Por José Araripe Jr.
Cineasta e diretor da TVE Bahia
Um país que ama tanto o rádio e a TV pode receber de retorno desses veículos apenas entretenimento, sensacionalismo e publicidade, ou seria obrigação de todas as redes de telecomunicações – por serem concessões públicas – veicularem conteúdos educativos, de responsabilidade social e cidadã? Se a grande massa de audiência está nestas redes, como é possível imaginar que apenas a radiodifusão pública deve ter a missão de educar?
Esta é uma conta que não fecha. As dimensões continentais do Brasil, e sua imensa dependência da televisão como hábito, exige que a grande inteligência empresarial, jornalística, publicitária, artística que faz o sucesso da radiodifusão comercial, também se dedique a dar ao seu espectador – contribuintes que os mantêm, e mais que consumidores: cidadãos – o direito de assistir a bons conteúdos que auxiliem o processo de formação de nossas crianças em seus ambientes domésticos.
Se a fruição de televisão e de rádio significa para milhões de pessoas carentes de informação e conhecimento um momento único no dia a dia, de acesso à cultura, por que não considerar que além de uma escola forte é fundamental completar o ciclo educacional de estudantes e cidadãos com “intervalos comerciais” de cunho educativo e pedagógico?
Epa! correção neste penúltimo bloco: se a livre iniciativa fez da mídia um sustentáculo de lucro e comercialização, está na hora de devolver algo aos que lhe sustentam com olhos, corações e mentes abertas desde a infância. O grande e necessário pacto de todos segmentos da sociedade para potencializar a educação como agente transformador e essencial para a construção de uma pátria educada e educadora, inevitavelmente passa por esta tecnologia em que o Brasil é especialista: a ciência da comunicação publicitária. Apenas o esforço dos gestores e mestres, e os recursos do Estado, não serão suficientes para que no médio prazo possamos qualificar as novas gerações combatendo com Saber a baixaria dominante, entregando informação saudável que permita uma reação coletiva de desenvolvimento mental, social e ético.
Onda democrática
Os milhões investidos em pesquisas pelas redes, para identificar os estratos em suas faixas etárias e sociais, são meio caminho andado nesse nobre trabalho de criar conteúdos especializados e segmentados que possam oxigenar os breaks de programação: educativos e de utilidade pública, direcionados justamente para os públicos-alvo mais necessitados de complementação educacional.
Esse ferramental já existe, assim como existe da parte dos criadores e redatores das agências de publicidade brasileira uma imensa reserva de disponibilidade para inventar e inovar para além de produtos e de bens de consumo. Decerto que as mentes brilhantes das agências publicitárias almejam ardentemente contribuir com sua parte no pacto mais urgente desta nação.
Se a livre iniciativa fez da mídia um sustentáculo de lucro e comercialização, está na hora de devolver algo aos lhe sustentam com olhos, corações e mentes abertas desde a infância.
Feliz o dia em que todos juntos tenhamos a consciência de que toda e qualquer emissora de TV e rádio deve ser educadora, na óbvia constatação que merecemos mais qualidade – memória, cidadania, arte e educação – no que nos chega pelas ondas democráticas do ar.