Além do short

Por Marcus Tavares
Editor da revistapontocom
Publicado no Jornal O DIA

Em meio a tantas crises e problemas que o país passou nesta semana (e não são poucos), uma notícia me chamou bastante a atenção: a de que meninas de um tradicional colégio particular do Rio de Janeiro, localizado na Barra da Tijuca, resolveram protestar contra a direção. Motivo: a escola, segundo elas, que frequentam os anos finais do Ensino Fundamental, vem proibindo o uso de shorts e orientando a troca por calças ou casacos amarrados na cintura. As pernas de fora estariam ‘distraindo os meninos’. Elas não gostaram e decidiram protestar na última segunda-feira. Vestidas de shorts, é claro, espalharam pela escola cartazes com diversos dizeres. Entre eles: “Não preciso me dar ao respeito porque ele é meu por direito”. Bravo!

Alguém pode ser contra a atuação das meninas, digamos, superpoderosas? Em tempos em que se estimula e incentiva que crianças e jovens sejam autônomos, independentes, questionadores e co-participantes ativos do dia a dia da sociedade, a reivindicação não é apenas esperada, mas legítima e parte de um processo de amadurecimento e exercício da cidadania. Além do que, a trama em torno da história favorece o embate. Afinal, ela envolve elementos contundentes e contemporâneos: os direitos dos cidadãos; a discriminação (que elas dizem sofrer), e o viés machista (que as estudantes também identificam no discurso de alguns funcionários da instituição). Mais um bravo para as meninas.

Porém, com todo o respeito às alunas, aos responsáveis, aos funcionários, à escola, fico me perguntando o que se aprende com tal reivindicação. Do ponto de vista cidadão, não há dúvida. Uma lição primorosa. Do ponto de vista do gênero feminino, idem. Não há o que discutir. Os dizeres dos cartazes são um tapa na cara. Está claro e posto.

Mas quem contrapõe para as meninas – além da escola, é claro – o ponto de vista do bom senso? O ponto de vista do ambiente-escola? Da liturgia de um espaço? O ponto de vista dos limites? Não sou conservador, reacionário, quadrado ou seja lá que adjetivo você, leitor, queira me rotular. É apenas um posicionamento, uma reflexão, que deve fazer parte (ou deveria) da discussão. E não apenas entre as meninas, os funcionários e a escola. Cadê os pais? E os meninos, o que pensam? Gostaria de saber se este debate aconteceu e os desdobramentos.

Vivemos tempos em que os direitos individuais prevalecem, como nunca, sobre os deveres dos cidadãos. A defesa dos direitos individuais, além de ser legítima, é uma premissa. Mas, ao meu ver, os direitos caminham com os deveres. Se não estão lado a lado causam um certo desequilíbrio na convivência pacífica e solidária. No entendimento de si e do outro. A discussão vai muito além do simples uso do short. Que o short seja apenas um começo para uma boa reflexão.

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roberto maia
roberto maia
9 anos atrás

nada justifica tanta exposição do corpo. se a adolescente quer se revelar em sua semi nudez que o faça em outros lugares mais apropriados incluso sua própria casa onde certamente seus pais apreciarão seus shorts, bermudas, mini saias etc.
infelizmente se confunde liberdade com promiscuidade e não são, quer queiram ou não esse defensores da nudez, a mesma coisas

Poliana A
Poliana A
Responder para  roberto maia
9 anos atrás

Promiscuidade? No uso de um short por uma criança??? acho que essa palavra com certeza não se encaixa no contexto. É claro que o ambiente escolar é um local de respeito, mas de onde surgiu a ideia de que usar um short é falta de educação? Para mim é a penas se vestir como quiser, principalmente por serem crianças, e como se faz obvio não fazem isso por motivo de incitação sexual.
P.S: Os meninos que se controlem ora essa, que motivo mais idiota!!!

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