Menina de apenas três anos acordou no meio da madrugada para brincar com o computador. Com poucos cliques, ela foi capaz de abrir o navegador Internet Explorer e entrar no site Trade Me. Pipi Quinland entrou facilmente no site de leilões, pois a senha de sua mãe estava armazenada. Mais alguns cliques, ela comprou uma escavadeira de 1,5 tonelada, por cerca de R$ 25 mil, que estava anunciada na home page do Trade Me. O fato aconteceu na semana passada, em Stanmore Bay, ao norte de Auckland, capital da Nova Zelândia. A mãe ligou para empresa se desculpando.
Para muitos, a história da pequena Pipi pode ser inusitada e episódica. Ledo engano. É cada vez mais comum as crianças terem acesso à web e o mais preocupante: sem que seus pais tomem qualquer conhecimento do que fazem quando estão online.
O assunto não é de hoje. Pesquisa divulgada em 2004, por Ann Katrin Agebäck, chefe da divisão do Conselho de Violência na Mídia do Ministério da Cultura da Suécia, revelou que 67% das crianças e jovens, dos 9 aos 16 anos, de cinco países europeus, navegam na internet sem nenhum acompanhamento dos responsáveis. O único controle exercido pelos pais está relacionado ao tempo gasto com a atividade.
O levantamento mostrou ainda que 8% dos entrevistados visitam sites com conteúdos pornográficos e que compram pela web. Perguntados sobre o uso que seus filhos faziam da internet, os responsáveis nem se quer cogitaram as duas hipóteses, assim como a troca de mensagens em salas de bate-papo. A pesquisa destacou que mais de 60% do público infanto-juvenil faz uso das salas, nas quais adotavam nomes, idades, aparências, sexos e personalidades diferentes.
Dos entrevistados, 20% afirmaram que já receberam mais de quatro comentários sexuais indesejados. E 14% informaram que já tinham se encontrado com pessoas que conheceram nos chats.
Acesse a comunidade da revistapontocom no Orkut e participe do debate:
É possível controlar a navegação de crianças e jovens na web? O que podemos fazer?
De 2004 para cá, a supervisão dos pais ainda deixa a desejar, enquanto que, por exemplo, os números de pedofilia na internet só crescem. De acordo com o secretário-geral da União Internacional de Telecomunicações (UIT), órgão ligado à Organização das Nações Unidas (ONU), Hamadoun Touré, uma em cada cinco crianças que navegam pela internet é alvo de pedófilos a cada ano.
Empresas, escolas e governos vêm desenvolvendo uma série de ações com o objetivo de ensinar as crianças a navegarem de forma segura, chamando, é claro, a participação efetiva dos responsáveis.
No início deste mês, instituições da sociedade civil se uniram para lançar o segundo volume do Guia de Navegação para o Uso Responsável da Internet. Com conteúdo elaborado por organizações não-governamentais, como o Comitê de Democratização da Informática (CDI), profissionais liberais e a iniciativa privada, o manual propõe mobilizar educadores, pais e alunos pela construção de relações e conteúdos saudáveis na web. Entre os temas abordados estão as diferenças entre gerações, a segurança na internet e formas de intervenção para o bom uso da rede.
Confira o link do guia.