EREM Itabira: Escola Municipal José Gomes Vieira mobiliza alunos na conservação do córrego das Abóboras

Professor Paulo Cabral explica detalhes do projeto.

Por Marcus Tavares

Paulo Cabral é professor de Geografia da Rede Municipal de Ensino de Itabira há dois anos. Mas a experiência de sala de aula vem desde 2011. Formado pela UFMG, ele cursa, hoje, mestrado em Geografia no Instituto Federal de Minas Gerais, campus Ouro Preto. Entre os estudos vem se dedicando a engajar seus estudantes da Escola Municipal José Gomes Vieira, bairro de Santa Ruth, no programa Esse Rio é Meu (EREM).

O programa Esse Rio é Meu é desenvolvido em conjunto pela Secretaria Municipal de Educação e pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura de Itabira, em parceria com a oscip planetapontocom e a Fundação Vale – patrocinadora do programa. O objetivo do programa é engajar escolas na recuperação e preservação dos rios. Cada grupo de escolas ficou responsável por desenvolver ações em torno de um dos corpos hídricos da cidade.

São 70 estudantes de três turmas do 6º ano envolvidos com o projeto. “O resultado mais significativo tem sido o engajamento dos estudantes. Destaco também as atividades realizadas, onde os alunos atuam como protagonistas, produzindo diferentes materiais”, conta o professor.

Segundo ele, a escola tem conseguido emplacar os objetivos do projeto que visa à intervenção e preservação do Córrego das Abóboras, em articulação com diferentes organizações da Prefeitura Municipal de Itabira. “Os alunos foram, desde o começo, super receptivos ao trabalho. Demonstraram interesse em todos os momentos, desde a investigação histórica, passando pelas atividades de campo e seus desdobramentos e chegando até o projeto de intervenção”, destaca Paulo Cabral.

Em entrevista à revistapontocom, o professor afirma que a “o trabalho por projeto, quando bem estruturado e organizado, pode ser de grande valia para as escolas. Aproximam-se as áreas do conhecimento, assim como a escola se aproxima da realidade vivida do estudante, tornando o ensino e a aprendizagem muito mais significativos para os alunos”, ratifica.

Acompanhe a entrevista:

revistapontocom – Como o projeto vem sendo desenvolvido na escola?
Paulo Cabral –
O programa Esse Rio é meu – Itabira está sendo desenvolvido a partir do trabalho integrado dos professores focais (coordenadores de Geografia e História) em parceria com a coordenação de Ciências e os professores destas três áreas. Temos tido o apoio da organização planetapontocom, da Secretaria Municipal de Educação, da equipe diretiva da escola, de órgãos da Prefeitura, como a Itaurb e a Secretaria de Meio Ambiente, e do financiamento da Fundação Vale. Nosso fundamento tem sido realizar o trabalho de forma interdisciplinar, aproximando as disciplinas de Geografia, História e Ciências, buscando alinhar o programa com aqueles que já são realizados na escola, como o “Fazer Ciências”, e integrar com os conhecimentos e vivências dos alunos e de suas famílias. Em um primeiro momento, identificamos os cursos d´água que estão localizados próximos à escola e definimos com qual deles iríamos trabalhar. Optamos pelo Córrego das Abóboras que tem suas nascentes principais em um bairro vizinho, mas que recebe também contribuição de uma nascente localizada a poucos metros da escola. Fizemos em um primeiro momento um mapeamento do estado atual do Córrego das Abóboras. Investigamos junto às famílias e moradores mais antigos o histórico deste curso d´água buscando elementos que pudessem orientar uma intervenção positiva dos alunos e da comunidade escolar no córrego. A partir dessas investigações e da situação atual do córrego, estamos propondo uma intervenção com a participação da escola, dos alunos e de órgãos da prefeitura, realizando um mutirão de limpeza, instalando placas de conscientização ambiental, bem como o plantio de mudas de espécies nativas visando contribuir na reconstituição da mata ciliar do Córrego das Abóboras.

revistapontocom – Quando o projeto começou a ser implementado na escola?
Paulo Cabral –
O projeto começou a ser implementado na Escola a partir do mês de março, no qual foi realizado aqui em Itabira o “1º Seminário das Águas”, onde, entre outras atividades, foi lançado oficialmente o Projeto “Esse Rio é Meu – Itabira”. Desde então temos realizado atividades de diferentes formatos, utilizando diferentes materiais didáticos visando a construir conhecimentos pedagógicos e também possibilitar que os alunos assumam o papel de protagonistas nos estudos, nas propostas e ações.

revistapontocom – O que já foi realizado com os estudantes?
Paulo Cabral –
Levamos os alunos para uma atividade de campo às margens do Córrego das Abóboras, onde eles puderam observar o estado atual de conservação das águas e fizeram os registros escritos em seus cadernos e também por meio de fotografias de seus celulares. Em um segundo momento, os alunos entrevistaram seus familiares para investigar a história do curso d´agua e do próprio bairro. Em outro momento, fizemos a coleta de amostras de água em diferentes pontos do córrego, levamos ao Laboratório de Ciências onde estas amostras foram utilizadas como material didático, sendo possível comparar visualmente e diferenciar as amostras. Atualmente estamos trabalhando na proposta de intervenção junto ao Córrego, onde será realizado um mutirão de limpeza, a instalação de placas de conscientização ambiental e também o plantio de mudas às margens do Córrego das Abóboras.

revistapontocom – A comunidade também está sendo envolvida?
Paulo Cabral –
A comunidade tem sido envolvida no resgate das informações sobre o córrego das Abóboras, a partir das entrevistas e conversas dos alunos com seus pais e familiares. Temos a ideia de realizar, de forma mais sistemática, uma conversa com esses moradores mais antigos para que contem suas memórias e vivências com o Córrego Abóboras, com a produção de um vídeo. É algo que está em nosso horizonte de trabalho.

revistapontocom – O senhor falou do objetivo interdisciplinar da proposta da escola. Como isso vem sendo realizado na prática?
Paulo Cabral –
O projeto vem ajudando a resolver diversas questões ligadas ao processo de ensino e aprendizagem, fundamentalmente porque traz a realidade vivida pelos alunos para dentro da sala de aula. Ao mesmo tempo, faz com que as disciplinas e o conhecimento acadêmico saiam de dentro da escola e vão ao encontro da realidade. Essa aproximação com a realidade faz com que o interesse dos alunos e seu envolvimento com as disciplinas e com o aprendizado sejam maiores.

revistapontocom – Neste sentido, o projeto auxilia o desenvolvimento das competências e habilidades da leitura e escrita, por exemplo?
Paulo Cabral –
Sim, auxilia na medida em que o trabalho em sala continua a ser realizado com a leitura e a produção de textos envolvendo as questões hídricas. Com a leitura e a produção de textos relacionando à história do Córrego e da própria comunidade. Ou seja, a ideia de projeto, que muitas vezes é vista como algo isolado da escola e das disciplinas, é justamente o oposto disso, ao permitir que as disciplinas se articulem em torno de um eixo comum, ligado à realidade dos alunos e que faz parte da vida de todos nós que é a questão da água.

revistapontocom – A adesão dos professores faz diferença?
Paulo Cabral –
Sabemos como é corrida a vida do professor, que muitas vezes trabalha em dois e até mesmo três horários diferentes, tendo pouco tempo para debater e articular um projeto comum. Neste sentido, as formações oferecidas aos professores regentes, que estão dentro da sala de aula, e aos professores focais, que estão auxiliando os regentes em seu trabalho, foi e está sendo fundamental para melhor organizar os trabalhos. Pois têm mostrado a importância da organização, do planejamento e do registro das atividades realizadas ao longo da execução do projeto. Se é verdade que nem todos os professores têm se engajado da forma como a gente gostaria, outros têm buscado se apropriar das discussões, tentando trazer a realidade para dentro da sala de aula. E assim temos nos organizado, realizando reuniões de planejamento e avaliação do trabalho, buscando ampliar as ações e construir pontes entre os conteúdos curriculares e a realidade vivida por alunos e professores.

revistapontocom – Quais foram os principais desafios da implementação do projeto?
Paulo Cabral –
A dificuldade maior diz respeito à articulação do projeto entre a organização central, a coordenação de área nas escolas e os professores, pela já alegada falta de tempo para o planejamento, relacionada com a carga horária dobrada e até triplicada dos professores, pelo próprio cotidiano escolar, onde muitas vezes agimos para “apagar incêndios” que surgem dia a dia.

revistapontocom – O que vem por aí?
Paulo Cabral –
Estamos estruturando nossa proposta de intervenção junto ao Córrego das Abóboras, com o mutirão de limpeza de suas margens, com o apoio da Companhia Urbanizadora do município (Itaurb), com a produção e instalação de placas de conscientização ambiental produzidas pelos próprios alunos e também com o plantio de mudas de espécies nativas visando a reconstituição de parte da mata ciliar do Córrego. Para além disso, pensamos em produzir um vídeo registrando as vivências de moradores mais antigos com o Córrego das Abóboras para ser disponibilizado para a comunidade, ajudando a manter viva a memória deste curso d ´agua que já foi espaço de lazer e de trabalho para várias gerações.

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