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Qual é o lugar da imagem?

Publicação organizada pelo professor Etienne Samain, da Unicamp, tenta responder à questão.

Qual é o papel da imagem na sociedade dos dias de hoje? O professor Etienne Samain, do Instituto de Artes, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), tenta responder à questão no livro que acaba de organizar: Como pensam as imagens (Editora Unicamp). A publicação conta com a colaboração de dez autores brasileiros e estrangeiros. Em entrevista ao Jornal da Unicamp, o professor diz que o livro solicita que o leitor olhe o universo das imagens – artísticas em particular – não apenas como atos e fatos, mas como um território de revelações e de questionamentos sobre sociedades e culturas. “Como antropólogo, acabei entendendo que as imagens são refúgios de memórias, de inquietações, de promessas e de desejos. Elas devem ser utilizadas, desdobradas para pensar o mundo”, conta Samain.

De acordo com o professor, o livro é dividido em três partes. A primeira faz uma abordagem epistemológica, trazendo a proposta de entender as imagens de outra maneira, de pensá-las não mais e apenas na sua essência, mas de encará-las em termos fenomenológicos e prospectivos. As outras duas partes do livro são, por sua vez, tentativas metodológicas, imersões poéticas e propostas heurísticas de se aproximar da imagem concreta para ver e descobrir como ela pode nos conduzir a pensar o nosso mundo.

A revistapontocom transcreve, abaixo, parte da entrevista concedida pelo professor ao jornalista Manuel Alves Filho, do Jornal da Unicamp.

Clique aqui e confira na íntegra

Jornal Unicamp – Para os leigos, é simples aceitar que as imagens nos fazem pensar. Entretanto, não parece tão trivial acolher a ideia de que as imagens pensam, como afirma o título do livro. Afinal, como as imagens pensam?
Etienne Samain – De fato, é ainda bastante simples entender que as imagens nos fazem pensar e que carregam e veiculam pensamentos. É mais difícil acolher a ideia de que as imagens, sem nós, humanos, são capazes de pensar. Temos, deste modo, que pular as cercas de nosso entendimento nato e descobrir sem arrogância que as imagens têm uma vida própria, que elas conversam e dialogam entre si. Desvendar não diretamente o que elas pensam, mas como elas pensam e, sobremaneira, o que se recusam a dizer.

Jornal Unicamp – As imagens presentes no livro estimulam o leitor a fazer esse exercício?
Etienne Samain – As imagens do livro são tentativas de aproximação do assunto. Tentam dizer como as imagens nos fazem pensar e como pensam entre elas. A imagem da capa, que mostra um tipo de borboleta conhecida como corujão, é um bom exemplo. Vista com asas abertas, não há dúvida de que se trata de uma borboleta. Com asas fechadas, entretanto, ela se parece com uma coruja (e até como uma cobra). É um recurso de camuflagem, para se proteger de predadores. Essa imagem é uma metáfora para o livro inteiro. Semelhantes a imagens, as borboletas viajam, vão e vêm, passam. São diversas, transitórias; são leves, sem “consistência verdadeira”, pensamos. São voláteis e volúveis, não são “sérias”, não têm “peso” com relação às palavras. Eis o que acontece quando nossa razão perdeu sua imaginação.

Jornal Unicamp – O senhor disse que a imagem ainda não tem o mesmo relevo da escrita. Todavia, há um adágio popular que diz que uma imagem vale mais que mil palavras. Como explica essa aparente contradição?
Etienne Samain – As pessoas reconhecem que a imagem é importante e que ela é reveladora. Ao mesmo tempo, a imagem é capaz de esconder o que pensa. Tem discursos múltiplos em torno dela. O adágio é importante para a relevância da imagem. De um lado, a imagem é muito verborrágica, fala demais, confunde. Por outro, é muda, esconde. No mundo de hoje há uma saturação de imagens. Estamos afogados por elas, entretanto, muitas imagens são medíocres. Com isso, somos privados de outras imagens. Temos que saber escolher ou criar imagens capazes de expressar o ser humano, os seus destinos de maneira concreta. Não se trata de gerar um objeto simpático. Trata-se de uma imagem com peso de provocação, de tomada de posição.

Jornal Unicamp – Atualmente, gerar e manipular imagens são procedimentos corriqueiros, graças às tecnologias como os telefones celulares e os programas de computador. Como o senhor vê o emprego desses recursos?
Etienne Samain – Há um aspecto potencialmente positivo, pois temos suportes cada vez melhores para produzir imagens. Entretanto, tudo depende do valor de uso que faremos dessas potencialidades. As máquinas nos proporcionam enormes vantagens, mas precisamos ver o que vamos retirar delas. Quando eu falo de “uso”, estou me referindo a um “valor”, a uma virtualidade de reflexão sobre o mundo a partir das imagens. Atualmente, há uma enorme banalização das imagens e, o mais grave, uma ocultação de gritantes realidades. As imagens também abafam.

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