Por Diana Díaz-Soto
Diretora do Señal Colombia.
Coordena o projeto de comunicação cultural e infância para a área de comunicações do Ministério de Cultura da Colômbia.
Artigo publicado originalmente no site ComKids
Em uma oficina sobre recomendações de qualidade para conteúdos infantis que realizamos com um grupo de estudantes de animação 3D e design para a comunicação gráfica, insistimos na importância de se ter claro o “para quê?” e o “para quem?” de qualquer projeto educativo, ainda mais quando ele está dirigido ao público infantil. Um dos aspectos que reiteramos foi a importância de se ter a premissa clara, como um sol que ilumina todo o caminho do projeto, que nos indica o norte e enfatiza a pertinência de nosso produto ou conteúdo.
Alguma criança expressou que ela consumia, todos os dias, conteúdos que, segundo ela se atrevia a dizer, não tinham premissa ou propósito. Ela argumentava que eles não saíam daquela “fórmula” dos dois bonequinhos animados que lutavam até a morte enquanto o espectador morria de dar risada. Claro, interpelei, há conteúdos que não têm um propósito que vá mais além de encher de brincadeiras os tempos de ócio das audiências e de dinheiro os bolsos dos criadores, graças à monetização das visitas recorrentes e da publicidade.
Ainda que essa intenção possa ser legítima é também pertinente nos perguntarmos se cada conteúdo que se publica não pode ser uma oportunidade de se trazer à tona a qualidade tanto no conteúdo quanto na forma. Se é possível existir um compromisso mais profundo quanto a um propósito que vai além de simplesmente “matar o tempo”. São inquietações que têm a ver com a dimensão que os criadores dão a seus papeis de comunicadores sociais, ao impacto de seus conteúdos nas audiências, à possibilidade de gerar identificações culturais, emocionais e cotidianas, de abrir horizontes e de servir de espelho para todos.
Para criar conteúdos de qualidade que realmente aportem conhecimentos desde suas diferentes linguagens, plataformas e meios, fortalecendo a dimensão cultural dos cidadãos, é necessário investigar, conhecer os públicos, ver, pensar, criar, a partir da definição a respeito do “para quem” eles estão dirigidos – um nicho, uma comunidade, um grupo humano que se reconhece, que se pesquisa, que se indaga e se aprofunda – e a respeito do “para quê?” – um propósito claro que orienta a proposta, o processo e o produto.
Eu sou tão reiterativa com esse ato de perguntar sempre o “para quê?” de qualquer ideia, que eu mesma faço a piada, como se fosse uma locutora de rádio: “E agora tocaremos o sucesso ‘Para quê?’”. Antes de pôr uma ideia em movimento, nós precisamos ter claro como essa proposta pode chegar a ser inserida no catálogo de experiências dos cidadãos, precisamos saber o quanto ela pode ser pertinente e necessária e como pode ser viável e relevante para os públicos nos quais estamos pensando.
Daí vem a transcendência da pergunta “para quem?”. É fácil afirmar que o público é geral, que é para todo mundo, que é familiar, mas essa amplitude torna ambíguo o interlocutor e faz com que os criadores percam a possibilidade de falar a um grupo humano em concreto, com características e interesses similares. Direcionar um programa a um nicho de audiência nos permite tomar decisões específicas quanto à narrativa, à linguagem audiovisual, à estética, aos diálogos, aos conflitos, à configuração de valores, entre outros aspectos que permitem engajar as audiências a partir de sua identificação com histórias e personagens que lhe são próximas e com as quais estão relacionadas.
Não foram poucas as vezes nas quais fui testemunha – e também vivi – de que quando se tornam óbvias as perguntas sobre o “para quê?” e o “para quem?” de uma iniciativa os resultados se reduzem a assuntos estéticos e conseguem entreter, mas o conteúdo evapora, se torna efêmero. É assim como aquilo que acontece quando uma pessoa não sabe para onde quer ir, qualquer ônibus que ela tomar lhe servirá. Qualquer ideia é boa e, com segurança, o resultado pode ser algo sem transcendência.
GOSTARIA DE RECEBER LIVROS PARA INCENTIVAR MINHA FILHA DE 06 ANOS A GOSTAR DE LEITURAS.