Nádia Rebouças é publicitária e formada em Sociologia pela Universidade de São Paulo. É a diretora da Rebouças & Associados. Criada em 1999, a empresa é fruto do trabalho de uma equipe que está há 15 no mercado, aprimorando cada vez mais o uso da comunicação como ferramenta estratégica.
Em entrevista ao programa Encontros com a Mídia, da Empresa Municipal de Multimeios da Prefeitura do Rio de Janeiro (MultiRio), Nádia destacou que as universidades deveriam repensar os currículos dos cursos de publicidade.
“Um jovem de 20 anos ainda não foi pai, ainda não viveu crises que só vivenciará daqui a alguns anos. Muitas vezes é este o jovem que está trabalhando dentro de uma agência. Sua única motivação é criar uma coisa engraçada, que tenha impacto e que renda algum prêmio. Ele só vai perceber, anos depois, a mensagem que criou e o seu impacto na sociedade”.
A revistapontocom transcreveu abaixo algumas das ideias e reflexões apresentadas pela publicitária. Confira:
– Propaganda e a origem econômica
A propaganda é uma linguagem que nasceu muito ligada ao modelo econômico, onde o lucro, acima de qualquer coisa, dava as ordens e fazia as regras. De certa maneira, fiz a minha vida profissional vivendo a publicidade e tentando, ao mesmo tempo, fazer uma leitura crítica deste meu trabalho. Na verdade, os profissionais de propaganda não têm muito tempo para pensar e não vejo deles qualquer tipo de preocupação em refletir sobre o que fazem. No início da minha profissão, trabalhei muito pouco com produtos dirigidos às crianças. Trabalhei com alguma coisa para bebês. Lembro de ter feito algo sobre alimentação, sobre sucrilhos. Quando somos jovens vivemos em um mundo próprio e acabamos não tendo ideia do que é o Brasil. A partir de um amadurecimento, você vai percebendo o absurdo de determinadas coisas que você produziu. Lembro-me do choque de ver o Programa da Xuxa. A apresentadora fazia uma referência ao café da manhã dos brasileiros, mostrando uma bandeja cheia de frutas, com uvas verdes e morangos. Olhava para aquilo e dizia: “Meu Deus!” Aquele programa estava chegando para todo o país. Para lugares que não consomem uvas. No Norte do Brasil, as pessoas conhecem frutas maravilhosas, mas não conhecem uvas.– A publicidade que pasteuriza
Na realidade, você começa a perceber que não existe ‘a’ televisão, ‘a’ propaganda, que não existe ‘o’ mundo. Existem, sim, vários mundos, vários públicos, várias realidades e que, de uma forma ou de outra, nossa TV pasteuriza o Brasil. Acho que só muito recentemente as pessoas começaram a descobrir e a mostrar este outro Brasil que a gente tem. O que ainda não acontece na propaganda. A cozinha que eu vou mostrar no comercial tem que ser a de última geração, porque é a cozinha que eu quero ter. O marido tem que ser o mais bonito porque é aquele que eu quero ter. O filho tem que ser bonitinho porque este é o filho que eu sonho um dia em ter. Ou seja, a publicidade trabalha o desejo das pessoas por meio de um modelo imposto. E o modelo que chega para a classe privilegiada é o modelo americano e o europeu que não têm nada a ver com a nossa diversidade e riqueza. A propaganda tende a pasteurizar, assim como a mídia em geral. Tende a querer achar o que é bonito e certo. Não vê o bonito na diversidade. É preciso ter um olhar sensível para ver que há outros tipos de beleza e estética. A propaganda ainda está muito longe desta reflexão. Está muito distante de refletir sobre essas pequenas atitudes, que podem ter impactos profundos na transformação de valores. Acho que quem dá mais poder ao publicitário é o próprio publicitário. Mas ele não se dá conta do poder que ele tem quando sua produção é veiculada na TV.– O estabelecimento de desejos e a construção do futuro
A publicidade cria valores e preconceitos. E estabelece, o que é mais incrível ainda, visão de futuro. Vivi, certa vez, uma experiência com um rapaz de 20 anos, negro, morador da Rocinha (favela localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro) e que sofre todos os preconceitos por ter tais características. Não importa o que tenha feito, ele sempre é o primeiro a ser pego pela polícia. Ele apareceu no escritório com a marca da ‘nike’ na cabeça. Eu perguntei: “Renato, você sabe o que você colocou na cabeça?” Ele disse: “Uma marca”. “Uma marca de quê?”, indaguei. Ele sequer sabia que era uma marca da ‘nike’. Este símbolo, uma espécie de sinal, é captado pelas gerações como algo que tem valor. A publicidade tem que ter consciência de suas ações. Na hora em que eu estou vendendo uma boneca, estou passando valores desta boneca para a criança que está assistindo ao comercial. No momento em que anuncio um brinquedo, estou vendendo valores. Muitas vezes eu me pergunto, por exemplo, o que a mídia e os nossos comerciais têm a ver com a gravidez na adolescência, um problema gravíssimo no Brasil. Na verdade, o comercial é um grande buraco em que se passam estilos de vida.– O papel dos pais
Acho que tanto os pais quanto os professores devem ver a TV, e tudo o que sai dela, não como um ‘ser’, mas como uma coisa que está sujeita a críticas e avaliações. Críticas que permitem eu dizer: “Isso eu acredito”. “Nisto, eu não acredito”. “Eu quero comprar isto”. “Eu não quero comprar isto”. É preciso ver os conteúdos como instrumentos que possibilitem a discussão de temas para a educação. De uma forma geral, acho que os programas de TV estão preocupados em trazer temas para pensar.– O papel das escolas e das universidades
Comunicação e a educação têm tudo a ver. Acredito que os professores deveriam estudar marketing e comunicação, pois, às vezes, os comerciais conseguem ser mais diretos e bem sucedidos do que os professores. Acredito que o espaço da educação é o espaço de se fazer comunicação. A gente só aprende fazer comunicação fazendo. Só conseguimos visualizar que podemos editar a fala de uma pessoa, se soubermos editar. Editando, você entende que é possível construir um jeito de entender as coisas que pode não ser a verdade. Isto simplesmente acontece porque você editou de certa maneira. É uma forma interessante de aprender a ler a mídia. Por outro lado, é preciso que as universidades também repensem os currículos das faculdades de publicidade. Um jovem de 20 anos ainda não foi pai, ainda não viveu crises que só vivenciará daqui a alguns anos. O problema é que muitas vezes é este mesmo jovem que está trabalhando dentro de uma agência. Sua única motivação é criar uma coisa engraçada, que tenha impacto e que renda algum prêmio. Ele só vai perceber, anos depois, a mensagem que ele criou e o seu impacto na sociedade. Hoje, vários ex-alunos vêm conversar comigo. Dizem que só agora eles entendem, quando seus filhos são vítimas de alguma brincadeira ou piada, aquilo que eu passava para eles.
CONCORDO COM O JORGE. NA VERDADE A JUVENTUDE DO NOSSO PAÍS NECESSITA DE MAIS DIALOGO NA FAMÍLIA
Quando, ao tentar difundir o uso do preservativo, a midia diz “FAÇA SEXO SEGURO, use camisinha” a mensagem principal que fica é de FAÇA SEXO, esse e outros deslises podem, ao contrário do que se espera, levar ao desejo de descobrir o sexo o que por sua vez leva a gravidez precoçe, nas telenovelas as cenas de sexo e suas preliminares servem para que ? poderiam ser sub-entendidas, as letras de algumas músicas prestam um deserviço a moral e aos bons costumes, essa última frase hoje soa como coisa tola, ultrapassada.
Quando, ao tentar difundir o uso do preservativo, a midia diz “FAÇA SEXO SEGURO
Gostei muto, concordo.