Zico Góes

A posição da MTV é a seguinte: somos a favor da classificação indicativa. Achamos que é de responsabilidade dos canais zelar pelo conteúdo de seus programas em respeito a seu público. Tenho ouvido, lido e visto por aí muitas opiniões contrárias à portaria, qualificando-a como censura. Acho um exagero, um desvio, uma tentativa de se “lavar as mãos”.

Acho que a maioria das TVs abertas acaba escorregando na qualidade dos programas, apelando mesmo para conseguir os malditos pontos no Ibope. A gente não gosta disso. Esse tipo de conteúdo merece, sim, passar pelo crivo do poder público e quem sabe, um dia, sair da pauta dos ditos “criativos” de TV. No fundo esse apelo à baixaria, ao apelo sexual, violência e tudo mais são reflexo da grande falta de criatividade que atinge a maioria das TVs abertas no Brasil, da preguiça de se achar outros assuntos e formatos. Um copia o outro no que o outro tem de pior sob a alegação de que “dá audiência”, quase ninguém se arrisca a procurar novas soluções.

Temos respeitado a classificação indicativa, mas também temos críticas a fazer. Discutimos com o Ministério [da Justiça] os critérios e muitas vezes não concordamos com a classificação e entramos com pedido de revisão. Às vezes eles usam, sim, critérios muito subjetivos, tomam a parte pelo todo e cometem erros e injustiças. Na maioria das vezes conseguimos demonstrar que estão errados, que o tal programa não é assim e tudo mais e eles voltam atrás, são muito abertos ao diálogo.

Alguns detalhes do Manual [de classificação indicativa] ainda precisam ser revistos, no nosso entender, como a obrigatoriedade de se exibir à classificação em linguagem brasileira de sinais [libras], ou a questão do fuso horário.Mas não gostamos de quem se exime da responsabilidade pelo que faz. É quase como se dar uma autolicença para fazer o que bem entender na TV. O espectador que se vire, mude de canal, feche os olhos e ouvidos. Isso é ruim.

Sabemos que o hábito de assistir à TV não é assim tão individual, não depende só das escolhas pessoais feitas naquele momento, rola um certo automatismo, a TV já vem ou fica ligada em determinado canal o tempo todo e, no caso da TV aberta, não há muita opção. E a escolha, sabemos também, não fica só a critério dos pais que, na maioria das vezes não estão presentes para controlar o que o filho vê ou não. Nessa história toda, a MTV se garante e se responsabiliza pelo que faz e isso que os outros canais deveriam fazer também.

Zico Góes
Na época do depoimento, Zico era diretor de Programação da MTV-Brasil. Depoimento concedido ao site do Rio Mídia, em 2007, logo após a aprovação da portaria 1.22o, sobre a classificação indicativa.

Faça aqui o seu cadastro e receba nossa news

0 0 votes
Avaliação
Subscribe
Notify of
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

Categorias

Arquivos

Tags

Você pode gostar

Passeio na Fazendinha do João Fubá

Os alunos da CMEI Dona Batistina Ferreira em Itabira MG, tiveram uma experiência incrível na Fazendinha do João Fubá. Eles foram recebidos pelo Sr Carlos, filho do Sr João Fubá,

Rio Morto vira inspiração para poesias

Na Escola Municipal Pérola Byngton no Rio de Janeiro, a poesia se entrelaça com o compromisso ambiental. ? Em uma aula cheia de inspiração, a Professora Érica com a turma