Regras de etiqueta chegam à internet

Matéria do jornal The New York Times diz que os jovens se cansaram da ironia e do sarcasmo on-line. Será? Leia e opine.

Por Alex Williams, do The New York Times

Uma nova geração de gurus da etiqueta, blogueiros de boas maneiras e autoinvestidos árbitros do YouTube está chegando para fazer da delicadeza à moda antiga algo relevante para os mais jovens. Seu objetivo aparente: ajudar a geração Y a navegar por campos minados da era tecnológica, como convites do Paperless Post, casamentos homossexuais e namoro on-line – sem falar no contato direto entre as pessoas quando elas se encontram off-line. A área de aconselhamento social que mais cresce na internet – e que já motivou não só vídeos, mas também sites, blogs e livros – foi batizada de “netiqueta”. Há vídeos no YouTube sobre usar emoticons em e-mails profissionais, ser discreto ao postar no mural do Facebook alheio, limitar as fotos de bebês no Instagram, retuitar excessivas mensagens no Twitter e fazer malabarismos com múltiplos chats simultâneos.

Os jovens “estão ficando cansados da ironia, da grosseria e do sarcasmo que são tão prevalentes nas suas vidas on-line”, disse Jane Pratt, editora-chefe do site feminino xoJane, onde textos sobre etiqueta são muito lidos. “A volta da etiqueta é em parte uma resposta à dureza das interações que as pessoas estão tendo na esfera digital.” “Ser legal é muito chique atualmente”, acrescentou ela.

Quando Daniel Post Senning, trineto de Emily Post, estava trabalhando na 18a edição do “Emily’s Post Etiquette” [A etiqueta de Emily Post], ele achou impossível abordar a tecnologia em um só capítulo. Em vez disso, dedicou um livro inteiro ao assunto: “Emily Post’s Manners in a Digital World: Living Well Online” [As maneiras de Emily Post em um mundo digital: vivendo bem on-line], que está sendo lançado também no formato digital. O livro aborda questões sobre como anunciar – ou não – uma doença grave pelo Facebook (sim, diz Post Senning, mas atualizações devem ser restritas a amigos íntimos e familiares).

Até os novos gurus que se colocam como a encarnação das civilidades de antigamente se sentem obrigados a encarar os dilemas do século 21. Charles MacPherson, diretor de uma escola de mordomos no Canadá, lança neste mês o livro “The Butler Speaks: A Guide to Proper Etiquette, Stylish Entertaining and the Art of Good Housekeeping” [Fala o mordomo: um guia para a etiqueta adequada, o entretenimento com estilo e a arte da boa manutenção doméstica], que aborda não só rituais e o jeito de servir caviar. O livro questiona, por exemplo, se a pessoa deve manter o celular sobre a mesa durante um jantar festivo caso seu filho de quatro anos esteja em casa doente, com uma babá.

“Nunca é certo deixar o celular sobre a mesa”, diz MacPherson. “Mantenha seu celular no vibratório e no seu bolso ou sobre o colo. Caso ele toque, peça licença da mesa -não explique por que, só diga um simples ‘com licença’- e saia da sala de jantar antes de atender.”

Em alguns círculos, as boas maneiras à moda antiga, como os discos de vinil, o bourbon “single-barrel” e os chapéus de feltro, são relíquias da década de 1950, prontas para serem recuperadas por jovens formadores de tendências, segundo Brett McKay, criador do blog de estilo masculino “Art of Manliness”. O site tem posts populares de etiqueta com exemplos tirados das vidas de George Washington e Theodore Roosevelt, por exemplo.

“Há essa ideia na sociologia de que cada geração se rebela contra seus pais e fica amiga da geração dos avós”, disse McKay. “Os ‘baby boomers’ eram a do: ‘Deixa rolar, seja quem você for’. A geração dos avós era mais formal, e as pessoas querem incorporar alguns desses valores.”

As moças demonstram um renovado interesse pelas boas maneiras, segundo Grace Bonney, criadora do blog de decoração Design Sponge, que acaba de ganhar uma coluna semanal de etiqueta. Os textos de etiqueta, que trazem assuntos como “o certo e o errado nas redes sociais”, atraem cinco vezes mais comentários e “curtidas” no Facebook do que outros posts, segundo ela.

“Acho que as pessoas estão começando a ver que pode ser recompensador dedicar tempo a qualquer esforço que faça os outros se sentirem mais bem-vindos na sua casa, seja com uma ótima refeição, aprendendo a arranjar flores ou apenas a etiqueta geral para ser um bom anfitrião”, disse ela.

Resta ver se tanto interesse sinalizará uma mudança real nos comportamentos. Ter boas maneiras, afinal, dá trabalho. “Não lutamos para ter boas intenções”, disse Nathan Tan, autor de “Forgetful Gentleman” [Cavalheiro esquecido], um livro de etiqueta que sairá em maio. “Lutamos para converter nossas boas intenções em ações.

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