Por Marcus Tavares
Um programa que abre canais e possibilidades para que o estudante do Ensino Médio seja responsável pelo seu aprendizado, apto a desenvolver projetos com sucesso, acreditando na capacidade de realização. Isso tudo permeado pela descoberta e análise crítica dos meios de comunicação, como funcionam e impactam o dia a dia das pessoas. Assim pode ser descrito o objetivo do projeto Idade Mídia, proposta de trabalho que é desenvolvida, desde 2002, no Colégio Bandeirantes, em São Paulo.
Coordenado pelos professores Marina Consolmagno e Alexandre Sayad, o Idade Mídia é um curso optativo oferecido pela escola aos alunos do segundo ano do Ensino Médio, que tem o objetivo de promover o entendimento dos meios de comunicação e propor que os estudantes sejam produtores da informação, do conteúdo que desejam. Entre algumas realizações, destacam-se: a publicação de um blog, revista impressa lançada sempre no final do ano e a produção de notas para o site do jornalista Gilberto Dimenstein, colunista da Folha de S. Paulo.
“É um curso que tem certas dinâmicas e conteúdos que sempre se repetem, por serem pré-requisitos para a realização dos objetivos propostos, mas também é dinâmico, pois a cada ano procuramos atender, à medida do possível, expectativas e interesses dos alunos. Em alguns anos, demos mais ênfase para a fotografia. Em outros, a literatura foi um interesse dominante da turma. Tentamos valorizar e trabalhar com o perfil da cada turma”, esclarece Marina.
Segundo Alexandre, não se trata só de uma educação para/pelos/com os meios, mas sobretudo da produção da própria comunicação e intervenção do estudante no chamado ecossistema comunicativo da escola. “Essa é uma maneira de fazê-lo sentir-se, como protagonista, parte da escola e da educação. De apropriar-se das questões da escola, do mundo, da vida”, completa Alexandre, jornalista, que, hoje, também acumula o cargo de secretário executivo da Rede de Comunicação Educação e Participação (Rede CEP), em entrevista concedida para a jornalista Cristiane Parente.
Para o professor, numa época em que os meios de comunicação estão cada vez mais acessíveis e difundidos, os projetos de mídia em sala de aula são uma maneira, dentre tantas que existem, de realizar uma educação que desperte o interesse do jovem e faça sentido. “É parte da realidade da vida dos estudantes. Por que não trazê-la para dentro do ambiente de aprendizado? É uma chance de ouro para reposicionar a escola como espaço importante de aprendizagem e ensino e assim torná-la relevante ao estudante. Isso se traduz, em médio prazo, na redução da evasão escolar”, destaca.
E não só isso. Nestes dez anos, o diálogo entre educação e comunicação tem proporcionado aos ex- estudantes um caminho de boas descobertas. “Não tenho notícia de um ex-aluno que não tenha realizado algum projeto pessoal ou profissional do qual não se orgulhe. Todos construíram com autonomia o que, nas suas percepções, consideravam sucesso. Nisso eu incluo os 30% de estudantes da periferia da cidade [que fazem jus a bolsa de estudo] e os 70% que tiveram a sorte de poder estudar sem bolsa na escola”.
Raíra Venturieri, ex-aluna do Colégio Bandeirantes, atualmente na graduação do curso de Jornalismo, sabe exatamente o valor do Idade Mídia. Segundo ela, que participou do projeto em 2005 e mais tarde foi monitora, a maturidade, responsabilidade e análise crítica, tão necessárias para a vida, foram conquistas potencializadas com as aulas. “Vivenciamos muitas experiências, trocas e reflexões”, conta.
Para Alexandre, a fala de Raíra reitera a importância do projeto, a importância que o conhecimento dos meios de comunicação é essencial na vida, seja qual for a carreira que o estudante de Ensino Médio pretenda seguir. “Mais do que nunca, é preciso saber lidar com a mídia, pois somos todos produtores de comunicação. Dez anos foram suficientes para criar não só um projeto que envolve comunicação, mas um modelo de educação que procura dialogar com o jovem e as grandes questões que cercam o aprendizado hoje”, destaca Alexandre.
Qual é o segredo do projeto Idade Mídia? De acordo com a professora Marina Consolmagno, ele está no desenvolvimento e incentivo da capacidade de expressão, da escrita, do relacionamento, da construção de redes e da ousadia de tentar coisas novas e criativas.
Na avaliação de Marina e Alexandre, implantar, nos dias de hoje, um projeto de mídia nas escolas é menos complexo. A realidade de dez anos atrás era outra. “Muitos professores não entendiam que estávamos diante de uma era em que a informação seria commodity, em que o aluno muito possivelmente poderia estar mais bem informado que o professor sobre determinado assunto. Fui muitas vezes mal compreendido ou mesmo tratado como um lunático quando já falava sobre esse tema. Hoje esse discurso é praxe: há mais elementos no cotidiano que o fazem ser mais facilmente entendido”, afirma Alexandre.
Neste sentido, o Idade Mídia pode dar certo em qualquer escola. “Depende apenas da autonomia que o projeto tenha”, avisam os professores.
Para eles, são fundamentais a liberdade e a confiança. Ao longo dos dez anos, Marina e Alexandre contam que sempre tiveram independência para que os estudantes sempre fossem os condutores do processo e do produto. Afirmam que a direção da escola em nenhum momento fez exigências ou tentou impedir alguma prática. “Essa relação de confiança é fundamental e, na minha visão, possível de ser construída em outros locais. Creio que o Idade Mídia possa inspirar outros projetos que se baseiem em seus princípios e objetivos, na sua essência. Assim ele se torna flexível a vários ambientes, não precisa ser replicado exatamente igual”, explica Alexandre.
Em março de 2012, Alexandre lançou o livro Idade Mídia – a comunicação reinventada na escola (Aleph Editora), onde relata toda experiência do projeto no Colégio Bandeirantes, um caminho, um processo, os erros e os acertos. A publicação revela de que maneira o Idade Mídia foi entendido e sensibilizou cada um dos alunos, fazendo diferença na vida deles.
Na concepção dos coordenadores, o Idade Mídia mostra que quando a educação coloca o jovem no centro do aprendizado e produtor do seu próprio conhecimento, a escola se reinventa. “Nunca ninguém perguntou o que o estudante quer viver na escola, o que ele deseja aprender, qual a escola que ele sonha. As políticas públicas em educação são sempre baseadas no ego dos educadores e gestores ou nas demandas da economia, mas jamais tem o estudante no centro. O livro detalha partes do processo que servem de ruptura de limites e ampliação de repertório para os estudantes. É importante que qualquer projeto de mídia apresente a possibilidade de se sonhar com o novo e de também criar estratégias para transformar esse sonho em realidade”, conta Alexandre.
De acordo com a professora Marina, o Idade Mídia ouve o aluno e cria oportunidades de intensa participação. Neste sentido, os jovens são incentivados a tomar decisões, negociando o tempo todo. Mas, ao mesmo tempo, afirma a professora, os educadores exercem o seu papel de orientadores, apontando caminhos, propondo discussões, estabelecendo metas e prazos, “afinando conceitos”, convocando os alunos a assumirem tarefas e responsabilidades.
Saiba mais
– Site do programa Idade Mídia
– Entrevista Jornal e Educação
– Blog do livro Idade Mídia