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Dia 31 de março: histórias para não esquecer

Texto de Rosa Freire d'Aguiar.

Por Rosa Freire d’Aguiar
Jornalista e tradutora de francês, espanhol e italiano. Foi correspondente das revistas Manchete e IstoÉ em Paris.


Hoje é 31de março. Há 58 anos um golpe de Estado levou o Brasil a um regime ditatorial que durou mais de vinte anos. Celso Furtado estava na primeira lista – a do AI-1 – em que uma centena de brasileiros foram punidos pelos golpistas com a cassação de direitos civis e políticos.

Celso guardou dezenas de cartas recebidas e enviadas por atingidos pelo golpe, muitos forçados ao exílio. Publiquei-as no livro “Correspondência Intelectual de Celso Furtado. 1949-2004”, que saiu ano passado pela Companhia, em papel e em e-book para quem prefere.

Reproduzo aqui trechos de duas, de amigos chegados: uma, do filósofo Álvaro Vieira Pinto, um dos fundadores do ISEB. Outra, do economista e sociólogo Albert Hirschman. A primeira descreve a realidade dos fatos; a segunda busca uma interpretação.

A de Álvaro Vieira Pinto: “Desde o dia do golpe não recebi mais vencimentos. Tive meus direitos políticos cassados. Meu instituto foi fechado e meus livros impedidos de circular. Perdi a esperança de poder escrever qualquer coisa que um editor consiga publicar. Sou de temperamento um homem sensível e entrei num estado de funda angústia e abatimento físico, ao saber que minha prisão preventiva estava para ser decretada”.

A de Hirschman: “Os acontecimentos recentes podem facilmente ser interpretados como a prova definitiva de que nunca houve uma chance real de implantar reformas no Brasil, de que os que pensavam de outra forma são incuravelmente ingênuos ou pior. Mas precisamos de uma análise do que deu errado, quando e por quê. Por que as forças da extrema-esquerda na América Latina são tão perdidamente dogmáticas? Por que se tornam tão facilmente, e tão depressa, superconfiantes depois dos primeiros sucessos? Posso pensar em várias hipóteses por que seria assim, mas primeiro o fenômeno precisa ser inteiramente descrito e assimilado.”

Passou-se mais de meio século. Os comentários e reflexões que perpassam essas cartas continuam de surpreendente atualidade. Entre os punidos pelo golpe e cujas cartas se encontram na “Correspondência Intelectual de Celso Furtado”, cito Caio Prado Jr., Darcy Ribeiro, Thiago de Mello, José Serra, José Leite Lopes, Marcio Moreira Alves e um longo etecetera. Também vale a pena ler o capítulo que publiquei sobre as perseguições que representantes dos governos militares fizeram aos exilados – o que, esperemos, não recomece.

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