação– 40%
. Fez especialização (mínimo de 360 horas) – 56%
. Mestrado – 4%
. Doutorado – 0%
Perfil dos professores, por renda pessoal
. Ate 3 salários mínimos – 42%
. Mais de 3 ate 5 salários mínimos – 37%
. Mais de 5 ate 10 salários mínimos – 18%
. Mais de 10 salários mínimos – 2%
. Recusou responder – 1%
Perfil dos professores, por renda familiar
. Ate 3 salários mínimos – 16%
. Mais de 3 ate 5 salários mínimos – 30%
. Mais de 5 ate 10 salários mínimos – 40%
. Mais de 10 salários mínimos – 12%
. Recusou responder – 2%
Uso de computador e internet pelo professor
Proporção de professores que têm computador no domicílio
. sim – 90%
. não – 10%
De fato, é em sua residência que o educador usa as TIC com mais frequência, mas, enquanto 90% dispõem do equipamento no domicílio, apenas 62% os utilizam quase diariamente e 18% ao menos uma vez por semana. Pouco mais da metade dos docentes (54%) utiliza o computador e a Internet na escola quase diariamente ou pelo menos uma vez por semana. Considerando o percentual de professores que não utilizam as tecnologias em âmbito escolar, essa proporção é maior nas escolas municipais: 34%; nas escolas estaduais, a proporção é de 19%. Os coordenadores pedagógicos, por sua vez, têm a escola como local de uso mais frequente da tecnologia, já que 69% deles as utilizam praticamente todos os dias nesse local. Esse fato reflete o local onde estão os computadores e o acesso à Internet – em grande parte, na sala do coordenador – o que facilita o uso das tecnologias para atividades de gestão escolar.
A frequência de uso das TIC pelos professores diminui entre os que se encontram nas faixas etárias mais elevadas. Entre os profissionais que já utilizaram computador ou Internet alguma vez na vida, 69% daqueles com até 30 anos de idade usam computador ou Internet em casa praticamente todos os dias; com mais de 45 anos, apenas 57% o fazem. No ambiente escolar, 61% dos mais jovens usam computador até uma vez por semana, contra 46% dos acima de 45 anos.
Habilidade no uso de computador e Internet
Forma de aprendizado do aluno para o uso de computador e internet
. Com outras pessoas – 43%
. Sozinho – 40%
. Fez um curso específico – 26%
. Com um professor ou educador da escola – 11%
. Com outros alunos – 3%
A grande maioria dos professores domina algumas habilidades básicas para o uso das ferramentas de produtividade, encontrando-se no estágio identificado pela Unesco como de “alfabetização digital”. Isso se revela pela proporção de professores capazes de utilizar um editor de texto com nenhuma dificuldade (70%) e mover ou copiar um arquivo (57%). Os docentes declararam ter menos habilidades para a realização de tarefas mais complexas, como aplicações de multimídia, planilhas de cálculo e apresentações.
Preparação de aulas
No cotidiano dos professores, a Internet é mais empregada para preparar aulas. Pelo menos uma vez por semana, a maioria usa a ferramenta para buscar conteúdos, exercícios e exemplos a serem utilizados em sala. Poucos utilizam a Internet para comunicar-se com colegas e outros membros da comunidade ou baixar conteúdos disponíveis na rede – ou seja, os professores exploram pouco o grande potencial da Internet para a comunicação.
Uma faceta ainda pouco explorada das TIC são os conteúdos audiovisuais. Apenas uma minoria de professores baixa programas educativos da TV ou conteúdos audiovisuais (som, imagens, fotos, filmes, músicas) voltados para a prática pedagógica (apenas 31% e 48%, respectivamente, fazem isso ao menos uma vez por mês).
Atividades de aprendizagem
A rotina diária das salas de aula fundamenta-se principalmente em práticas que mantêm o professor como figura central da dinâmica de aprendizagem, como o transmissor de conhecimento, fonte primária de informação, controlador e direcionador de todos os aspectos da aprendizagem. As atividades mais frequentes, que definem o cotidiano escolar nas escolas públicas, são exercícios de prática do conteúdo, aula expositiva e interpretação de texto.
Ensinar os alunos a usar o computador e Internet é a atividade menos frequente. Apesar disso, 40% dos professores se dispõem a contribuir para desenvolver o conhecimento dos alunos em relação às tecnologias, mesmo que em uma frequência baixa como “menos de uma vez por mês”.
Uso da tecnologia na escola
Para o aluno, a escola é o local menos frequente de acesso à tecnologia: apenas 2% dos alunos o fazem todos os dias. Mesmo assim, para 25% dos alunos, a escola é uma oportunidade de acesso à Internet, onde utilizam computador e Internet pelo menos uma vez por semana. A frequência de uso da tecnologia na escola é maior entre alunos de escolas municipais (30% o fazem ao menos uma vez por semana, contra 18% das estaduais) e no 5o ano do Ensino Fundamental (31% utilizam tecnologia ao menos uma vez por semana, 24% do 9o ano do Fundamental e 17% do 2o ano do Ensino Médio).
Métodos de avaliação
Provas, exames escritos, tarefas, exercícios e apresentação de trabalhos para a classe são mencionados como métodos de avaliação pela quase totalidade dos professores. Muitos devem utilizar uma combinação dessas formas de avaliação. É interessante observar que mais da metade dos professores valoriza o uso, pelos alunos, de vídeos, imagens e sons em trabalhos ou apresentações que conduzem a avaliações.
Limitações percebidas para o uso das tecnologias na escola
Da perspectiva do professor, a principal limitação percebida para maior uso das TIC na escola é seu nível de habilidade tecnológica mais baixo quando comparado ao do aluno. Grande parte dos professores (64%) concorda totalmente que os alunos da escola sabem mais sobre computador e Internet do que o docente.
O professor também rejeita a ideia de que desconheça os usos da tecnologia em atividades de ensino/aprendizagem. 80% discordam totalmente da afirmação de que não sabem de que forma ou para quais atividades podem usar o computador e a Internet na escola.
A infraestrutura tecnológica das escolas públicas é relativamente diversificada, mas o número de equipamentos disponíveis pode restringir seu uso pela comunidade escolar, ainda mais quando se considera que há em média 800 alunos por escola. As escolas que possuem tais equipamentos contam, em média, com quatro unidades de equipamentos, como rádio, televisor, impressora e CD player. Equipamentos mais sofisticados estão disponíveis em pouco mais que uma unidade por escola. Isso ocorre com filmadoras, câmeras fotográficas digitais e datashow.
Este estudo mostra a realidade. Em algumas escolas dispomos de recursos mas, no entanto, isto não significa que são utilizados adequadamente. Além do despreparo dos profissionais da educação, nos deparamos, por vezes, com alunos que não sabem sequer ligar um computador, principalmente alunos de escolas do interior, de ensino noturno, como o EJA. Ainda há muito por fazer, mas precisamos ter coragem para enfrentar a situação e começar a mudar esta realidade.
Gostei muito da matéria, pois muitos professores ainda mantém certa distância dos meios de comunicação para enriquecer suas aulas e os alunos saem perdendo.
Tomara que os docentes se liguem e partam para a TIC.
Parabéns!
Esta radiografia está perfeita, mas para mim está mudando , abandonei as cavernas e agora parti prá cima , buscando desesperadamente recuperar algo que nunca esteve ao meu alcance, pois conhecia mas não sabia utilizar, precisando muita das vezes da ajuda de outrem.
Cobrar do Prof é fácil, difícil mesmo é nos dar meios e formas adequadas para que possamos sair desta barbárie educacional em plena Era Digial .
Este é o grande momento da apropriação deste conhecimento para levarmos algo que possa fazer com que os discentes se apaixonem verdadeiramente pelo SABER !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!