– REDENÇÃO (TV Excelsior, 1966), de Raimundo Lopes
Direção de Waldemar de Moraes e Reynaldo Boury
Foi a primeira novela que trouxe tipos essencialmente brasileiros para a telenovela, além de ter erguido a primeira cidade cenográfica da televisão brasileira.Redenção era uma cidade fictícia no interior de São Paulo. Foi a mais longa novela da nossa TV: 596 capítulos.
– ANTÔNIO MARIA (TV Tupi, 1968), de Geraldo Vietri
Direção: Geraldo Vietri
Este sucesso da extinta e pioneira TV Tupi começou um processo de revolução em termos de narrativa ao incorporar fatos do cotidiano num clássico folhetim protagonizado por um personagem de origem portuguesa.
– BETO ROCKFELLER (TV Tupi, 1968), de Bráulio Pedroso a partir da sinopse de Cassiano Gabus Mendes
Direção de Lima Duarte e Walter Avancini
A grande revolucionária da telenovela brasileira. A partir daí, ocorreram, digamos assim, sub-rupturas, sub-revoluções. É o início do “jeito brasileiro” de se fazer novela. O texto inovador de Bráulio Pedroso – a crítica sarcástica, debochada de nossa sociedade. A direção propiciando maior liberdade aos atores em cena; a criação do merchandising por Luiz Gustavo (Beto Rockfeller), a utilização de músicas nacionais e internacionais do momento na trilha sonora; gravações em externa; conflitos mais ousados entre casais mais maduros. Utilizou o noticiário do dia a dia como assunto dos personagens.
– OS ESTRANHOS (TV Excelsior, 1969), de Ivani Ribeiro
Direção: Walter Avancini
Primeira novela a trazer o tema da ficção científica com direito a uma espaçonave e seres de outro planeta. Em seu elenco, além de Regina Duarte, Cláudio Corrêa e Castro, Rosamaria Murtinho e Stênio Garcia, a curiosa participação de Pelé no papel do escritor Plínio Pompeu.
A partir deste período, há uma segunda revolução na história da telenovela brasileira com o início da modernização e industrialização promovidas pela produção da Rede Globo. Revoluciona-se não apenas o conteúdo e forma, mas sim o sistema de produção de novelas no Brasil (e em termos da nascente indústria mundial da telenovela) com reflexos intensos na sociedade em seus diversos aspectos – econômico, político e cultural.
É notável também como cada autor, em diversas novelas, procurará revolucionar um aspecto da narrativa. É isto, aliás, que encanta (e diferencia) as produções brasileiras no mundo inteiro. Dentro de mais de 500 produções da história da telenovela diária, elegi algumas que considero essenciais ao processo de renovação e que de algum modo transformaram a narrativa ficcional televisiva.
– IRMÃOS CORAGEM (Rede Globo, 1970), de Janete Clair
Direção: Daniel Filho e Milton Gonçalves
A trama misturava com perfeição elementos do clássico folhetim (com diversas tramas amorosas, mulher com tripla personalidade, filho de pai desconhecido…) com o clima de faroeste. Utilizou o futebol como pano de fundo de uma das tramas principais. Aproveitou um jogo de verdade (no Maracanã) para o início da novela. O clima árido do sertão goiano também era novidade em telenovelas. Uniu com perfeição a trama regionalista à trama urbana. Em certas cenas utilizou-se a linguagem de cinema. Conquistou, em definitivo, o público masculino e infanto-juvenil para as novelas.
– BANDEIRA 2 (Rede Globo, 1971), de Dias Gomes
Direção: Walter Campos
Pela primeira vez uma novela era ambientada longe da Zona Sul do Rio ou de áreas nobres paulistanas. O bairro eleito por Dias Gomes foi o de Ramos, Zona Norte do Rio, e o protagonista, um bicheiro. Além disso, a novela trazia uma taxista desquitada e a Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense como destaques da trama que mostrava a difícil luta de retirantes nordestinos no Sudeste.
– SELVA DE PEDRA (Rede Globo, 1972), de Janete Clair
Direção: Daniel Filho e Walter Avancini
Grande marco da modernização e industrialização da telenovela. A trama – ancorada na conquista por um lugar ao sol – e a direção ressaltavam a transição de um país interiorano para um país modernizado pela grandes empresas. Um modelo que propagou-se por diversas outras novelas.
– O PRIMEIRO AMOR (Rede Globo, 1972), de Walter Negrão
Direção: Régis Cardoso
Novela escrita especialmente para conquistar crianças, jovens, adolescentes. Linguagem moderna. Destaque para a dupla de heróis “Shazan e Xerife” que, de tanto sucesso, gerou um seriado: “Shazan, Xerife e Cia.”
– UMA ROSA COM AMOR (Rede Globo, 1972), de Vicente Sesso
Direção: Walter Campos
Estilo de comédia romântica perpetuado até hoje. O casal central era totalmente distinto do estilo de protagonistas românticos apresentados na telenovela até então. Ela, uma secretária solteirona e desajeitada. Ele, um quarentão meio rabugento.
– O BEM-AMADO (Rede Globo, 1973), de Dias Gomes
Direção: Régis Cardoso
O formato desta novela – prefeitura, igreja, praça central/ coreto, bar, farmácia… enfim, tudo o que tem uma típica cidade do interior, propagou-se pela telenovela brasileira e até hoje rende bons resultados. Era a primeira vez que uma telenovela mostrava uma sátira política – em plena ditadura, pois estávamos em 1973. Incursão pelo realismo mágico (O personagem Zelão, interpretado por Milton Gonçalves, voa no último capítulo). Primeira novela em cores e o primeiro produto da TV brasileira a ser exportado: o populismo de Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo) conquistou mexicanos e uruguaios. Trilha sonora composta especialmente por Vinicius de Moraes e Toquinho.
– OS OSSOS DO BARÃO (Rede Globo, 1973), de Jorge Andrade
Direção de Régis Cardoso
Considerada um marco revolucionário na estética narrativa por utilizar a história da formação social do Estado de São Paulo como pano de fundo. Os personagens eram frutos diretos das transformações sociais e econômicas ocorridas a partir de 1930. Portanto, nesta trama não havia figura do vilão folhetinesco.
– MULHERES DE AREIA (TV Tupi, 1973), de Ivani Ribeiro
Direção: Carlos Zara e Edison Braga
Novela que aprofundou o psicologismo no gênero, em particular nas personagens gêmeas Ruth e Raquel. Um sucesso que se estendeu até o remake da Globo, em 1993.
– O REBU (Rede Globo, 1974), de Bráulio Pedroso
Direção: Walter Avancini e Jardel Mello
Toda a ação da novela era centrada numa festa, com flashback do dia anterior, e as conseqüências do dia seguinte à festa. Neste grande evento para recepcionar uma princesa italiana, ocorre um crime. Mas não sabíamos quem havia morrido, também não conhecíamos a identidade do assassino e os motivos que o levara a cometer o crime.
– A VIAGEM (TV Tupi, 1975), de Ivani Ribeiro
Direção: Edison Braga
A vida após a morte, sem dúvida alguma, foi um mote de extrema revolução na história da telenovela. O mesmo sucesso foi conquistado com a nova versão produzida pela Rede Globo em 1994.
– ESCALADA (Rede Globo, 1975), de Lauro César Muniz
Direção: Régis Cardoso
Pela primeira vez mostrou-se a trajetória de um homem da juventude à velhice em meio aos momentos marcantes da História do Brasil e às transformações sociais numa trama que se iniciava em 1940 e terminava em 1975.
– GABRIELA (Rede Globo, 1975), de Walter George Durst inspirado no romance “Gabriel, Cravo e Canela”, de Jorge Amado
Direção: Walter Avancini
Produzida especialmente para comemorar os dez anos de Rede Globo e os cinco de liderança nacional, esta primorosa novela reproduziu com perfeição uma réplica da cidade de Ilhéus, no interior da Bahia, e mostrou temas até então inéditos na televisão brasileira: a sensualidade do casal protagonista – Gabriela e Nacib; o poder desmedido dos coronéis do cacau com seus crimes e castigos em nome da honra; adultério e a difícil conquista de uma renovação social com a chegada de um jovem político com idéias modernistas.
– O GRITO (Rede Globo, 1975), de Jorge Andrade
Direção: Walter Avancini
Contunde novela que mostrava os problemas do crescimento desordenado de uma metrópole como São Paulo. Todos os personagens moravam no Edifício Paraíso, desvalorizado com a construção do Elevado Costa e Silva, o popular “Minhocão”. Ainda, uma personagem detinha o poder de escutar a conversa por telefone de todos os moradores. Com esta novela, a Globo produziu um subgênero dentro da telenovela: a “novela reportagem”.
– O CASARÃO (Rede Globo, 1976), de Lauro César Muniz
Direção: Daniel Filho e Jardel Mello
A grande novidade foi uma novela ser contada em três épocas que se alternavam – 1900 – 1926 e 1976. E todas elas ligadas pelo amor de João Maciel e Carolina. Além disso, discutiu assuntos sociais e políticos com grande contundência.
– ESCRAVA ISAURA (Rede Globo, 1976), de Gilberto Braga inspirado no romance de Bernardo Guimarães
Direção de Herval Rossano e Milton Gonçalves
Marcou o horário das seis com produções de época, conseguiu colocar o Brasil entre os maiores produtores de novelas do mundo furando o bloqueio da cortina-de-ferro (os chamados países comunistas) – porque lá não entravam produtos ocidentais. Além de tratar de maneira contundente o tema da liberdade, recebeu um tratamento especial quanto à trilha incidental por parte de Guerra Peixe Filho. Com isso o clima de tensão entre senhor e escrava e a ação dramática de um modo geral tornavam-se ainda mais eletrizantes.
– SARAMANDAIA (Rede Globo, 1976), de Dias Gomes
Direção: Walter Avancini
Marco inicial do realismo fantástico na telenovela brasileira.
– ESPELHO MÁGICO (Rede Globo, 1977), de Lauro César Muniz
Direção: Daniel Filho, Gonzaga Blota e Marco Aurélio Bagno
Uma das novelas mais polêmicas da televisão ao retratar de maneira realista o dia a dia dos profissionais da comunicação: tv em particular, mas também teatro, cinema e revista. Para tanto, havia a produção de uma novela – Coquetel de Amor – que era exibida dentro da novela Espelho Mágico.
– FEIJÃO MARAVILHA (Rede Globo, 1979), de Bráulio Pedroso
Direção: Paulo Ubiratan
Ao homenagear as chanchadas da Atlântida, o dramaturgo Bráulio Pedroso criou uma das novelas mais inventivas da TV. Ambientados num hotel cinco estrelas no Rio de Janeiro e em busca do ouro, os personagens protagonizaram cenas de comédia com grande agitação. A novela abriu, portanto, um novo caminho para as comédias do horário das sete produzidas pela Rede Globo.
– GUERRA DOS SEXOS (Rede Globo, 1983), de Silvio de Abreu
Direção: Jorge Fernando
Pela renovação da narrativa que utilizou a comédia americana como base. Uma grande inovação foi os personagens conversando com o público.
– ROQUE SANTEIRO (Rede Globo, 1985), de Dias Gomes e Aguinaldo Silva
Direção: Paulo Ubiratan, Marcos Paulo, Gonzaga Blota e Jayme Monjardim.
União de assuntos religiosos e políticos acrescidos do questionamento da fé. Discussão sobre misticismo, crenças populares.
– VALE TUDO (Rede Globo – 1988), de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Basséres
Direção: Dennis Carvalho e Ricardo Waddington
Chamou a atenção a maneira como os autores (em particular Gilberto Braga), denunciavam em seu texto as falcatruas dos empresários e maracutaias dos brasileiros para subir de status de qualquer maneira, até passando por cima dos outros, sem máscara nem censura. Além disso, em sua reta final, monopolizou o país com a pergunta “Quem matou Odete Roitman?”.
– QUE REI SOU EU? (Rede Globo, 1989), de Cassiano Gabus Mendes
Direção: Jorge Fernando
No Reino de Avilan, a metáfora da situação política do Brasil com a Revolução Francesa. Tudo o que acontecia no dia a dia estava presente na novela.
– PANTANAL (Rede Manchete, 1990), de Benedito Ruy Barbosa
Direção: Jayme Monjardim
Conflitos familiares, amorosos e de terra muito bem escritos e definidos pelo autor. Tudo isso acrescido de um interessantíssimo realismo mágico. Trilha sonora envolvente. Direção preciosa e estética cinematográfica.
– BARRIGA DE ALUGUEL (Rede Globo, 1990), de Glória Perez
Direção: Wolf Maya
Tramas contemporâneas (em alguns casos à frente do tempo) e polêmicas.
– A PRÓXIMA VÍTIMA (Rede Globo, 1995), de Silvio de Abreu
Direção: Jorge Fernando
Esta revolucionária trama policial arquitetada por Silvio de Abreu eletrizou a audiência com as perguntas: “Quem será a próxima vítima” e “Quem é o assassino de a próxima vítima?”. Nunca sabíamos que personagem poderia ser a vítima!
– LAÇOS DE FAMÍLIA (Rede Globo, 2000), de Manoel Carlos
Direção: Ricardo Waddington, Rogério Gomes e Marcos Schechtman
Ao escrever suas novelas dentro do estilo “crônica”, acrescido por campanhas sociais de grande impacto, Manoel Carlos criou uma maneira muito diferenciada de narrar uma história na televisão.
– SENHORA DO DESTINO (Rede Globo, 2004), de Aguinaldo Silva
Direção: Wolf Maya
Tendo como ponto de partida um fato verídico – o sequestro de um menino – que o autor extraiu das manchetes dos jornais, esta novela contou com inúmeros entrechos de interesse sob o ponto de vista dos moradores de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense – uma novidade em termos de narrativa.
– A FAVORITA (Rede Globo, 2008), de João Emanuel Carneiro
Direção: Ricardo Waddington
Uma trama de três fases. Na primeira, há o mistério sobre a identidade da verdadeira assissina. Quem é a inocente: Flora ou Donatela? Na segunda fase, há a revelação da verdadeira assassina e as consequências de seus atos de vilania, e a terceira onde a vilã é desmascarada por todos os demais personagens.