Jornais locais de Florianópolis divulgaram, na última semana, a decisão tomada pela prefeitura de São José. Desde o ano passado, o município começou um levantamento para oferecer gratuitamente otoplastias, cirurgia plástica de correção em orelhas, para estudantes da rede municipal que têm problemas no desempenho escolar causado por agressões vindas de colegas, bullying, geradas pele chamada orelha de abano.
Em entrevista ao jornal Diário Catarinense, a prefeita afirma que a intenção é garantir o bem-estar das crianças e, desta forma, contribuir para no desenvolvimento escolar. “Conviver com diferentes tudo bem, mas, às vezes, é uma criança em uma escola de 500 alunos. Eu percebo a dor da mãe, o problema da criança”.
Para a doutora em Psicologia da Educação e coordenadora do programa de pós-graduação em Educação da Univali, Valéria Silva Ferreira, a melhor forma de a escola tratar o bullying é com o diálogo. E reforça que a decisão pela cirurgia deve ser tomada entre a família e não pelo poder público. “Temos que educar para mostrar que a diferença existe. A escola precisa trabalhar valores com as crianças, com as família”.
Ainda de acordo com o jornal Diário Catarinense, a mãe de um menino de 11 anos que passou por uma otoplastia custeada pela prefeitura de São José, Raquel Maria de Lima conta que o filho parou de sofrer com as implicâncias dos colegas de escola. Ela lembra que o garoto chegava chorando em casa e dizia que os amigos o provocavam. “Ele me diz que não faria de novo. Sofreu muito no pós operatório. Por um lado ele parou de sofrer na escola, mas, por outro, sofreu muito pela cirurgia”, diz Raquel.
A cirurgia pode trazer um resultado mais rápido mas além de ser pontual, trás ainda outras consequências. A criança sempre vai pensar que qualquer diferença que ela venha ter no corpo, que não se enquadre nos padrões de beleza (porque orelha de abano é um caso apenas estético!), é necessário que ela mude para que seja aceita, e nunca se aceite como realmente é, como um ser humano único que pode ou não se enquadrar nos modelos vigentes.
Ao invés de atuar pontualmente, o ideal seria aproveitar a idade de aprendizado e ensinar que as diferenças devem ser acolhidas e que são elas que determinam quem é cada um. Assim, será possível ainda levar essa bagagem para a vida adulta e formar uma sociedade mais acolhedora.
É melhor que todos levem a inclusão, do que alguns façam a cirurgia.