Flavia Perez.
Com a suspensão das aulas presenciais em escolas públicas e privadas de todo o país, após a chegada da pandemia do novo coronavírus ao Brasil, é possível perceber o empenho de professores e gestores escolares em disponibilizar aos estudantes conteúdos pedagógicos que possibilitem a manutenção de uma rotina de estudos em casa. Contudo há diferentes realidades de acesso a recursos tecnológicos para educar de forma remota, tanto por parte das escolas, quanto dos estudantes.
Dados recentes divulgados pelo IBGE revelam que 45 milhões de brasileiros ainda não tinham acesso à internet, em 2018. Diante desse cenário, é preciso refletir sobre os desafios da educação durante a pandemia, considerando fatores como a disponibilidade de pacotes de dados, redes Wi Fi, dispositivos eletrônicos, além do conhecimento necessário para lidar com essas ferramentas. Como, então, professores e estudantes vêm se adaptando aos desafios da educação remota?
Na Escola Municipal Anne Frank, em Laranjeiras, no Rio de Janeiro, o ensino remoto começou a ser oferecido aos estudantes logo na primeira semana depois da implantação das medidas de isolamento social.
Segundo André Santos, diretor da escola, “sabemos que existem restrições de acesso, mas precisamos propiciar aos alunos uma rotina de estudos, pois essa é uma forma de manter o contato deles com a escola. Assim que recebemos a notícia sobre a suspensão das aulas, criamos um grupo em um aplicativo de mensagens e, em pouco tempo, já tínhamos a grande maioria dos pais inserida nele. Em seguida, definimos a adoção de uma ferramenta para inserção dos conteúdos pedagógicos a serem compartilhados, montamos as salas virtuais e buscamos tutoriais a fim de orientar os professores para uso da plataforma”, explica o diretor.
Educar de forma remota durante o período de isolamento social significa que, mesmo de portas fechadas, a escola pode continuar funcionando. “Estamos vivendo um momento peculiar que envolve inúmeras questões. Ao mesmo tempo, temos consciência da nossa responsabilidade enquanto educadores e, por isso, buscamos levar aos alunos vídeos explicativos, atividades de artes, contação de histórias, aulas de capoeira, links de livros, músicas e HQs, além dos conteúdos curriculares”, detalha André.
Disponibilizar conteúdos para que os alunos possam estudar em casa é fundamental. Por outro lado, é preciso considerar questões como as limitações de acesso a esses conteúdos on-line e, em muitos casos, a falta de um ambiente e espaço adequados para estudar.
Para a neuropsicopedagoga Bianca Fagundes, neste momento de isolamento social, no qual crianças e jovens estão afastados da escola, o foco da atenção deve estar voltado ao fomento das competências socioemocionais, como colaboração, solidariedade e humanismo. Portanto, nas situações em que não houver possibilidade de acesso próprio ou compartilhado à internet, pais e familiares podem usar a criatividade para incentivar o desenvolvimento no ambiente familiar.
“Hoje, com os avanços da neurociência, sabemos que os aspectos emocionais estão atrelados ao aprendizado. Por isso, no contexto atual, é essencial estabilizar o emocional dos estudantes. Resgatar memórias afetivas, brincadeiras infantis, como pular corda e amarelinha, jogos pedagógicos, filmes, sentar em roda para conversar com crianças e adolescentes, visando trabalhar aspectos lúdicos que contribuam para o desenvolvimento de habilidades e da cognição. A leitura também deve ser incentivada em todas as faixas etárias”, aponta.
É preciso incentivar cada avanço e praticar a comunicação não violenta em casa. Somente dessa forma a tríade formada por escola, família e indivíduo poderá se fortalecer durante o período de isolamento social. Implantar uma rotina com horários para estudo, alimentação e entretenimento também é necessário, uma vez que todos esses aspectos influenciam o aprendizado.
Dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) mostram que cerca de 95% dos alunos matriculados na América Latina e no Caribe, ou seja, 154 milhões de crianças estão temporariamente fora da escola devido à Covid-19. Por meio de seus canais digitais, a instituição compartilha informações sobre ferramentas gratuitas de educação e entretenimento para famílias e educadores, além de dicas e exemplos de boas práticas de saúde e higiene. https://www.unicef.org/brazil/
Flavia Perez é jornalista, pós-graduada em Língua Portuguesa, desenvolve pesquisa na área de Midiaeducação e trabalha há mais de dez anos criando conteúdos sobre Educação, Cultura, Saúde e Meio Ambiente.