Vejo com bons olhos a classificação indicativa dos programas de TV. Eu considero que não só os filmes, mas, principalmente, as novelas deveriam urgentemente ter uma classificação indicativa. Tenho acompanhado o debate, através dos meios de comunicação, em relação à proibição ou não de propaganda destinada ao público infantil como se esta fosse a grande vilã de um eventual consumismo existente entre as crianças. Entretanto, se acompanharmos as novelas que passam em nossa TV veremos um conteúdo um tanto complexo e com referências complicadas para serem absorvidas pelos mais novos.
Os mais novos, pelo que sabemos, ainda não tiveram vivência suficiente para acompanhar a complexidade das relações entre os personagens assim como entender que aquilo é apenas uma ficção que nos traz um retrato de uma possível realidade. É bem mais simples para uma criança entender que uma propaganda é uma propaganda do que conseguir não acreditar que é atitude normal e trivial uma filha dormir com o marido da mãe, como aconteceu há algum tempo em uma destas novelas.
Outro tipo de programa que acredito precisar de indicação de horário é o chamado Reallity Show. Este, em nome de uma imaginada realidade ao vivo, mostra cenas e situações bastante irreais. Sem entrar em qualquer discussão de veracidade ou qualidade destes programas, o seu conteúdo é para ser avaliado quanto à classificação indicativa.
Na minha opinião, perde-se muita energia com a discussão do marketing como um eventual vilão do consumismo infantil, enquanto temos um conteúdo bastante diverso e sem nenhuma reflexão sendo disponibilizado às crianças via TV, cinema, shows etc. Lembro que isto também é consumo.
João Matta
Professor de Marketing Infantil da ESPM de São Paulo. Depoimento concedido ao site do Rio Mídia, em 2007, logo após a aprovação da portaria 1.22o, sobre a classificação indicativa.