Por Fátima Soares, Adriana Oliveira e Silvana Medeiros
Algumas autoras do livro Velhas Sábias
Recife, dezembro de 2019, Festa de nossa Senhora da Conceição. O evento Livro Aberto Sebo itinerante sobe o Morro para nove dias de trocas, vendas, doação, divulgação de livros. Rodas de leitura, contação de histórias, bate-papos. Encontro de amigas de infância e juventude, novas amizades. Nasce o desejo de escrever. Vamos contar as histórias de nossas velhas…
2020, janeiro e fevereiro de reuniões. O desejo torna-se projeto de livro coletivo. Treze mulheres negras do Morro. Entre risos e lágrimas, chás, leituras, cafezinho, biscoitos… Compartilhamos memórias e dúvidas, somos, podemos ser escritoras? Nossas histórias interessam? Como publicar? Começamos a escrever, marcamos novos encontros. Março chega com a pandemia de COVID-19, distanciamento social, isolamento. Agora é preciso sobreviver, aprender a trabalhar à distância, lidar com tecnologias de difícil acesso para algumas. Dezembro chegou, O Sebo não subiu o Morro. Decidimos abrir o projeto para outras mulheres, negras ou não, de outros cantos do Brasil.
2021, somos 27 escritoras de oito estados brasileiros. Algumas estreantes, outras já experientes. Contamos histórias de nossas Velhas Sábias. Mulheres que, em duros tempos, souberam viver e alcançaram longevidade. Algumas vivas falando do presente e do passado. A maioria já encantada. Porém, presentes na vida suas descendentes. São nossas mães, avós, bisavós, tias… São os ecos de suas vozes que oferecemos ao público leitor.
2022, e foi assim… Ganhar o mundo, ganhar vida desde a publicação do primeiro volume; certa em sua missão, a obra segue seu curso mundo afora. A edição física adentrou as nossas famílias, ambientes de trabalho, amizades e vizinhanças. Promovendo leituras e encontros com gente próxima e distante, compartilhando emoções. O E-book, leve pássaro, atravessa fronteiras encantando, conquistando, convidando novas escritoras, criando possibilidades para sistematizar histórias orais, memórias afetivas. Instigando-as a revisitar seus baús de lembranças acumuladas. Documentos diversos, fotografias, cartas, sonhos…
O volume II surge nesse passear, com o desejo latente de transformar em contos biográficos, as vozes de outras mais velhas. Com o propósito de alcançar o máximo possível as mulheres, independentemente de onde estejam. Para encurtar as distâncias nos unimos por um delicado fio, feito de mensagens de texto, áudios, encontros virtuais. Cada decisão tomada pelo grupo passou por um fórum de debate, dando os contornos, dessa imensa colcha de retalhos, costurando cada página da nossa obra. E é nesse fluxo que apresentamos o nosso segundo volume, cheio de nossa herança cultural, nutrido do poder feminino, em nosso processo de existência e resistência. São trinta e uma histórias, vindas de 7 estados brasileiros, da Itália e do Canadá. Diversidade de experiências, em comum o afeto, herança primordial de nossa ancestralidade, que ora compartilhamos.
2023, escrever é brincar e lutar com as palavras, enquanto colocamos no papel nossas emoções e conhecimentos. Essa coletânea tem sabor, cheiro de zelo, acolhimento e coletividade. Muitas mãos escreveram seus textos dando conta do passado em nosso presente. Aqui estão alegrias, tristezas, anseios e desejos de mudanças, expressas por mulheres experientes que já escreveram e publicaram outras obras e já carregam consigo uma bagagem de fazer literário. E mulheres que estão se iniciando no universo da escrita literária, têm um cotidiano que as sobrecarregam e dificultam sua produção escrita, mas todas estão unidas pela necessidade de visibilizar nossas ancestrais. Nossas velhas viveram em épocas e lugares diferentes, porém que com suas ações e contribuições protagonizaram suas vidas e influenciaram as mulheres que hoje somos.
“Velhas Sábias: tributo às que vieram antes nós” começou a ser gestada no Morro da Conceição – Recife. Atravessou a pandemia de COVID19, crescendo e acolhendo escritoras de várias regiões do Brasil e brasileiras vivendo em outros países. Partiu da reunião presencial de amigas próximas, às reuniões virtuais, tendo como ferramenta principal os telefones celulares. Estamos na terceira gestação e esse segurar das mãos forma uma corrente que se estende por milhares de quilômetros, rompendo fronteiras em outras circunstâncias interditadas às mulheres. O convite à leitura é convite para conhecer este lugar de fala, união, criatividade e aprendizagem. É também uma chamada ao engajamento para contribuir com o sonho de equidade de gênero.
Que a história das mulheres possa ser imortalizada!
Você pode comprar o exemplar no instagram da editora: https://www.instagram.com/editoraipanec/