Por Eduardo Coccaro
Estudante de graduação na Universidade da Pensilvânia, estudando Filosofia, Política e Economia.
É interessado em desenvolvimento sustentável.
Deu no New York Times: “atletas olímpicos não deveriam nadar no esgoto.” Um soco no estômago, um tapa na cara. O descaso com o sistema hídrico no Rio de Janeiro, particularmente no que diz respeito aos dejetos que são diariamente jogados na Baía de Guanabara, é uma verruga na cara da cidade maravilhosa. Mas o artigo em questão fugiu do ponto principal. Choque e indignação na mídia a essa altura do campeonato podem levar a alguns pedidos em prol da saúde de atletas aqui e ali. A verdadeira lástima, no entanto, consiste no acesso limitado que muitos cariocas enfrentam em relação à água potável e uma rede de esgoto confiável.
Até pouco tempo atrás, o Rio Carioca, que dá seu nome aos habitantes da cidade, era mais um exemplo deste descaso, servindo de escoamento para lixo e esgoto. Em 2014, porém, sob a liderança de Silvana Gontijo, nasceu o projeto “O rio do Rio,” empenhado em recuperar este patrimônio ambiental e cultural. O objetivo do projeto, desde seu início, foi muito além de apenas limpar o rio. Ao contrário de outras iniciativas fracassadas, como a tentativa de limpar os efluentes da foz do Carioca na praia do Flamengo, Gontijo e seus colaboradores decidiram promover uma mudança de mentalidade da população em geral em relação aos recursos hídricos.
Com o apoio da Ooze Architects, escritório de arquitetura holandês especializado em projetos ligados à ecologia, e da Arcadis, empresa de infraestrutura internacional, sistemas de tratamento de esgoto e captação d’água foram implementados, avançando o objetivo de limpar o Rio Carioca completamente. Com a construção da infraestrutura necessária praticamente finalizada, os idealizadores da revitalização do Carioca se depararam com a tarefa de assegurar que o rio não voltasse a ser poluído pelas comunidades que o cercam.
Desde sua nascente no Parque Nacional da Tijuca, o rio tem potencial para atrair visitantes que se dirigem ao Cosme Velho e o Cristo Redentor. Assim sendo, moradores de comunidades próximas à nascente, como Cerro-Corá, Guararapes e Vila Cândido, tem a ganhar com o desenvolvimento de ecoturismo focado no rio e sua relação com a floresta da Tijuca.
Para garantir que futuras gerações continuem a apreciar a importância de preservar e zelar pela qualidade de recursos hídricos, Gontijo criou a Turma do Planeta, uma série de livros ilustrados que visa introduzir crianças à educação ambiental. Com uma série de jogos pedagógicos online que complementam suas versões impressas, os livros da Turma do Planeta fazem com que menores sintam maior respeito pela natureza e criem gosto em explorá-la.
Adicionalmente, a campanha de mudança cultural planeja inserir um novo modelo educacional nas escolas próximas ao rio, contratando 46 professores para o ensino fundamental e mais 44 para o ensino médio. Estes educandos terão a missão de unir disciplinas tradicionais com uma mensagem conservacionista, a fim de formar mais cidadãos cientes da importância de cuidar da frágil bacia hidrográfica carioca.