Renata D’elia
Publicado em 21/05/2012 no Caderno Ilustrada, da Folha de S. Paulo
Sabe aquela mania de assistir à TV enquanto envia mensagens pelo celular, posta um vídeo nas redes sociais, folheia uma revista e prepara o iPod para tocar uma musiquinha no intervalo? Pois um estudo encomendado recentemente pela Time Warner mostrou que a geração dos “nativos digitais” – que nunca viveram em um mundo sem TV por assinatura, internet e telefonia móvel – troca de mídia 27 vezes por hora.
A pesquisa utilizou cintos biométricos e óculos com câmeras embutidas para captar as emoções e a atenção visual dos participantes.Os nativos digitais também preferem a troca de curtas mensagens instantâneas a longas conversas por telefone e não toleram conteúdos tediosos. Já é possível notar impactos nas questões sociais e educacionais e no mercado de trabalho.
Os nativos digitais alternam entre mídias (web, tablets, smartphones, iPod, TV, revistas etc.) em média 27 vezes fora do expediente de trabalho e estudo. Já entre os seus pais, a média de troca é de 17 vezes por hora.
Por passarem mais tempo conectados e usarem várias plataformas de mídia simultaneamente, os jovens têm níveis de resposta emocional mais estáveis.
54% dos nativos digitais preferem mandar mensagens de texto do que falar com as pessoas. Entre os imigrantes digitais, esse percentual cai para 28%.
Em casa, 65% dos nativos digitais levam seus aparelhos para onde vão -versus 41% dos imigrantes digitais com o mesmo hábito.
A indústria da publicidade, por exemplo, vai ter que encontrar maneiras de cativar a atenção dessa audiência cada vez mais fluída e menos concentrada.”É possível que as empresas priorizem cada vez mais seus funcionários jovens para desenvolver estratégias de marketing e mídia”, explica Urs Gasser, diretor-executivo do Berkman Center para Internet e Sociedade da Universidade Harvard, em entrevista ao “Folhateen”.
Segundo ele, vídeos e redes sociais são elementos- chave para compreender esse comportamento. “Criatividade e até mesmo compromisso cívico e político podem ser estimulados. Apesar dos perigos da baixa atenção concentrada e do vício em internet, a tendência multitarefa pode ser produtiva. O autodidatismo também está no DNA desse comportamento e dessa geração.”
Troca-troca
Esse é o caso de Olivia Mendonça, 20, que assiste à TV com o computador no colo e o celular no bolso.”Eu ando com carregador e não desligo meu laptop nunca. Uso SMS, aplicativos e o meu navegador tem sempre várias abas abertas sobre diversos assuntos.” Portadora do distúrbio de deficit de atenção (DDA), ela acredita que os múltiplos estímulos facilitam seu processo de aprendizagem. “Trabalho com vídeo, que já é uma linguagem muito dinâmica. Acabo pesquisando até nas horas vagas. Sou autodidata, assimilo rápido as referências de tudo o que vejo. Minha cabeça é um ‘brainstorm’.”
A defesa que Olivia faz dos seus hábitos vai ao encontro do que pensa a antropóloga Mimi Ito, da Universidade da Califórnia. Para ela, “hoje em dia é possível acessar uma ampla demanda de assuntos instantaneamente, de qualquer lugar, com os dispositivos móveis. Mesmo alternando entre eles, o jovem ainda aprende e sempre com base em interesses individuais. Trata-se de um conhecimento pertinente numa sociedade de demandas tão rápidas”.
Décio Fonseca Neto, 20, é outro do “clube dos conectados”. Estudante de publicidade, ele vive em simbiose com o tablet, o iPod e o smartphone. A alternância constante entre dispositivos móveis, sites e redes sociais não serve apenas para se comunicar com os amigos. “Os Tumblrs têm muita coisa criativa, e também gosto de compartilhar música e opinar sobre vários assuntos. Gosto de me sentir conectado às mudanças”, diz ele.
A geração de Décio e Olivia já nasceu ligada: essas mudanças vão acontecer cada vez mais rápido. E você? Em quantas coisas consegue se conectar ao mesmo tempo?