Somar, dividir e subtrair: a importância da educação financeira

Por Marcus Tavares

A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, divulgada há duas semanas pela Federação do Comércio de São Paulo, revela que os jovens são os consumidores que mais têm dívidas. A taxa é de 60%, na faixa etária dos 18 aos 34 anos. Realidade que não é privilégio apenas da capital paulista. Segundo especialistas, o acesso facilitado aos cartões de crédito e a inexistência de uma educação financeira são os fatores que explicam a estatística.

Pelo menos, é o que garante a americana Neale S. Godfrey, que estuda o assunto desde 1989. Autora do livro Dinheiro não dá em árvore, Neale, em entrevista ao jornal Valor Econômico, enfatiza que é preciso conversar com as crianças sobre o valor do dinheiro, desenvolvendo, desde cedo, um senso crítico: “A televisão americana tem anúncios dirigidos a crianças desde os três anos de idade. Os adolescentes recebem mensagens publicitárias através de todo tipo de veículo. Sem uma educação para a responsabilidade financeira, as crianças crescem confundido valor pessoal com valor medido pelo acúmulo patrimonial”, destaca.

No Brasil, a história se repete. Mídia, consumo e falta de limites. Que o diga Cássia D’Aquino, educadora com especialização em educação infantil e autora de livros e artigos sobre a relação entre crianças, jovens e dinheiro.

Desde 1996, Cássia criou um programa de educação financeira, que tem o objetivo de constituir adolescentes capazes de poupar e de planejar gastos.  “A educação financeira não deve ser confundida com o ensino de técnicas ou macetes de bem administrar dinheiro. Tampouco deve funcionar como um manual de regrinhas moralistas fáceis. O objetivo da educação financeira deve ser o de criar uma mentalidade adequada e saudável em relação ao dinheiro. Educação financeira exige uma perspectiva de longo prazo, muito treino e persistência”, explica Cássia, em seu site www.educacaofinanceira.com.br

Seja em casa ou nas escolas, a educação financeira é, na maioria das vezes, deixada de lado. Na prática, não consta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), do Ministério da Educação, embora possa ser trabalhada como pano de fundo ao se discutir os temas transversais trabalho e consumo.

Para o antropólogo Geraldo Romanelli, professor da Universidade de São Paulo, um programa de orientação financeira que dê à criança segurança para lidar com dinheiro é cada vez mais necessário e deve começar cedo. “Nunca uma geração teve tanto contato com dinheiro como esta”. Há quinze anos, diz o professor em entrevista à revista Veja, os pais só começavam a se preocupar com isso quando os filhos chegavam à adolescência. Hoje, uma criança de 10 anos, oito anos ou até com menos idade já tem noções sobre o preço das mercadorias, o valor do dinheiro e a importância de fazer poupança.

Neste cenário, os adultos, sejam eles pais ou professores, devem se assumir como adultos na relação com a criança.  “Se por um lado é preciso ouvir mais as crianças também é necessário não sair de cena”,  avisa a professora Rita Ribes, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), no programa de TV Encontros com a Mídia, uma produção da MultiRio.

Segundo Rita, é preciso ser um adulto que  formule questões, se posicione e diga o que gosta e o que não gosta. “Muitas vezes o adulto se recusa a ocupar este lugar porque ele é impedido pelo mundo do consumo. Se ele passa a normatizar, a dizer o que pode ou não pode, ele é o chato. A figura do professor e dos pais nas produções midiáticas muitas vezes é ridicularizada, diminuída, estereotipada. No contraponto, temos uma criança super poderosa, mas, ao mesmo tempo, completamente abandonada. A criança se torna autoridade e manda em tudo, mas não tem ao seu lado alguém para formular questões”, destaca.

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