No último dia 3, O Ginásio Educacional Tecnológico Brant Horta, localizado na Penha, Zona Norte do Rio, recebeu o Prêmio Comdedine de Melhor Plano de Sequência Didática Antirracista, no auditório da Escola de Formação Paulo Freire, da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. O prêmio, instituído pelo Conselho Municipal de Defesa dos Direitos do Negro, homenageia professores e alunos da rede municipal por trabalhos que promovem a reflexão sobre questões étnico-raciais e valorizam a cultura afro-brasileira.
O prêmio foi concedido em função da elaboração do plano de sequência didática antirracista, desenvolvido pelos professores Renata Duarte (inglês), Thiago Carvalho (Projeto de Vida), Virgínia do Espírito Santo (Geografia) e Zelimar Baptista (Círculo de Leitura). O trabalho abordou temas como racismo ambiental, desigualdades territoriais e sustentabilidade e cultura maker, promovendo o protagonismo dos alunos.
O projeto integrou atividades teóricas e práticas, incluindo a criação de uma horta afro-referenciada, funcionou como um espaço pedagógico e social para o resgate de saberes ancestrais e a promoção de práticas sustentáveis. A horta não apenas conectou os alunos às questões ambientais locais, mas também valorizou a ancestralidade afro-brasileira por meio do plantio de espécies medicinais e alimentares ligadas à cultura afrodescendente. Além disso, os alunos produziram conteúdos digitais e participaram de oficinas, fortalecendo o uso da tecnologia e ampliando o alcance do projeto.
Outro ponto forte foi a forma como o projeto dialogou com os preceitos da Lei nº 10.639/2003, que determina a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana. Ao promover reflexões sobre racismo ambiental, sustentabilidade e justiça social, o trabalho envolveu a comunidade escolar e teve impacto direto no território. Essa abordagem completa e transformadora foi fundamental para que a escola fosse reconhecida como referência na promoção de uma educação inclusiva e alinhada às diretrizes nacionais para relações étnico-raciais.
De acordo com os organizadores do Comdedine, o plano do GET Brant Horta destacou-se por empoderar os alunos como agentes de transformação, resgatando a cultura afro-brasileira e promovendo a conscientização ambiental. Esse reconhecimento celebra o impacto positivo da iniciativa na escola e na comunidade, fortalecendo os valores de diversidade cultural e justiça social.
Em entrevista à revistapontocom, a professora Virgínia do Espírito Santo explicou que o projeto trabalha nas seguintes frentes:
– Diagnóstico e pesquisa: os alunos investigam problemas ambientais locais, como poluição e abandono de áreas públicas, utilizando mapas, entrevistas com moradores e análises das condições socioambientais.Temas como o impacto das desigualdades no Rio Quitungo e na Serra da Misericórdia são explorados para entender o conceito de racismo ambiental;
– Horta Afro-referenciada: a horta é planejada e implementada com a participação ativa de alunos, professores, famílias e parceiros comunitários. São cultivadas espécies ligadas à ancestralidade afro-brasileira, como babosa, erva-cidreira e manjericão, promovendo práticas culturais e sustentáveis. A horta também é um espaço para práticas como compostagem, reaproveitamento de materiais e economia circular;
– Produção de conteúdos digitais e oficinas: Os alunos criam vídeos, textos e QR codes para as plantas da horta, conectando informações sobre as espécies ao contexto cultural e ambiental. Oficinas interdisciplinares ajudam a relacionar disciplinas como Geografia, Ciências, Língua Portuguesa e Projeto de Vida, integrando conceitos teóricos e práticos.
– Engajamento da comunidade: A escola realiza eventos para divulgar as ações da horta, fortalecendo o vínculo com a comunidade local. Mutirões de plantio, debates sobre racismo estrutural e ações de conscientização ambiental são algumas das atividades realizadas.
“O projeto não apenas ensina conceitos teóricos, mas transforma o espaço escolar em um local de valorização cultural, inclusão social e preservação ambiental. Ele empodera os alunos como agentes de transformação, conectando-os às demandas reais do território e promovendo mudanças na escola e na comunidade. A horta afro-referenciada é o eixo central de um trabalho que une educação, cultura e sustentabilidade”, destaca o grupo de professores à frente do projeto.