Por Marcus Tavares
Alienação parental é um termo criado pelo psiquiatra Richard Gardner, em 1985, para descrever o distúrbio de comportamento de uma mãe ou de um pai que treina seu filho(a) para romper os laços afetivos com o cônjuge. Não há estatísticas oficiais, pois os casos que vêm à tona são debatidos e resolvidos sigilosamente pela Justiça. Mas o número, infelizmente, cresce. Assim como as consequencias desta triste relação para as crianças.
O documentário A Morte Inventada, de Alan Minas, tem a difícil missão de mostrar exatamente como a alienação parental impacta o crescimento de meninos e meninas. “O filme conta a história de pais que foram afastados de seus filhos. E de filhos, hoje adultos, que têm consciência de que foram afastados de seus pais por conta da manipulação realizada por suas mães, quando ainda eram crianças. Eles contam suas experiências de viverem órfãos de um pai vivo, por mais de 10 anos, e como isso os influenciam até hoje em suas relações”, explica o diretor Alan Minas. Para promover o debate, a revistapontocom conversou com o diretor.
Acompanhe:
revistapontocom – O que é alienação parental?
Alan Minas – Alienação parental é um distúrbio de comportamento em que um genitor influencia a percepção da criança em relação ao outro genitor, fazendo com que ela passe a odiar o genitor alvo. Essa influencia ocorre dia a dia, de maneira verbal, direta ou através de atitudes e informações veladas que buscam desqualificar o outro genitor, gerando, na criança, um sentimento de insegurança, medo e culpa em relação ao seu relacionamento com o genitor alienado.
revistapontocom – Trata-se de um fato mais comum do que se pensa? Há estatísticas brasileiras?
Alan Minas – É uma situação muito comum, muito mais do que imaginávamos. E infelizmente não se tem qualquer estatística, devido ao fato dos processos, em varas de família, ‘correrem’ em segredo de Justiça. Mas é consenso geral, principalmente por quem milita nessa área, que o número de casos em que acontece a alienação parental é alarmante. Recebemos, através de nosso site, centenas de contatos e relatos mensalmente, do mundo inteiro. São pessoas desesperadas diante desse tipo de violência contra a criança que acontece sob nossos olhos e que, infelizmente, a sociedade ainda não despertou para isso.
revistapontocom – O que levou o grupo a produzir o documentário? Existem produtos audiovisuais que já tenham abordado o tema?
Alan Minas – Desconhecemos qualquer registro sobre a alienação parental nesse suporte de documentário. É um tema bastante delicado, onde se esbarra em paradigmas socioculturais já sedimentados há milhares de anos em nossa sociedade. Nossa motivação em realizar esse projeto vem do fato de sentirmos na pele o que é a alienação parental. É uma experiência desesperadora ver sua filha sendo afastada de seu convívio por conta de um sentimento de vingança e ódio implantado, nela, por outra pessoa, pela sua própria genitora.
revistapontocom – Como foi feita a produção? A escolha das histórias? Dos casos, dos personagens?
Alan Minas – Todo projeto, apesar de estar enquadrado na Lei Rouanet de incentivo à cultura, não teve qualquer patrocínio. A urgência em falar desse assunto não permitia a usual espera de captação e patrocinadores, como acontece em um projeto tradicional. Então, partimos com recursos próprios para alavancá-lo. A pesquisa começou através de pessoas e profissionais próximos a nós. A partir desse núcleo formamos uma rede para encontrar os vários personagens que vivenciaram o assunto, como filhos e pais vítimas, além dos profissionais que estão envolvidos diretamente, como advogados, juízes, promotores, desembargadores, psicólogos e assistentes sociais. Entrevistamos mais de 40 pessoas. Temos um material bruto de aproximadamente 60 horas, que se transformou em uma obra de 80 minutos, com a participação de 18 entrevistados.
revistapontocom – O filme conta qual história?
Alan Minas – Conta a história de pais que foram afastados de seus filhos e de filhos, hoje adultos, que têm consciência de que foram afastados de seus pais por conta da manipulação realizada por suas mães, quando ainda eram crianças. Eles contam suas experiências de viverem órfãos de um pai vivo, por mais de 10 anos, e como isso os influenciam até hoje em suas relações.
revistapontocom – Qual é o objetivo do filme? O que se espera dele?
Alan Minas – Nosso objetivo é informar e fomentar discussão sobre esse tema em toda a sociedade, sobretudo no judiciário, com aqueles que militam em direito de família. Esperamos que nosso projeto sirva de objeto de reflexão e de transformação de paradigmas em nossa sociedade. É um pesadelo recorrer à Justiça para assegurar os direitos de quem você mais ama e se deparar com desinformação e ignorância. É uma experiência aterradora.
revistapontocom – Como o filme está repercutindo?
Alan Minas – Em pouco tempo, já conseguimos colher excelentes frutos. Estamos realizando exibições seguidas de debates em todo o país e percebemos a força que o filme tem de sensibilizar a todos que o assistem. A maneira como afeta o público é direta e impactante. Durante os debates, testemunhamos relatos profundos de pessoas que foram tocadas imediatamente pela projeção, tanto por conta de experiências pessoais em suas próprias famílias quanto pela perplexidade diante desse tipo de violência, que até aquele momento muitos profissionais não tinham qualquer conhecimento. Ter esse retorno é a nossa maior realização.
Parabéns Alan e à sua equipe pela iniciativa inédita e que trata de uma questão arraigada em nossa socieadade. Bravo!! por empreenderem a iniciativa com garra, não aguardando recursos devido a urgência do tema!! Parabéns também ao Marcus pela entrevista e pela disseminação de informações que refletem e abordam os mais diferentes aspectos que envolvem os direitos da infância no Brasil. Hoje, fala-se muito do papel das mulheres como chefes de família. Porém, percebo necessário uma reflexão mais profunda sobre qual o espaço que as mulheres/mães de hoje conferem aos homens para que estes possam de fato vivenciar e exercitar a paternidade. é necessário que nós – mulheres/mães – façamos esta auto-crítica e auto-reflexão. e que esta reflexão possa ser levada as instituições que atendem famílias e que atuam em prol dos direitos da infância no País.
Parabéns a toda a equipe, não apenas pela qualidade do documentário, mas também pela franqueza e empenho que vêm demonstrando na divulgação do tema. Espera-se das autoridades que lidam com os direitos da infância e juventude que sejam sensíveis a esse grave problema e contribuam para inibir ou atenuar os efeitos da alienação parental.