Revistapontocom entrevista presidente do Instituto Palavra Aberta
Flavia Perez.
Foto Capa/Instituto Palavra Aberta
No ambiente informacional tumultuado, no qual vivemos, o debate acerca da desinformação e das fakenews é urgente e necessário para a educação de crianças, jovens e da sociedade como um todo.
Neste contexto, o Instituto Palavra Aberta, organização sem fins lucrativos que tem como causa a defesa da liberdade de expressão, lançou neste ano a websérie Conhecer para Defender. O objetivo é tornar mais claro o processo de produção da notícia junto a sociedade como um todo.
Outra iniciativa do instituto, voltada à educação sobre os meios de comunicação, foi a publicação, em outubro, do e-book Guia de Educação Midiática, disponível para download gratuito. Assinado pelas jornalistas Ana Claudia Ferrari e Daniela Machado, juntamente com a designer e educadora Mariana Ochs, o título é um material de apoio conectado ao Educamídia, programa de educação midiática do Palavra Aberta.
Para saber mais sobre a criação e estruturação desses conteúdos, a Revistapontocom entrevistou Patrícia Blanco, presidente do Instituto Palavra Aberta. Leia a entrevista na íntegra:
Revistapontocom – O que motivou o Instituto Palavra Aberta a desenvolver o projeto Conhecer para Defender, que detalha etapas de produção da notícia para combater desinformação?
Patrícia Blanco – no cenário atual em que vivemos, no Brasil, existe uma incompreensão sobre o papel do jornalismo. A partir dessa percepção surgiu o projeto, uma vez que ele vai ao encontro da necessidade de termos uma atitude crítica em relação à imprensa. A proposta busca despertar a atenção das pessoas para uma cobertura mal feita, por exemplo, ou que esteja tendendo para um lado ou para outro, pois está sendo muito comum vermos narrativas com um só lado das questões. Para criar a websérie, contamos com o apoio da Daniela Machado, coordenadora do programa Educamídia, que ficou à frente da produção do Conhecer para Defender.
O objetivo da websérie é alcançar não só crianças e jovens, mas sim a sociedade como um todo, permitindo que as pessoas possam entender que, além do papel do jornalismo e de seu processo de produção, a transformação da forma de consumir informação é capaz de mudar tudo na palma da pão, atualmente, por meio do amplo uso do celular em nosso cotidiano. Antes, partíamos de um pressuposto de que as pessoas entendiam o processo de produção jornalístico e não explicávamos, por exemplo, enquanto sociedade as nuances de cada gênero, seja um artigo, crônica, matéria, post patrocinado, entre outros formatos.
Começamos então a idealizar a proposta da websérie e, em janeiro desse ano, iniciamos a produção em parceria com a Jabuticaba Produções. Para trazer realidade ao conteúdo, convidamos cinco jornalistas brasileiros, propondo a eles que contassem o seu dia a dia; cada um trazendo sua experiência profissional do ponto de vista do jornalista.
Composta por 5 episódios, a websérie (inserir link https://www.palavraaberta.org.br/atuacao/webserie-jornalismo) detalha práticas e métodos adotados por jornalistas, desde a elaboração da pauta até a publicação da notícia. Participam da série os jornalistas Walmir Salaro, repórter da TV Globo; Thaís Folego, editora da Revista Azmina; Carolina Ercolin, âncora da Rádio Eldorado; André Borges, repórter do jornal O Estado de São Paulo; e Antônio Gois, colunista do jornal O Globo.
A proposta é que o conteúdo possa ser usado como material de apoio para planos de aula relacionados ao campo jornalístico-midiático da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e outras discussões sobre checagem de informações, desinformação e fontes, entre outros temas.
Revistapontocom – O projeto da websérie está conectado ao EducaMídia, programa lançado em 2019 para capacitar e engajar educadores no processo de educação midiática de crianças e jovens? Como os projetos se integram?
Patrícia Blanco – O Instituto Palavra Aberta nasceu de uma inquietude coletiva de pessoas que buscam defender a liberdade de expressão.Neste contexto,a educação midiática, leitura crítica da informação, e a atuação pelo combate à desinformação e às fakenews, que resultou no projeto Conhecer para Defender, estão entre nossos propósitos.
Revistapontocom – De que forma a websérie se conecta à educação inovadora?
Patrícia Blanco – a educaçãomidiática é um caminho para a inovação no ambiente educacional e uma forma de leitura crítica que precisamos trilhar de todos os lados, envolvendo estudantes, jornalistas e a sociedade como um todo, a fim de que eles possam desenvolver as competências necessárias para os tempos atuais. Portanto, é fundamental que as pessoas tenham abrangência informacional para entender esses ambientes, permitindo a elas diferenciar conteúdo patrocinado de uma notícia jornalística por exemplo.
Vivenciamos, hoje, a inquietação de ver tantas pessoas que não compreendem o papel da imprensa. Por isso, pensamos em dar transparência a esse tema complexo neste websérie, usando numa linguagem clara e transparente.
Revistapontocom – Como foi criado o Guia de Educação Midiática? De que forma o Instituto Palavra Aberta participou ou apoiou a produção da obra?
Patrícia Blanco – o Guia de Educação Midiática, assinado pelas jornalistas Ana Claudia Ferrari e Daniela Machado e pela designer e educadora Mariana Ochs, é um material de apoio conectado ao Educamídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta, instituição sem fins lucrativos que atua para defender a liberdade de expressão.
O download do material é gratuito. Trabalhamos juntos para chegar a esse resultado, tendo como objetivo que o conteúdo seja utilizado em sala de aula por educadores e professores de forma interdisciplinar. Por esse motivo, buscamos utilizar uma linguagem clara e de fácil acesso, tanto nos textos quanto no design, a fim de que a linguagem visual também propicie a leitura e a compreensão das informações contidas no e-book.
Além de criarmos o guia, estamos formando professores multiplicadores em todas as regiões do Brasil. Hoje, temos 700 educadores inscritos que participam de formações on-line periódicas.
Revistapontocom – Por que, na sua opinião, é preciso refletir sobre a importância e a urgência de prepararmos crianças e jovens para uma relação rica e fortalecedora com as mídias?
Patrícia Blanco – atualmente a educação midiática é, sobretudo, inclusão e cidadania. Estamos em um mundo conectado e não vamos retroceder. Cada vez mais, vamos intensificar a atuação em um mundo no qual a comunicação é extremamente importante. Será preciso ultrapassar o conteúdo e saber usar as tecnologias para se expressar e participar ativamente de um mundo digital com a comunicação mais ampla.
Informação é poder. Por essa razão, é preciso que o indivíduo saiba consumir bem a informação e separar o que é desinformação, podendo assim exercer a cidadania de forma plena. Portanto, a educação midiática é uma camada que não precisa estar em uma caixa fechada e, sim, ser usada como ferramenta de questionamento e investigação em qualquer disciplina. Hoje, para desenvolver de forma plena as competências críticas e as habilidades socioemocionais, a educação não deve ter como foco transmitir somente o que é um outro conceito e, sim, desenvolver a análise crítica não só da mídia, mas também da informação em si.
Em matemática, o professor pode usar a educação midiática para ensinar o aluno a interpretar um infográfico. Já um professor de Ourinhos, cidade do interior de São Paulo, criou os “checadores de fakenews” na área de ciências. Nas aulas de geografia, o professor tem a oportunidade de usar a mídia para expor a polêmica acerca do terraplanismo, colocando em sala de aula as questões científicas envolvidas. Por isso, o Guia de Educação Midiática apresenta no quarto bloco essas possibilidades demostrando como a educação midiática pode ser tratada nas diferentes disciplinas curriculares, a fim de que educadores e professores tenham segurança para trabalhar o tema em sala de aula.
Revistapontocom – Quais os próximos desafios da educação midiática ou midiaeducação no Brasil e no mundo?
Patrícia Blanco – no Brasil, temos hoje um cenário propício para que a educação midiática chegue à sala de aula, uma vez que há oportunidades trazidas pela BNCC que abrem espaço para a inclusão dessa habilidade. Entre as dez competências básicas, estão presentes a cultura digital para o Ensino Fundamental II, integrando a criação do campo de jornalismo midiático ao ensino e aprendizagem da língua portuguesa, além de incluir também o Ensino Médio nessa área de conhecimento.
O desafio, portanto, é formar professores aptos a entender e aplicar a educação midiática na sala de aula diante das desigualdades sociais do Brasil. Outros países, como Finlândia, país que é referência em Educação, Estônia, Lituânia e nos Estados Unidos, a inclusão dos estudos de mídia no projeto pedagógico vem sendo desenvolvida. Hoje, com a BNCC, temos no Brasil possibilidades de ampliar a integração da educação midiática ao currículo, contribuindo para uma transformação estrutural no processo de ensino e aprendizagem em todo o país.
Para fazer o download gratuito do Guia de Educação Midiática, acesse o link (https://educamidia.org.br/guia).